Não foram só os funcionários do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers que acabaram demitidos. Aqui no Brasil, já teve gente que perdeu o emprego. A crise financeira que começou no mercado imobiliário dos Estados Unidos está se espalhando pelo mundo. E, nos jornais, há quem faça previsões de queda nas contratações das empresas, por conta da escassez de recursos.
Nesse cenário, o primeiro conselho que vem à mente dos profissionais é: quem tem emprego que se segure como puder! Que não arrisque sua cabeça, que faça movimentos leves, nada brusco, porque um passo em falso pode significar o fim de uma carreira.
O pensamento está certo? Em partes. Para o diretor da Robert Half, Fernando Mantovani, a crise deve ser vista como uma oportunidade para crescer profissionalmente e se destacar não somente na sua empresa, como também no mercado. "Quanto maior o risco, maior o retorno. Na crise, os profissionais correm riscos, mas quem encontrar a solução poderá ser reconhecido lá na frente".
Tenha cautela, mas se arrisque
A idéia central é: seja ousado, criativo e corajoso. "Obviamente, o destaque e a exposição podem levar o profissional a se destacar tanto para o lado positivo quanto para o negativo", explica o sócio da empresa de recrutamento MindSearch, Alan Grange.
"O que temos que ter em mente é que este é um risco inerente ao crescimento profissional. O ponto de atenção é que, em momentos de crise, as estratégias a serem seguidas devem ser avaliadas com um cuidado ainda maior", acrescenta ele.
Na opinião de Grange, profissionais diferenciados acabam se destacando muito mais em momentos de crise, por trazerem idéias e soluções inovadoras para as empresas. "Nessas épocas, geralmente há cortes de despesas e reduções orçamentárias e aqueles que agem de forma diferenciada conseguem maior exposição, melhores resultados, e, portanto, maior destaque dentro da empresa".
Participe da reinvenção de sua empresa
Mantovani conta que, caso as empresas brasileiras sejam afetadas, para responder à crise, poderão ter que mudar a forma de atuar, desenvolver novos produtos e serviços, redirecionar objetivos estratégicos, reinventar processos. "Quem participar de tudo isso, participar desse momento de reinvenção, e sair da crise fortalecido, ou do mesmo tamanho que antes, será reconhecido lá na frente", revela.
E a receita dele para se dar bem em um momento delicado é "sair da caixa, pensar diferente e experimentar". É também uma chance única de mudar processos que antes eram imutáveis. "As pessoas acreditam que em time que está ganhando não se mexe, por isso muitas empresas são resistentes às mudanças. Nas horas de crise, então, podemos fazer coisas inimagináveis", diz Mantovani.
Tenha cautela e atenção redobrada, mas não cultive o medo de arriscar. "O quadro é mais delicado, por isso os resultados podem atingir os extremos. Ou serem muito bons ou muito ruins. Mas o fato é que alguém precisa fazer alguma coisa. É como um paciente que está precisando de uma operação de risco. O médico pode tanto salvá-lo quanto matá-lo. Na crise, temos que ser mais imediatistas, sem esquecer de olhar para o médio e o longo prazo", afirma o diretor da Robert Half.
Como agir
Veja as dicas dos especialistas sobre como agir frente à crise financeira:
* "Ouse e tenha coragem para enfrentar os problemas. Busque alternativas para ser reconhecido lá na frente. Não se desespere, se mantenha focado e ajude a empresa a se reerguer. Futuramente, não só a empresa ficará agradecida, como o mercado irá reconhecê-lo", aconselha Mantovani.
* "As recomendações não vão além do que mostra a própria história nos tempos de crise. A atenção aos movimentos de mercado tem que ser multiplicada e a cautela tem que ser dobrada. Mas lembre-se que o que conta realmente nesses casos é o esforço para manter a empresa e o negócio fora do redemoinho da crise. Muitas vezes, isso não vem por meio das grandes inovações e grandes idéias, mas sim de um grande esforço por parte de todos os colaboradores da empresa".
Por enquanto, o mercado brasileiro continua em ordem. O Brasil parece ainda não ter sofrido os reflexos da crise. Caso venha a sentir, mostre que está preparado.