Jorge Bassalo

Administrar e presidir uma empresa é para muitos empreendedores a concretização de um sonho, para outros é simplesmente o resultado de uma trajetória de sucesso. Independente disso, uma vez que o empresário está à frente de uma organização, desafios surgem constantemente e muitos empresários não sabem lidar com mudan­ças que aparecem por conta de uma aquisição, fusão ou até mesmo motivadas por uma reorga­nização estratégica de setores e equipe. E, diante disso, eles ainda se recusam a buscar auxílio ex­ternamente colocando a empresa em risco. Isso acontece, pois a maioria dos empresários acre­ditam que podem liderar e promover as mudanças conforme seus ritmos e todos os colaboradores devem se adaptar. Porém, de acordo com Jorge Bassalo, diretor da Strategy Consulting, empresa especializada em gestão da mudança organiza­cional, a realidade não é assim e para gerir uma mudança na organização é preciso metodologia e aprofundamento de todo o cenário empresarial.

Na visão de Bassalo, é essencial que aconteça uma aproximação do empreendedor com cada membro da equipe para entender aos anseios, desejos e até frustrações dos funcionários. “O maior capital da empresa são as pessoas. Tornar uma mudança na organi­zação bem sucedida está diretamente ligada à compreensão, satisfação e engajamento de cada funcionário, essencialmente os líderes de cada departamento”, acredita o especialista em gestão de mudança. Na entrevista abaixo, Bassalo explica melhor sobre a metodologia que garante uma transição organizacional com êxito e comenta as atitudes e comportamentos dos líderes que podem influenciar para a con­trução de uma sólida mudança na organização.

Quais são os principais comportamentos de empresários ou líderes empresariais que atrapalham o bom andamento das mudanças organizacionais?

Jorge Bassalo – Naturalmente, é das li­deranças que se espera mais, por isso os lí­deres têm grande responsabilidade. A mu­dança na empresa, quando acontece, gera um alvoroço, um desconforto no início, mas depois vai trazer grandes benefícios. Uma das atitudes de líderes ou diretores de primeira linha que pode atrapalhar as mudanças é eles mesmos não acreditarem que a mudança será boa para a empresa. O líder deve comprar a ideia e acreditar. Muitas vezes, as transições nas organiza­ções não são boas para os diretores ou mesmo o dono da empresa, elas exigem que todos saiam da zona de conforto. En­tão, pode não ser bom individualmente para alguns, porém será uma mudança de grande importância para a companhia. Assim, deve-se fazer um esforço para um bem maior. Na verdade, esse processo não acontece somente na empresa, mas tam­bém na família, no time de futebol, enfim, em diferentes ambientes.

Atualmente, fala-se muito em inovação e ne­cessidade das empresas se adaptarem a novas práticas de negócios. Através da sua experiên­cia, como os líderes das organizações devem proceder para conduzir os processos de mu­danças organizacionais de forma constante e ao mesmo tempo com naturalidade?

Bassalo – As empresas mais joviais já encararam as mudanças de uma forma mais ágil e natural, pois sempre estão pensando em evoluir, em ter algo a mais na companhia para oferecer. O empresá­rio deve entender que essa evolução, que exige muitas mudanças, é uma condição obrigatória para conquistar público e se manter no mercado. As empresas devem ser mais abertas. Agora, quando realmen­te não conseguem trazer isso para dentro da organização, uma saída é realmente contratar escritórios que cuidam dos processos de mudanças organizacionais.

Existem estratégias e metodologias para gerir uma mudança organizacional? Comen­te sobre elas.

Bassalo – Sim, para gerir uma mudan­ça na organização é necessário utilizar uma metodologia que possa aprofundar todo o cenário da empresa. Num pri­meiro momento é preciso uma imersão, um aprofundamento que exige a dedi­cação do empreendedor em tempo in­tegral. Um olhar imparcial e minucioso de como é e onde está a companhia, e para onde se deseja que ela caminhe e como será feito isso. Geralmente, as em­presas que não adotam uma consultoria, tratam o processo de mudança de forma desestruturada. O método de organiza­ção para a mudança obriga a empresa a passar por todos os itens necessários à transição ser bem-sucedida.

Nesse processo de mudança organizacional, exige-se do empresário um olhar imparcial. Como o empreendedor pode ter essa atitude se está intensamente envolvido com o seu negócio?

Bassalo – O erro fundamental de mui­tas empresas está relacionado à atitude ou foco do empreendedor. Fala-se muito que o empresário precisa saber de ges­tão, porém mesmo ele tendo a habilidade para administrar, não garante o sucesso. O empreendedor deve sair da questão ope­racional da empresa e permanecer mais como avaliador de suas próprias decisões, pensando estrategicamente como vai con­duzir a empresa, quais mudanças vai reali­zar. Enfim, ele deve se colocar na posição de cabeça pensante do negócio.

Aqueles empresários que realmente valorizam seus funcionários possuem resultados mais elevados? Comente sobre isso.

Bassalo – Eu acompanho há muito tem­po a gestão de pessoas nas empresas e percebo que essa questão realmente tem evoluído ao longo dos anos. Antes era só falácia. Mas, hoje, as empresas estão pensando no que fazer para engajar o fun­cionário, questionam-se mais sobre qual valor a empresa entrega e buscam deixar o colaborador mais satisfeito. E isso certa­mente vai se refletir na satisfação e, conse­quentemente, na maior e melhor entrega de resultados pelos funcionários.

Você acha que os empresários, em geral, possuem uma atitude de prepotência e não conseguem compartilhar com os próprios fun­cionários de maneira honesta uma discussão democrática sobre decisões importantes para a própria companhia?

Bassalo – Não acho que os empresá­rios e líderes sejam prepotentes. Acho que se demonstram esse tipo de atitude é porque não possuem conhecimento suficiente ou não estão seguros para saber como administrar determinada situação que exige mudança em suas empresas. Esse comportamento equivo­cado do empreendedor acontece, mui­tas vezes, porque eles se sentem muito preocupados e com uma sensação de grande pressão, por isso resistem em contar com um corpo externo para ajudar na avaliação das decisões, rece­osos de vazar informações estratégicas da companhia. Além disso, geralmente, desconhecem as metodologias e estra­tégias de gestão da mudança organiza­cional e pensam que os atributos que o levaram a liderar a companhia são o suficiente para gerir as mudanças. Não tenha medo do desco­nhecido. A mudança vai tirar você da zona de conforto, porém sempre vem para melhor. Você ficará desestabilizado em um primeiro momento, entretanto o fato de passar por algum processo, às vezes, traumático, sofrido, não significa que não será para evolução e cresci­mento da companhia. Então, o ideal a se fazer é encarar a mudança.

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