Pequenos agricultores africanos pedem apoio para o desenvolvimento rural

A valorização das commodities (mercadorias de cotação internacional) agrícolas não chega ao bolso dos pequenos produtores rurais africanos. Pelo contrário. Eles pulam de cultura em cultura tentando acompanhar o vai-e-vem dos preços internacionais. E acabam acumulando prejuízos.

"Aquilo que a gente produz mantém-se no mesmo preço há três, quatro, cinco anos, mas quando vamos ao mercado comprar semente, por exemplo, o preço está muito alto. Queremos uma política que favoreça os camponeses, criando pequenas instituições que possam nos ajudar", diz o moçambicano Daniel Abaco Mario, da União Geral das Cooperativas de Nampula – movimento ligado à Via Campesina.

O agricultor participa do Fórum da Sociedade Civil da 12ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), em Acra, na expectativa de apoio internacional para políticas de desenvolvimento rural no continente africano. "Temos que lutar contra a pobreza e devemos apostar no setor agrário. Os camponeses sabem produzir, é algo que herdamos. Basta um pequeno apoio", afirma.

Mario produz milho, arroz, feijão e amendoim em Nampula, no norte de Moçambique. Diferentemente de outras regiões do continente, onde há apenas um tipo de cultura, Nampula tem uma agricultura bastante diversificada. Lá se planta arroz, milho, feijão, amendoim, mandioca, banana, vegetais, castanha. Mas isso não é suficiente sequer para acabar com a fome na região. Os lucros resultantes da alta mundial dos alimentos não chegam a Nampula.

"É a zona mais produtiva, mas a mais desfavorecida em termos de preços e mercado", relata o agricultor. "Aquilo que produzimos praticamente fica ali. Quando produzimos muito, estraga-se porque ninguém aparece. E quando aparecem pequenos compradores, eles que determinam o preço. Nosso produto não tem valor", constata com frustração.

Segundo ele, na década de 80 os preços eram regulados. Também havia apoio técnico do governo e empresas estatais garantiam a compra da produção, caso não houvesse demanda.  Agora, os pequenos agricultores de Moçambique estão entregues às leis de mercado. Sem garantias, correm atrás da cultura em alta a cada nova safra.

"Já sabemos que o milho não tem preço, então quando aparece alguém dizendo que a soja terá preço, corremos para a soja, No ano seguinte, a soja já não vale e tentamos páprica. Mas esquecemos de produzir o milho que comemos, ficamos perseguindo aquilo que podemos vender e, às vezes, não vendemos também", relata. Segundo ele, a lógica do mercado faz com que muitos agricultores acabem abandonando o campo, em busca de melhores oportunidades nas cidades. Exatamente como acontece no Brasil.

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