Marcos Guglielmi

O empresário brasileiro tem a seu favor o famoso “jogo de cintura”, que muitas vezes é fundamental para a superação de impasses e seguir adiante com o negócio. Só que não basta ser flexível, mas acabar perdendo o foco. De acordo com o consultor Marcos Guglielmi, que vem dando palestras a empresários pelo país, pelo menos um terço do tempo útil de um empreendedor brasileiro é perdido com coisas irrelevantes, que acabam em improdutividade.

Para o consultor, que já exerceu os mais altos postos em gestão de negócios, atuando como executivo em multinacionais norte-americanas e europeias, “não adianta ter a melhor estratégia do mundo se você não a usa, mede, analisa e melhora”. A seguir, ele fala sobre os impasses de gestão entre os empreendedores nacionais e mostra como transformar em solução os problemas que vão surgindo no meio do caminho.

Tem se tornado um lugar comum nos dias de hoje culpar a “crise” por uma série de problemas que muitas vezes poderiam ser solucionados com uma gestão mais eficiente. Como o senhor vê o atual momento da economia brasileira e até que ponto pode ser debitado à “crise” um desempenho negativo dos negócios?

Marcos Guglielmi – A economia mais fraca é um fato que não podemos negar, pois os números não mentem e estão aí para mostrar que existe uma desaceleração brusca. Apesar disso, a crise não é a causa da maioria dos problemas enfrentados pelos empresários, principalmente o pequeno e o médio, que compõem a maioria das empresas no Brasil. Em palestra recente a vários destes empresários, muitos queriam culpar a crise. Perguntei então quantos deles estavam ganhando, de verdade, dinheiro antes da crise. Ninguém levantou a mão. Isso quer dizer algo muito comum: que de modo geral o empresário não está preparado para gerir seu próprio negócio e isso independe da economia. A mortalidade nos primeiros cinco anos das empresas sempre foi alta, não importando o período. É claro que a economia fraca piora o cenário, mas as causas sempre estiveram lá.

Como o seu trabalho na Action CoacH pode ser definido, no sentido de estimular os empresários a um melhor desempenho?

Guglielmi –  Existem duas vertentes que são usadas na metodologia exclusiva da Action Coach para que haja melhor desempenho. A primeira é a parte de conhecimento em gestão. Por exemplo, detectamos que 93% (isso mesmo, noventa e três) das empresas com quem temos contato não sabem qual o seu lucro líquido. Isso é algo básico na gestão de qualquer negócio e precisa ser detectado e analisado, caso contrário erros graves de gestão poderão ser cometidos. Então numa parte atuamos no conhecimento em gestão. A segunda vertente é a do comportamento, que é trabalhado pela metodologia de Coaching Empresarial, já que conhecimento sem as atitudes corretas não levam o empresário ao desempenho necessário para atingir os resultados almejados. Em vários casos, o empresário até já tem conhecimentos bons em gestão, mas não os aplica. Muitas vezes a “crise” os paralisa como líderes, empreendedores e gestores. Isso tudo está ligado ao comportamento e precisa ser tratado. Só que isso é algo que não ocorre apenas na crise, mas sempre. Nós tratamos o empresário nesta questão também, que é até regularmente mais prioritária que a outra.

O brasileiro é realmente um empreendedor nato?

Guglielmi – Acredito que é natural do brasileiro ter um ótimo “jogo de cintura” que não tenho visto em outros países e isso ajuda muito a empreender. A nossa cultura ajuda desde cedo esse tipo de comportamento. Vejo também que somos flexíveis e isso contribui para encontrar soluções fáceis e rápidas para os desafios que aparecem. Só que tudo isso acaba indo na contramão de algo importante também para manter bem uma empresa, que é o foco. Muitas vezes temos que tratar a falta de foco e direcionamento. Só para se ter uma ideia, o empresário joga fora, todos os dias, em média, 33% de seu tempo em coisas irrelevantes. É uma improdutividade muito alta.

