João Eduardo Amaral Moritz

O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Santa Catarina (ABIH-SC), João Eduardo Amaral Moritz, está otimista com o que pode vir a ser a melhor temporada de verão da última década. O câmbio favorável está trazendo milhares de turistas de toda a América Latina não só para as praias catarinenses, mas para todo o país.

Para o empresário, o momento é muito positivo, mas isso não quer dizer que o segmento possa se acomodar. Ao contrário. Ele defende a adoção plena do turismo como uma ferramenta indispensável para o crescimento do país, onde políticas públicas e um planejamento a longo prazo sejam a tônica de uma sólida política de estado.

A seguir ele fala sobre as perspectivas do turismo no país, o crescimento de até 20% para este ano e as grandes possibilidades futuras, alavancadas pelas Olimpíadas e a consolidação do turismo de negócios.

Chegou a vez do Brasil aproveitar os bons ven tos que o câmbio favorável traz? João

Eduardo Amaral Moritz – A questão do câmbio, em especial o dólar alto, está favorecendo o turismo no Brasil como um todo. Indiscutivelmente o brasileiro optou por ficar no país e procurar os melhores destinos turísticos, no lugar de ir para a Europa ou Estados Unidos. As pessoas estão procurando conhecer o Brasil, e Santa Catarina arranca na frente, por ser um estado atípico, que está na crista da onda e que vem crescendo a cada ano que passa. A porta de entrada do turismo em Santa Catarina é Florianópolis, assim como no Brasil é o Rio de Janeiro. E o turista que vem para cá, depois vai conhecer os nossos campos, as nossas praias, a nossa serra.

Somos um estado diversificado e com diversas culturas, em função de nossas etnias. As reservas já indicam o sucesso desta temporada?

Moritz – Este ano será o melhor dos últimos 15 anos. Estamos esperando receber, só em Santa Catarina, cerca de 8 milhões de turistas. Serão turistas brasileiros e também argentinos, paraguaios, uruguaios e chilenos, que serão favorecidos pelo dólar. Vamos ter um grande número de voos charter vindo do Chile, por exemplo. E as reservas já confirma – das para este início de temporada estão ultrapassando as expectativas.

Não estou falando daquele turista que vem passar o réveillon, que aqui é atípico, pois só nos beach clubs de Jurerê o destino da cidade é levado ao mundo todo. Mas são turistas específicos desta data. Ainda assim, um fator que deve ser levado em consideração neste ano será o carnaval muito cedo, com a consequente volta às aulas.

Então, para o setor, a crise econômica não está batendo tão forte como se esperava?

Moritz – Tradicionalmente, quando o dinheiro aperta, a primeira coisa a se fazer é cortar a viagem. Mas neste ano, por incrível que pareça, o Brasil não está acreditando muito nessa crise.

Ainda assim, precisamos melhorar muito em alguns aspectos não é mesmo?

Moritz – É verdade. O Custo Brasil ainda é muito alto, e isso torna o nosso turismo mais caro para o estrangeiro, não só na hotelaria mas em outros segmentos. O governo precisa entender que o turismo deve estar inserido dentro do setor econômico. Até hoje no Brasil, com raras exceções, os governos entenderam isso. Porque no mundo inteiro, quando acontece alguma catástrofe como no 11 de setembro, ou algo similar, os governos tomam providências para superar as dificuldades do momento e para que o turismo volte e mantenha os níveis de arrecadação. Hoje em Santa Catarina o que o setor gera representa um percentual que vai chegar a 20% do PIB. Agora, falta realmente um entendimento da classe política e dos governantes de que o turismo está inserido no setor econômico. Eu repito isso porque poucos polí – ticos entendem isso. Na época da campanha todos falam em turismo, porque eles sabem que é uma fonte de renda e de voto. Mas é só assumirem, e eles esquecem o turismo. É uma dificuldade muito grande conseguir apoio dos governos para aplicar no turismo. A cada ano que passa parece que fica mais difícil.

Como superar essa visão imediatista?

Moritz – O que precisa ser feito é a adoção de um Plano de Estado e não de Governo. Um plano para 30 anos, como muitos países têm, e isso não impede que cada governo que entre execute suas ações específicas, mas dentro de um plano de governo. Esse planejamento é o que falta no Brasil como um todo, e não só em Santa Catarina. Não dá para segurar investimentos. Existem estudos muito bons, mas eles não entram na fase de execução. É o que eu chamo de “fazejamento”, ou seja, se você tem um plano, tem de executá-lo. É um passo a passo que começa pela infraestrutura. É o saneamento básico, estradas, rodovias, aeroportos, marinas. Aqui mesmo em Santa Catarina nós temos um litoral imenso e não temos marinas, só em Camboriú. Também não temos portos adaptados a navios de cruzeiro, agora que está começando a ser feito. Pelo menos a iniciativa privada está despertando para isso. Não dá para colocar a culpa só no governo. Por isso que o plano de metas é importante, na medida que a iniciativa privada pode investir porque sabe que lá na frente vai ter retorno.

Além da temporada de verão, existem boas perspectivas com as Olimpíadas?

Moritz – Quem vem para uma Olimpíada, e são gente de mais de 100 países do mundo, quer conhecer o Brasil. E irão conhecer evidentemente Foz do Iguaçu, Pantanal, entre outros. E nós, aqui em Santa Catarina, temos muita coisa para mostrar. Temos os cânions, a serra, os campos, os vinhedos, a maçã. E por aí afora. Temos regiões típicas que traduzem aquilo que o imigrante trouxe para o Brasil, e que em muitos países já não existe. Então isso é algo muito importante. Estamos crescendo muito também no turismo de eventos, com novos centros. Mas para crescermos bem temos que resolver ainda a infraestrutura, como a oferta de água, luz, melhorar a mobilidade urbana e a segurança. São fatores que precisam ser desenvolvidos. O europeu, de uma forma geral, preocupa – -se muito com o saneamento básico. O segmento hoteleiro nesta temporada vai crescer de 15 a 20%, não só de turistas brasileiros, mas principalmente da América do Sul. Porque nós oferecemos os 5 Cs que o turista quer: Caminho, Cama, Comida, Casa e Carinho.

Facebook
Twitter
LinkedIn