A empresa que quer tornar a tecnologia médica mais humana

Em 2004, a vida dos amigos Marcus Figueredo e Sérgio Rogal seguia curso normal. Estudantes do quarto ano de engenharia da computação na PUC do Paraná, frequentavam aulas e iam a festas, como quaisquer outros jovens. Mas ambos tinham um sonho que, de certa forma, os colocava à parte da maioria — que perseguia boas oportunidades de emprego em empresas tradicionais.

Os dois já desejavam abrir um negócio próprio. “Na época, a gente ouvia falar muito de Yahoo! e Microsoft, essas empresas de alta tecnologia, com ambientes de trabalho incríveis”, conta Marcus. “Mas isso ainda não existia no Brasil. Nós queríamos criar e viver isso aqui.”

Faltava identificar a oportunidade para tirar esse sonho grande do papel. E ela se apresentou em um laboratório de informática e saúde onde os dois realizavam um estágio. Lá, eles conheceram os fundamentos do mercado de saúde. Conheceram também a telemedicina — o segmento que num futuro próximo os abrigaria.

Futuro próximo, mesmo. Ainda que, naquele momento, a ideia do que fariam fosse embrionária, os dois tinham uma certeza: queriam inovar no campo de tecnologia e saúde, em cuja pesquisa Marcus e Sérgio estavam envolvidos. Mas era só. “Não tínhamos dinheiro nem experiência”, conta o primeiro.

Então, juntaram mais três amigos para levantar algum investimento, encontraram um espaço e fundaram a Hi Technologies.

Capital inicial: R$ 2.500,00

Marcus não exagera ao falar sobre aquele momento. “Éramos cinco estudantes que levantaram um total de R$ 2.500. E só dava para pagar quatro ou cinco meses de aluguel da nossa sede — depois que saímos da Intec, a incubadora do Tecpar. Cada um trazia o equipamento de casa e trabalhava lá”. Era pouco, mas ainda assim o bastante para que a Hi Technologies desenvolvesse um primeiro produto: um software de monitoramento de pacientes a distância. Um aplicativo de telemedicina.

Os jovens empreendedores estavam otimistas com o resultado. Haviam feito alguns testes em hospitais; os médicos e demais profissionais de saúde haviam aprovado. Tinham a perspectiva de “bombar, de fazer sucesso rapidamente”, como Marcus Figueredo afirma.

Mas não foi bem assim…

Pois é: na prática, a teoria é outra. Marcus, Sérgio e companhia passaram dois anos sem vender um software sequer. Mas, se os próprios médicos haviam gostado do produto, o que havia de errado? A resposta era o receio com a inexperiência do grupo.

“Os médicos gostavam do sistema, mas ainda éramos uma empresa de estudantes. No final do dia, ninguém tinha coragem de apostar num produto que havíamos desenvolvido — ainda que ele tivesse passado nos testes.”

O golpe foi duro. Todo mundo já havia concluído a faculdade, e a cobrança só aumentava: “As pessoas falavam: nossa, mas vocês já estão formados, já têm que estar ganhando dinheiro”. No final, os três colegas que haviam entrado na sociedade acabaram saindo — somente Marcus e Sérgio ficaram.

O que os manteve resilientes? A certeza de que o negócio tinha potencial e o zelo pela empresa. “Era a nossa criação, não queríamos desistir. Todo mundo foi embora, mas nós ficamos”.

Esforço recompensado, lastro maior

Os dois continuaram e persistiram, até que chegou o momento mais importante de qualquer nova empresa: a primeira venda. Era um hospital que precisava muito da solução, na época. Também pesou o fato de os dois não serem mais estudantes — e de estarem cursando um mestrado, que foi uma estratégia para dar mais lastro à empresa.

Em paralelo à primeira venda, outros acontecimentos ajudaram a Hi Technologies a se firmar: a conquista de prêmios.

“GANHAMOS PRÊMIOS DA FGV DO PARANÁ E DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO, ALÉM DE FICARMOS EM SEGUNDO LUGAR NO PRÊMIO FINEP. FOI ENGRAÇADO, PORQUE NOSSA EMPRESA TINHA FATURADO R$ 4 MIL E FICAMOS NA FRENTE DE EMPRESAS QUE FATURAVAM MILHÕES”.

