Erick Krulikowski

por Mônica Pupo (monica@empreendedor.com.br)

Engana-se quem pensa que um bom ne­gócio se faz apenas através de boas ideias e trabalho árduo. Para manter uma empresa saudável é preciso ir além e encarar com­promissos financeiros que muitas vezes assustam os empreendedores de primeira viagem, como fazer contas, pagamentos, balancetes e cálculos em geral. Apesar da responsabilidade que os cercam, os em­presários que não entendem de finanças não precisam se desesperar, pois sempre é possível buscar ajuda de profissionais ou empresas especializadas no assunto.

“O empreendedor nem sempre está totalmente preparado para compreender a gestão financeira de uma empresa, tanto no aspecto operacional quanto no estraté­gico, ao definir que tipo de informações são importantes para meu negócio”, observa Erick Krulikowski, sócio-diretor da iSetor, empresa que presta serviços administrati­vos e financeiros, assessoria e consultoria em gestão integrada.

Na entrevista a seguir, Erick des­venda os principais mitos que rondam os empresários quando as finanças estão em pauta, incluindo os riscos e vantagens da terceirização, as principais dificuldades enfrentadas na gestão financeira e como se preparar para investir sem desequilibrar o fluxo de caixa.

Em sua opinião, para ser um empreendedor de sucesso é preciso entender as finanças até que ponto? É imprescindível ter conhe­cimentos específicos?

Erick Krulikowski – É fundamen­tal que ele conheça um mínimo de fi­nanças. Conforme o negócio cresce, certamente a empresa terá algum res­ponsável direto pela parte administrati­va e financeira, mas o empresário deve ter condições de fazer o acompanha­mento da situação e analisar a saúde do negócio. Para isso, ele não precisa co­nhecer profundamente os mecanismos da gestão financeira, mas se concentrar nos conceitos principais. Costumo di­zer que a Lei de Pareto vale muito: se o empreendedor conseguir aplicar 20% dos conceitos financeiros básicos e fundamentais, já será possível fazer um acompanhamento razoável do negócio.

Quais as principais dificuldades que os empreendedores de primeira viagem cos­tumam ter na gestão financeira de suas empresas?

Krulikowski – São relacionadas à falta de conhecimento dos métodos de trabalho e dos instrumentos de análise financeira. Quando começa um negócio, geralmente o empreendedor tem muito pouco conhecimento sobre gestão financeira e, por isso, costuma seguir alguns caminhos: ele tenta fazer tudo sozinho, fazendo a gestão finan­ceira da empresa como ele faz a gestão financeira pessoal, ou chama alguém de muita confiança (como a mulher, o namorado ou um primo), sem necessa­riamente que tenha conhecimento da área. Essas duas alternativas acabam, mais cedo ou mais tarde, resultando em problemas para o empreendedor. Ou­tra opção dele é contratar uma pessoa específica para isso. Entretanto, como o empreendedor não sabe como essa operação acontece, tampouco não sabe ensinar alguém a fazer essa operação ou consegue analisar com propriedade se o trabalho está sendo bem executado. Assim, cada profissional que é contrata­do procura fazer o trabalho de um jeito, até que o empreendedor encontra uma pessoa na qual ele confia plenamente e que consegue realizar as operações básicas – pagar as contas sem atraso e cobrar os clientes. Esse profissional não consegue fazer uma análise mais elaborada sobre a saúde do negócio, fazendo com que o empreendedor não tenha informação qualificada para sua tomada de decisão.

Quais as vantagens e riscos de terceirizar a gestão financeira da empresa?

Krulikowski – A principal vanta­gem é permitir que o empreendedor se concentre naquilo que sabe fazer, na sua atividade principal. Quando o gestor deixa de investir tempo em atividades que não agregam valor ao negócio e que ele não tem familiaridade, acaba por se concentrar no que é importante e que faz a empresa crescer. Ou seja: o enfo­que é de crescimento e desenvolvimen­to, e não de controle. Outra vantagem é contar com uma estrutura capaz de atender a sua demanda com tamanho e custo adequados às diversas etapas do negócio, sem que seja necessário mon­tar uma estrutura fixa dedicada. Para organizações pequenas e em estágio de crescimento, essa é uma vantagem importante, pois as receitas não são grandes o suficiente para montar um departamento que atenda a empresa com eficiência. Nesse sentido, a terceiri­zação permite que ele tenha um serviço adequado ao seu tamanho, sem com­prometer os custos fixos da operação e com alto grau de eficiência. Outras van­tagens estão relacionadas à reposição de mão de obra; maior facilidade para estabelecer objetivos, metas e fazer o follow-up adequado; e contar com siste­mas e outros ativos atualizados sem que seja necessário realizar investimentos. Além, é claro, da incorporação de mé­todos e sistemas impossíveis de serem adquiridos por uma empresa pequena.

E quais os riscos da terceirização?

Krulikowski – Os riscos estão rela­cionados à escolha da empresa que fará a terceirização, o tipo de contrato esta­belecido (que deve reger bem as res­ponsabilidades de cada parte) e a forma de gestão dessa relação. Muitos empre­ endedores gostam de fazer a gestão das horas das pessoas, e não dos resultados, e isso em uma terceirização torna-se mais complicado e pode comprometer a qualidade do trabalho.

