Aprendendo sobre sustentabilidade

As grandes empresas do mundo são hoje responsáveis por quase todo o mo­vimento da economia, pela influência de políticas públicas e, de acordo com algu­mas correntes, até pelo direcionamento dos objetivos do planeta. Isso não é tão explícito e pode parecer um pouco de teoria da conspiração. Muitos grupos po­líticos e sociais colocam estas empresas como vilãs de inúmeros processos e já chegaram a queimar logotipos em rede nacional e internacional.

Algumas ONGs têm acompanhado passo a passo as ações de sustentabilida­de destas multinacionais e mostram que estas gigantescas corporações vão de país em país minerando, explorando florestas, mão de obra mais barata, perfurando e deixando um rastro de resíduos químicos e morais. Estas organizações, que defen­dem a natureza, e as pessoas fazem agora um barulho capilar nas redes sociais, com vídeos, filmes, fotos e superproduções para chamar a atenção do consumidor para que boicote o produto destas empre­sas insustentáveis.

O artigo pode parecer uma apologia a um sistema já quase falido, no qual o modelo de governo é mais forte do que as empresas, porém estas companhias multiterritoriais estão acreditando no mo­vimento da sustentabilidade e inserindo efetivamente na sua estratégia de negócio. Seja por amor ou pela dor, as empresas vêm estudando os vários impactos sociais e ambientais nos seus negócios e proces­sos. Um dos mais comentados e pesquisa­dos são as mudanças climáticas.

Imagine o quanto estas mudanças afe­tam a agricultura e todas as empresas que dependem do cultivo da terra para produ­zir cereais matinais, sorvetes, enlatados e comida congelada. Se analisarmos outro setor da economia, como o turismo, o problema pode ir se agravando, pois este setor depende de uma regularidade maior das temperaturas, chuvas e nevascas para poder vender os seus serviços.

E quando falamos de água, base da vida humana, o tema fica mais apertado ainda. Uma reportagem do New York Ti­mes de fevereiro de 2014 mostra que a Coca-Cola acabou perdendo um alvará de licença para operar na Índia devido a uma grave escassez de água naquele país, em 2004. Após anos de crescentes prejuízos no balanço da organização, à medida que as secas estão interferindo no seu modus operandi de fazer a bebida mais conhecida no mundo, a empresa começa a entender que a mudança climática é uma força que pode realmente afetar os negócios.

O Banco Mundial coloca o aquecimen­to global como o principal fator no cresci­mento das taxas de pobreza no mundo e na redução do PIB das nações em desen­volvimento. Na Tailândia, quatro fábricas da Nike, em 2008, pararam de funcionar devido às inundações, segundo consta a mesma reportagem do jornal.

Tento imaginar cada empreendedor que também está sendo afetado com todo este processo. Principalmente aqueles que estão inseridos em alguma destas grandes cadeias de valor, seja como fornecedor di­reto ou indireto de uma grande empresa como esta, como distribuidor, consultor ou outra função que dependa da sobrevi­vência e do bom movimento da economia ligada a esta cadeia produtiva.

Esta visão de interdependência, e não mais uma visão linear, é o ponto chave a ser desenvolvido. Uma visão sistêmica no qual um movimento de uma questão crí­tica ambiental, por exemplo, pode afetar uma grande empresa que concomitante­mente afetará outras pequenas e médias.

Não é um efeito cascata, pois enxergo isto não em duas, mas sim em três dimen­sões. Como coloquei no início, existem muitas pessoas, organizações, empreen­dedores que estão ligadas, coligadas ou simplesmente orbitando numa multina­cional. Estas grandes empresas já estão entendendo este movimento da visão sistêmica atrelado às questões ambientais e a interdependência de outros fatores e organismos para a sua sobrevivência. Será que nós, empreendedores, também não temos que aprender? E talvez aprender com os erros destas grandes empresas? Vamos, empreendedores, aprender, refle­tir e atuar!

Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor, professor da ESPM e diretor-presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps).

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