As premiações permitiram que Marcus e Sérgio acessassem agências de fomento para capital — e que, assim, consolidassem a Hi Technologies.

A primeira grande guinada estratégica

Mas se engana quem acha que os dois consideraram o objetivo atingido. Porque, naquele momento, os empreendedores tomaram uma decisão estratégica de grandes proporções: alterar o modelo de negócios.

Essa mudança tinha a ver, no fundo, com uma nova percepção da própria Hi Technologies: “Nós abraçamos a questão da humanização na tecnologia médica. Lá atrás, o que nos movia era a tecnologia; mas, depois que vimos o impacto que isso tinha na vida das pessoas, constatamos que o que fazíamos podia transformar essas vidas. Até salvá-las, em alguns casos”, conta Marcus.

Do logotipo à missão da empresa, tudo mudou para ela ficasse “mais próxima” das pessoas. Mas a principal alteração foi de ordem estrutural. Como, por ser veiculada em um software, a marca da Hi Technologies ficava “escondida”, Marcus e Sérgio resolveram deixar de produzir o aplicativo para se dedicar à fabricação de equipamentos médicos.

“Foi uma decisão bem difícil, porque, como tínhamos uma equipe pequena, não conseguiríamos crescer vendendo nosso software ao mesmo tempo que desenvolvíamos a tecnologia”.

Então, os dois juntaram dinheiro com agências de fomento e pararam de ir atrás de clientes para se dedicar ao desenvolvimento do novo produto. Surgia, assim, o Milli, um oxímetro de pulso com inovações que nenhum outro oferecia até ali: design, conexão e touchscreen. Era mais humanizado do que os concorrentes.

“Vamos produzir nós mesmos”

Aos olhos de Marcus e Sérgio, o produto tinha imenso potencial. Mas essa não foi a mesma opinião de fabricantes a quem eles apresentaram o produto. “Naquele momento, pensamos em terceirizar a produção. Mas quando mostramos o Milli, os caras riram. Acharam que estávamos propondo um equipamento médico que fosse rodar jogos, tocar música etc”.

Os dois saíram da reunião com uma decisão: a própria Hi Technologies iria produzir o aparelho. Montaram, então, uma fábrica para dar vida ao Milli. E, em 2010, apresentaram-no em uma feira de São Paulo. Resultado: fila no estande para adquirir o produto. E o negócio deslanchou.

A segunda grande guinada

Nos anos seguintes, a Hi Technologies obteve crescimento significativo. A empresa foi ganhando os holofotes — e, claro, chamou a atenção de investidores. Um deles era a Positivo, que buscava empresas parceiras para entrar no segmento de saúde e tecnologia.

Assim, em 2016, Marcus e Sérgio aceitaram a proposta de investimento da empresa de informática, e a Hi Technologies mudou de patamar. “A ideia era acelerar ainda mais o nosso crescimento. Assim, passamos a fazer parte de uma organização muito maior, com capital aberto na bolsa e fábricas imensas. E hoje podemos utilizar essa infraestrutura”.

É mais um desafio para Marcus e Sérgio, mas não poderia ser diferente. Inquietos por natureza, os dois continuam rumo ao sonho grande que começou lá atrás, e que fica cada vez maior. “Queremos nos tornar ainda mais humanizados. Começamos com o software, depois fomos para o hardware e agora estamos criando novas tecnologias para ficarmos ainda mais perto dos pacientes”.

E o mais novo passo em direção a esse objetivo foi dado nesta semana: a Hi Technologies foi aprovada no Painel Internacional, e Marcus Figueredo e Sérgio tornaram-se empreendedores Endeavor. Agora, nós também compartilhamos o sonho grande dos dois — e, levando em consideração os exemplos de resiliência e foco que eles vêm demonstrado até aqui, essa história só tende a melhorar.

Originalmente publicado em EndeavorAmigos de faculdade, Marcus Figueredo e Sérgio Rogal tinham planos um pouco diferentes daqueles de seus colegas. Os dois passaram por poucas e boas, mas conseguiram seguir adiante e hoje são Empreendedores Endeavor

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