Qual o custo estimado para a contratação de uma assessoria financeira terceirizada, considerando-se uma pequena empresa?

Krulikowski – Para uma empresa pequena, o custo inicial de uma tercei­rização é igual ao custo da contratação de um estagiário dessa área e menos que a contratação de um assistente ad­ministrativo. Por isso, se formos pensar como entrega de um composto de ser­viço, pode ser uma relação vantajosa em termos de preço e de entrega.

Quais os erros mais comuns que os peque­nos empreendedores costumam cometer em se tratando de gerenciamento de finanças?

Krulikowski – Um dos erros mais comuns é gerenciar a empresa pelo cai­xa – ou seja, pelo dinheiro disponível na conta. E, quando tratamos de em­presas com diferentes prazos de recebi­mento e pagamento, ele pode ter pro­blemas sérios. Outros erros comuns são deixar de pagar impostos, arcando com multas e juros em excesso, ou pegar empréstimos em um nível muito alto, comprometendo diretamente o caixa da empresa.

É possível afirmar que os empreendedores mais jovens (chamada geração Y) são mais preocupados com questões financeiras do que os mais velhos? Ou é exatamente o con­trário?

Krulikowski – Não é possível di­zer que uns são mais preocupados que outros, mas sim que cada um enfrenta condições distintas. As novas gerações, por exemplo, têm muito mais acesso à informação e conseguem se relacionar de maneira mais fácil com a tecnologia do que há 20 anos. Outro ponto impor­tante é que a média de anos de estudo de quem está empreendendo no Brasil aumentou muito nas últimas décadas, o que faz com que a nova geração tenha mais conhecimento na hora de abrir um negócio.

Quais informações/dados não podem ficar de fora de um relatório financeiro?

Krulikowski – Um bom relatório financeiro deve conter os principais in­dicadores de resultado de um negócio, sendo que alguns indicadores são co­muns a diversos tipos de empresa e ou­tros são específicos. Esses indicadores podem ser divididos em dois grupos: o primeiro grupo é dos indicadores de resultado econômico, que mostram se a empresa está sendo lucrativa, se a margem bruta está adequada, se a ren­tabilidade de cada produto ou serviço está boa, etc. O segundo grupo são dos indicadores financeiros e de caixa, que mostram a capacidade da empresa de pagar suas contas no futuro, seu endivi­damento total, entre outros.

Considerando a realidade das micro e pe­quenas empresas brasileiras (organograma e orçamento enxutos), quais os segredos da boa gestão financeira?

Krulikowski – Para fazer uma boa gestão financeira, o micro e pequeno empreendedor têm que ficar muito atento ao pagamento das contas para evitar multas e juros; deve também ter acesso à informação de negócio que permitam a ele tomar boas decisões so­bre quanto e como investir. E isso pode ser traduzido de duas formas: método e rotina de trabalho e informação finan­ceira com consistência.

Como equilibrar o fluxo de caixa em tempos de crise ou em negócios sujeitos à sazo­nalidade¿

Krulikowski – Em tempos de cri­se, para equilibrar o fluxo de caixa a empresa deve tentar fazer uma opera­ção básica: receber o quanto antes do cliente e pagar os fornecedores com o maior prazo possível. As grandes em­presas trabalham muito bem com esses prazos e, com isso, diminuem muito a necessidade de capital para gerenciar o negócio. Outra opção é levantar um financiamento de curto prazo, como um capital de giro, junto a uma instituição financeira ou até mesmo com amigos e parentes. Além disso, o empreendedor também pode tentar encontrar um in­vestidor, que poderá investir recursos em troca de um percentual da empresa investida.

Já para negócios sujeitos à sazona­lidade, existem dois fatores principais: o primeiro é elaborar um bom planeja­mento financeiro, que vai indicar quan­to de capital a empresa vai precisar para conseguir passar pelos tempos de baixa de receitas. Além disso, fazer uma boa reserva de recursos é fundamental – a famosa poupança para tempos difíceis.

Por fim, o que o empreendedor deve levar em conta na hora de planejar um investimento para não desequilibrar o fluxo de caixa e prejudicar as finanças?

Krulikowski – Para planejar um investimento de forma adequada, o empreendedor deve pensar, primeira­mente, se ele terá caixa suficiente para o pagamento da dívida que está con­traindo. Parcelas muito altas acabam consumindo o caixa necessário para o dia a dia e podem fazer, por exemplo, com que a empresa atrase o pagamen­to de contas, acarretando mais multas e juros. Esse comportamento torna-se quase que um círculo vicioso, que pio­ra a situação financeira cada vez mais. Outro ponto importante diz respeito às taxas de juros cobradas, já que os juros são despesas financeiras que diminuem as margens de lucro e não são incorpo­radas ao patrimônio da empresa. Além, é claro, de fazer uma análise estratégica sobre a necessidade do investimento e de quais as expectativas de retorno para o negócio.

Facebook
Twitter
LinkedIn