Digitalize para não ser deletado

“Every business is a digital business” é um bordão que vem sendo utilizado por consultores e empresas de TI para convencer seus clientes a planejar a digitalização de seus negócios. Mas são poucas as empresas que se sensibilizam a desenhar estratégias ou um plano para trilhar esse novo caminho, que já considero inevitável.

Para começar a discutir o assunto, sugiro pensarmos na seguinte questão: o que significa digitalizar um negócio? Tornando as coisas simples, existem hoje quatro tendências que são inevitáveis: cloud, analytics, social e mobile.

Digitalizar um negócio é entender que essas tendências cedo ou tarde afetarão, irreversivelmente, o seu ou qualquer tipo de negócio. Todos vão para a web (de alguma forma), terão dados na nuvem, utilizarão mobilidade, dependerão da análise de grandes volumes de dados não estruturados (o Big Data, que está por trás da tendência de Analytics) e de alguma forma deverão permitir o compartilhamento de informações entre seus clientes (efeito social).

Para citar alguns exemplos óbvios: os bancos já se digitalizaram (com o internet banking), o e-commerce tem dado saltos (revolucionando o varejo), agências de turismo online também estão em alta, além de todos os tipos de delivery (de comida aos ingressos de cinema), processos judiciais, e por aí vai. Mas será que todo tipo de negócio será um dia digitalizado? A resposta é sim e vou tentar explicar as razões abaixo, com alguns conceitos e exemplos baseados na utilização de quatro tendências.

Vamos começar citando exemplos simples que estão acontecendo a todo momento, e que não percebemos:

– Os smartglasses (óculos com micro-telas para acesso remoto de informações) estão começando a revolucionar vários segmentos de negócios. Um cirurgião pode acessar continuamente os sinais vitais do paciente em seu smartglass, sem tirar a atenção do campo cirúrgico. Um engenheiro trabalhando na manutenção de um equipamento complexo pode acessar dados de diagramas elétricos, quadros sinóticos, instruções etc., enquanto faz seu serviço (e ele pode estar fazendo isso numa linha de transmissão remota);

– A Etihad Airlines, companhia aérea nacional dos Emirados Árabes Unidos, está conectando os milhares de sensores de seus aviões a programas de computador que remotamente irão monitorar consumo de combustível, programar manutenções requeridas ou antecipar problemas que poderiam causar um desastre;

– Os carros driverless, que não precisam de motoristas na direção e funcionam a partir de sensores e softwares, já utilizados pelo Google, prometem revolucionar as indústrias de logística, transportes, agricultura, mineração, entre outras;

– Drones estarão legalmente voando no espaço aéreo americano, para diversas finalidades, a partir de 2015;

– O autoatendimento no check in e despacho de bagagens está revolucionando a indústria de transportes aéreos. Várias cadeias de supermercado americanas já estão utilizando PDVs de autoatendimento.

Pense em um negócio e imagine como a conexão à Internet poderia facilitar a produtividade para o cliente ou para quem vende, ou presta um serviço. A aplicação é praticamente ilimitada. Um médico pode fazer um diagnóstico a distância, ou pode operar um robô para fazer uma cirurgia remota. Turistas podem explorar previamente seu destino, planejar sua viagem, fazer reservas (hotéis, aluguel de carros, passagens aéreas, tours de museus, tickets de teatro, etc.) e pagar tudo pelo cartão de crédito. Enfim, o céu é o limite.

Nesse novo mundo, a informação na ponta dos dedos, impulsionada pelo BYOD (Bring Your Own Device), colocará qualquer negócio ao alcance de qualquer cliente e a solução de qualquer problema em qualquer lugar e a qualquer tempo. Porém, como tudo nessa vida, a mobilidade associada ao BYOD, trará também um risco inerente à segurança de dados das empresas. O “S” de segurança será a quinta tendência por trás das quatro já citadas no início dessa discussão (cloud, analytics, social e mobile).

Será preciso repensar job descriptions, avaliar os riscos do acesso mobile aos sistemas de back end e planejar rotinas para anular esses riscos (ou pelos menos gerenciá-los). Ou seja, junto com as facilidades virão ônus, que vão demandar a expertise de consultores de TI para planejar, implantar as soluções e gerenciar os problemas decorrentes.

A digitalização dos negócios é uma revolução, que requer entendimento profundo dos processos, das cadeias de suprimento e dos sistemas, tudo combinado com a tecnologia embarcada, software e hardware. Como sempre, para simplificar o front officeinevitavelmente haverá complexidade crescente da infraestrutura e das soluções de TI, demandando cada vez mais profissionais altamente especializados.

Bem vindo à nova economia. Um mundo muito mais simples de usar, mas extremamente complexo para se operar.

*Miguel Saldivar é CEO da Softtek no Brasil, fundadora da indústria nearshore e fornecedora global líder no mercado de TI dedicada a maximizar o valor das aplicações

 

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