Aumenta a procura interna e externa pelo turismo medicinal

Aumenta a procura interna e externa pelo turismo medicinal, modalidade que alia tratamento médico e lazer

Se antes eram os pacientes brasileiros com boa situação financeira que buscavam tratamento médico no exterior, hoje são os estrangeiros que vêm ao Brasil em busca
de cura e reabilitação. Cada vez mais uma referência em procedimentos médicos, estéticos e odontológicos, o Brasil ganha força no turismo de saúde, mercado que
movimenta em média US$ 60 bilhões ao ano no mundo todo.

Para atender a essa demanda, hospitais, clínicas e centros de saúde de norte a sul mobilizam-se para adequar a infraestrutura, o atendimento e os serviços, sempre com foco na qualidade e na atenção à saúde. Utilização de tecnologia de ponta, profissionais capacitados e preços mais acessíveis são alguns dos atributos que contribuem para o crescimento do turismo médico no País. A importância do segmento é tanta que o Ministério do Turismo lançou, em dezembro de 2010, o primeiro Caderno de Orientações Básicas de Turismo de Saúde, seguindo o exemplo das normas já elaboradas para turismo de aventura, rural, náutico e de negócios, entre outros.

Em formato de manual, a publicação – disponível na íntegra no site do Ministério do Turismo – reúne aspectos  conceituais e legais do segmento, o perfil do turista de saúde, além de subsídios para gestores públicos e privados de destinos que atuam ou têm vocação para o segmento. De acordo com a coordenadora-geral de Segmentação do MTur, Sáskia Lima, a intenção é orientar os profissionais de saúde e os empreendedores da área a atuarem na estruturação do turismo de saúde. Para ela, o Brasil vem se evidenciando na área, que desponta como uma tendência mundial. “A expectativa é de que o manual colabore para o crescimento sustentável da demanda e o desenvolvimento organizado da cadeia produtiva do segmento, que envolve não só clínicas e hospitais, mas hotéis, restaurantes, empresas de transporte e demais players do mercado de turismo”, destaca.

Para se ter uma ideia do potencial do segmento, estatísticas apontam que, a cada US$ 1 gasto em medicina no País, US$ 8 são gastos com lazer. Segundo levantamento de 2007, o turismo de saúde motivou 7% das viagens internas no Brasil. Já o estudo da Demanda Turística Internacional 2004/2008, elaborado pelo Ministério do Turismo em parceria com a Embratur, mostrou que a média de turistas estrangeiros que buscam o País por motivos de saúde representa 0,78% do total. Considerando essa margem, aproximadamente 180 mil visitantes vieram ao Brasil para tratar da saúde nos últimos três anos, provenientes de países como Estados Unidos, França, Alemanha, Angola, Chile e Venezuela, entre outros (vide box).

Grandes centros – como São Paulo e Rio de Janeiro – continuam sendo os principais destinos, mas cresce cada vez mais a importância de polos regionais. “Salvador e Recife são referências muito fortes em saúde para as regiões Nordeste e Norte, assim como Porto Alegre para a Região Sul”, diz Sáskia. Exemplo do desenvolvimento do turismo de saúde na capital gaúcha foi a criação do Porto Alegre Health Care Cluster. Oficialmente lançado em dezembro de 2010, o projeto conta com a participação de quatro hospitais certificados de acordo com padrões internacionais – Moinhos de Vento, Santa Casa, São Lucas (PUC/RS) e Mãe de Deus, em parceria com a Federação das
Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul) e a Secretaria Municipal de Turismo. “Contamos com hospitais que são referência em qualidade e
precisamos investir recursos, energia e profissionais capacitados para fazer acontecer de verdade”, afirma Luiz Fernando Moraes, secretário municipal de Turismo.

Em São Paulo também ocorreu um movimento semelhante em agosto de 2010, durante o Medical Travel Meeting Brasil, primeiro evento inteiramente dedicado ao turismo de saúde no País. Na ocasião, os cinco principais hospitais da cidade – Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, Samaritano e Hospital do Coração – uniram- se com o objetivo de firmar parcerias com planos de saúde internacionais. “Muitas vezes, é mais barato trazer o segurado para o Brasil do que tratá-lo nos Estados Unidos ou Europa”,  simplifica Sáskia.

Embora tenha sido com a cirurgia plástica que o Brasil ganhou fama internacional – devido, sobretudo, à atuação do cirurgião Ivo Pitanguy –, hoje o País também é referência em outras áreas médicas. “Cirurgia bariátrica, cirurgia cardíaca, oncologia, oftalmologia e odontologia são outras especialidades muito procuradas pelos pacientes estrangeiros”, completa Sáskia. Mas as intervenções plásticas e estéticas continuam sendo os procedimentos mais procurados.

