Como a matemática pode salvar o Brasil

A carência de mão-de-obra qualificada é o principal entrave ao desenvolvimento do setor de tecnologia no Brasil. Atualmente sobram vagas nas empresas e a concorrência por profissionais qualificados é cada vez maior. Esse cenário decorre do número insuficiente de profissionais formados a cada ano, influenciado pela alta taxa de evasão nos cursos superiores e técnicos, e da defasagem curricular dos cursos, que não acompanha a evolução rápida do desenvolvimento tecnológico.

A 6ª edição do Índice Brasscom de Convergência Digital (IBCD), divulgada em 2012 pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), estima um déficit de 45 mil profissionais na área de TI no Brasil, ao passo que a taxa de evasão dos cursos de educação superior em tecnologia é de 87%. Além disso, o estudo mostra que o número de ingressantes em faculdades da área de Ciências Exatas no Brasil é de 11%. Na China, esse índice é de 39%. Isso faz com que o déficit por profissionais cresça a cada ano. Estima-se que no Brasil seria necessário formar no mínimo 20 mil engenheiros a mais por ano. Atualmente são formados 40 mil ao ano, enquanto que a Rússia, Índia e China formam, respectivamente, 190 mil, 220 mil e 690 mil profissionais.

Na raiz do problema está a má formação dos estudantes brasileiros em ciências exatas, desde os anos iniciais. Isso faz com que um número insuficiente de estudantes tenha interesse pela área e, mais do que isso, sinta-se preparado para frequentar cursos que exigem um alto desempenho em raciocínio lógico, física e matemática.

No último mês de agosto, um alento para o Brasil: Artur Ávila se tornou o primeiro brasileiro premiado com a Medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática. O carioca de 35 anos é pesquisador do Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada) e do instituto francês Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS). Embora seja um exemplo isolado, o caso de Artur deveria ser enaltecido e divulgado amplamente já que um país que deseja se destacar pela inovação e pelo conhecimento não pode ter como ídolos apenas modelos, jogadores de futebol e cantores.

O país poderia aproveitar o momento eleitoral e o caso bem sucedido desse pesquisador para repensar o investimento público em educação, especialmente a educação fundamental, a valorização dos educadores, e planejar um plano de desenvolvimento para o Brasil. Para que esse projeto seja bem-sucedido é inevitável que as crianças e jovens tenham uma base mais sólida em ciências exatas e que o país forme mais engenheiros, cientistas da computação, físicos e matemáticos, reduzindo a carência por tais profissionais e impulsionando a indústria nacional.

Com informações de:

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-falta-de-engenheiros-imp-,840931

http://aceite3.lecom.com.br/brasscom/brasscom/upload/noticia/1354210331ibcd_2012.pdf

Gabriel Sant’Ana Palma Santos é secretário executivo da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) e coordenador da Incubadora MIDI Tecnológico, em Florianópolis. Cursa doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento na UFSC, possui mestrado em Direito e Relações Internacionais (UFSC) e graduação em Direito (UFSC) e em Relações Internacionais (Univali).

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