Quais são os gargalos que o empresário brasileiro deve superar para obter mais rendimento e sucesso na gestão das empresas?

Guglielmi – Existem três desafios principais em que o empresário (não apenas o brasileiro) esbarra quando busca obter melhor rendimento e sucesso. São eles: Tempo, Dinheiro e Equipe. Normalmente o empresário trabalha muitas horas e nem sempre vê o retorno financeiro proporcional ao trabalho realizado. Muitas vezes ele acaba se tornando escravo de sua própria empresa, porque tem mais um “trabalho” do que um negócio. Isso ocorre, na maioria dos casos, porque a equipe não tem alto desempenho, mas ele tem e acaba trabalhando pelos outros.

Até que ponto a política econômica afeta a gestão das empresas no país?

Guglielmi – A política econômica afeta a demanda das empresas de modo geral, mas a gestão não deveria ser tão afetada assim. Se a empresa tiver uma boa equipe de gestão, ela saberá contornar as questões econômicas. É como um capitão de um navio. Ele tem que saber navegar por mares calmos e na tempestade também.

Como as ferramentas de coaching, mentoring e consultoria em gestão podem mudar o rumo de um negócio?

Guglielmi – Tente imaginar um atleta olímpico sem um treinador (coach), mentor e consultor. É quase que impossível ele chegar ao seu máximo potencial sem este apoio. Da mesma forma, um empresário pode mudar e melhorar o rumo de sua empresa obtendo, através do coaching, motivação, foco, conhecimento, técnicas em gestão e alguns bons “puxões de orelha”. Nós os apoiamos tanto no conhecimento como no comportamento para chegar ao seu máximo desempenho.

O que o empreendedor que pretenda abrir o primeiro negócio nos dias de hoje precisa saber para não fechar as portas com poucos meses de mercado?

Guglielmi – Um mínimo de planejamento é necessário para iniciar um negócio. O ideal é fazer um plano de negócios. Infelizmente o brasileiro não tem o hábito de planejar, justamente porque tem muito “jogo de cintura”, que ajuda, mas não resolve. Planejar Vendas, Finanças, Marketing, Operações e Equipe são importantes para construir uma base sólida. Se a base não é sólida, qualquer vendaval derruba a “casa”.

O franchising é uma boa opção de negócio em tempos difíceis?

Guglielmi – O franchising sempre vai ser uma boa alternativa de negócio independentemente da época. Mas é preciso saber se você tem perfil para uma determinada rede de franquia. O fato de ser uma boa alternativa não quer dizer que é bom para você. Entenda bem o modelo de franquia e o que o franqueador oferece.

A definição de uma estratégia de ação a médio e longo prazo é fundamental no planejamento empresarial?

Guglielmi – Certamente. As estratégias fazem parte de qualquer bom planejamento, mas tão importante quanto uma boa estratégia é uma boa execução. Não adianta ter a melhor estratégia do mundo se você não a usa, mede, analisa e melhora. Nós temos no nosso nome a palavra “ação” (de action) justamente por causa disso. Ter boas estratégias não traz resultados. Ações concretas trazem. Outro ponto importante é que muitos empresários têm dúvidas em que ordem colocar as estratégias e as ações. Aí nós entramos para apoiá-lo e mostrar o caminho mais curto.

 O que o país precisa fazer para vencer as dificuldades econômicas e proporcionar um ambiente de crescimento empresarial?

Guglielmi – O Brasil precisa equilibrar suas contas. Como numa empresa, ou numa família, ele não pode gastar mais do que arrecada, que é o que ocorre hoje. Nossos governantes precisam parar de jogar a sujeira para debaixo do tapete. Parar de culpar os outros por algo que é de responsabilidade deles em primeira instância, que é gerir bem a nossa economia. Quando isso ocorre, gera-se algo chamado credibilidade. Credibilidade gera segurança, que gera investimentos, que gera negócios. Somos um país privilegiado pela natureza. Não temos furacão, terremoto, maremoto, vulcão, etc. como vários outros. Só precisamos saber usar a maravilha que temos nas mãos.

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