Com duas unidades no Rio de Janeiro, a Clínica Dicorp possui entre sua clientela aproximadamente 20% de pacientes estrangeiros, vindos em sua maioria da Europa e dos Estados Unidos, além de países do Mercosul, como Chile, Venezuela e Argentina. “Existe ainda uma demanda grande por parte de brasileiros que moram no exterior e nos procuram quando estão de visita pelo Brasil. Então, depois de operados eles voltam e divulgam nosso trabalho. Com isso, os amigos estrangeiros que gostam do resultado também nos procuram”, conta o cirurgião plástico Ricardo Cansanção. A clínica atrai ainda diversos pacientes brasileiros vindos do interior do Estado do Rio de Janeiro e da Região Nordeste. Cirurgias de aumento e redução de mama, lipoaspiração e abdominoplastia são as técnicas mais procuradas.

Conhecida pelas praias e cenários paradisíacos, a cidade de Florianópolis também está se estruturando para ingressar no turismo médico. “Os atendimentos ainda são ocasionais e ocorrem principalmente nos períodos de férias, quando a cidade recebe pessoas de várias regiões do mundo. O que queremos é justamente estruturar e aprimorar esta oferta de serviços e inverter o fluxo. Ou seja, pessoas que ainda não conhecem Santa Catarina e a sua capital deverão vir para cá em decorrência da qualidade dos serviços de saúde disponíveis”, afirma Newton Quadros,  diretor do Baía Sul Hospital Dia, unidade hospitalar inserida em um complexo de saúde que abriga mais de 100 clínicas, centro de diagnóstico por imagem e laboratório de análises clínicas. “Temos um projeto para atender estrangeiros provenientes da Europa, África e Estados Unidos no nosso hospital”, conta Quadros, que em dezembro de 2010 esteve em Luanda em busca de parcerias com clínicas e médicos locais.


Colocado em prática há pouco mais de seis meses, o plano de turismo médico da entidade é resultado da união entre diferentes empreendimentos da área de saúde, como laboratórios  e clínicas de imagem. “Este conjunto de serviços independentes, mas interligados, consegue oferecer uma grande gama de procedimentos médicos, com qualidade similar aos melhores centros nacionais.” Além da cirurgia plástica, as especialidades do Baía Sul Hospital Dia são cirurgias bucomaxilofaciais, bariátricas e ortopédicas (videoastroscopias), entre outras. “Também há cada vez mais procura e potencial na área diagnóstica, que é muito carente na África”, exemplifica Quadros.

Diferenciais

Fora a excelência em serviços e atendimento, os hospitais e clínicas que desejam ingressar no segmento de turismo médico devem ficar atentos a uma série de detalhes que facilitam a vida dos pacientes estrangeiros. Equipes e sinalizações ilíngues, serviços de transporte e assessoria em hospedagem são alguns dos diferenciais adotados por quem atua na área.

Para viabilizar a captação e o atendimento aos estrangeiros, o Baía Sul Hospital Dia investe em parcerias com agência de turismo e empresa de concierge. “O objetivo é que o paciente tenha assistência total, desde o momento em que entrar em contato para conhecer os serviços até o retorno a seu país de origem”, explica Quadros. Além de todo o acompanhamento médico, a ideia é providenciar também passaportes, vistos, passagens, hospedagens e opções de lazer tanto para o paciente como para seus familiares e acompanhantes. Outra preocupação do empreendimento é com o período pósoperatório. “Médicos parceiros, que residem no país de origem dos pacientes, prestarão essa assistência quando necessário”, completa Quadros.

Especialidades mais procuradas
Cirurgia plástica
Cirurgia bariátrica
Cardiologia
Oftalmologia
Oncologia
Reprodução assistida
Tratamentos odontológicos

De onde vêm os turistas de saúde
Estados Unidos
Angola
Itália
França
Portugal
Inglaterra
Holanda
Alemanha
Japão
Chile
Venezuela
Argentina

Saúde X Bem-estar

Segundo a definição oficial do Ministério do Turismo, o turismo de saúde acontece quando atividades turísticas decorrem da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos. O segmento possui duas vertentes:

Turismo Medicinal ou Médico-Hospitalar

São deslocamentos motivados pela realização de tratamentos e exames, diagnósticos, apanhamento de equipes médicas ou recursos humanos especializados e integrados em estruturas próprias, os quais têm como objetivo tanto a cura ou a amenização de efeitos causados por diferentes patologias, como também fins estéticos e terapêuticos. Neste caso, essa atividade engloba procedimentos
médicos, odontológicos, cirúrgicos e não-cirúrgicos. Está ligado à cura de doenças e enfermidades em hospitais, clínicas e consultórios médicos e odontológicos.

Turismo de Bem-Estar

São atividades turísticas motivadas pela busca de tratamentos que podem ser acompanhados por equipes médicas ou profissionais especializados, que visam não
só a prevenção de determinadas doenças e diminuição dos níveis de estresse, como também a aprendizagem e manutenção de uma vida saudável e equilibrada. Está ligado à prevenção da saúde em spas, estâncias hidrotermais, balneários e resorts.

Contato:

Baía Sul Hospital Dia: www.baiasulmedicalcenter.com.br
Dicorp: www.dicorp.com.br
Ministério do Turismo: www.turismo.gov.br

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