Bom de faro

Quando a internet ainda era uma promessa e menos de 3 milhões de brasileiros acessavam a rede em 1999 – hoje, segundo o Ibope, são quase 70 milhões de usuários no Brasil – Guilherme Pacheco e mais quatro amigos resolveram se reunir para pesquisar nichos de mercado no ambiente web. Na época, Pacheco trabalhava em um banco de investimentos e ficava angustiado ao ver as oportunidades de negócios que poderiam surgir a partir da internet. Aos 22 anos, o estudante de economia, que já tinha aberto uma empresa de eventos aos 18 anos, queria voltar a empreender, mas não sabia no que investir. A única certeza era que o negócio teria que ser na web.

O que mais chamou a atenção deles na época foi a dificuldade que os internautas brasileiros tinham para encontrar boas ofertas na web. Até então, não existia um site de buscas que comparasse preços, e os usuários, que compravam pela internet, precisavam entrar em diversas lojas on-line para escolher um produto. “Foi aí que tivemos um insight. Se as informações estão todas na web, será que nós não podemos criar uma forma mais fácil de disponibilizar isso para os internautas?”

Identificado o mercado, os jovens passaram a planejar o desenvolvimento de uma ferramenta de buscas on-line e a abertura da empresa. “Na época, empreender na web era mais caro do que hoje e nós não tínhamos todo o dinheiro para fazer os investimentos necessários, mas nem por isso desistimos.” Em 2000, eles conseguiram desenvolver a ferramenta para o site por meio de uma parceria com a incubadora de negócios Painel Internet e com investimentos do Banco Fator. Nesse mesmo ano, Pacheco, Gustavo Reis, José Guilherme Pierotti, Roberto Malta e Rodrigo Guarino lançaram o Bondfaro, site de buscas e de comparação de preços.

A ferramenta de uso gratuito foi criada para ser um guia de compras on-line e para oferecer ao usuário as melhores ofertas em produtos como brinquedos, livros e eletrodomésticos. A proposta de “farejar” os melhores preços motivou até mesmo os empresários a escolherem como mascote para o site o cachorro da raça bloodhound, conhecida por ter o melhor faro do mundo. “Nós sabíamos que era um produto inovador. Quando criamos o Bondfaro não conhecíamos outra ferramenta similar.”

Desbravadores

Pacheco explica que no começo ele e os sócios tiveram que passar por grandes desafios. “Há dez anos eram poucos os estabelecimentos que estavam estruturados para fazer vendas na web, a internet não era tão popular no País e vender ou comprar pela rede ainda era visto com receio tanto pelos consumidores quanto pelos lojistas.” O empresário conta que o mercado só começou a mudar a partir de 2003 com o aumento das transações feitas por e-commerce no País. “As empresas passaram a investir mais na web e a partir daí o negócio começou a ir para frente.” Em 2005, o Bondfaro registrou mais de 150 milhões de acessos, tinha cerca de 2 milhões de usuários cadastrados e faturamento de R$ 11,8 milhões.

O sucesso do negócio chamou a atenção de muitos investidores que demonstraram interesse em comprar a empresa. Os sócios consideraram que o melhor investimento seria fazer a fusão do Bondfaro com o site concorrente Buscapé e, em 2006, as duas empresas foram unificadas em um mesmo grupo. Os cinco amigos continuaram mais um ano trabalhando no Bondfaro até que fosse feita toda a integração da empresa. Após esse período, eles saíram das posições executivas que ocupavam, mas permaneceram como acionistas. “Quando nós deixamos o Bond­faro, começamos a sentir aquele mesmo desejo de querer empreender algo novo.”

Pacheco e os antigos sócios Roberto Malta e José Guilherme Pierotti resolveram voltar a pesquisar tendências e buscar um mercado para investir. “Nós percebemos que as pessoas que queriam escolher destinos turísticos, comprar passagens e reservar hotéis pela internet enfrentavam a mesma dificuldade de quem queria comprar algum produto pela web em 1999 e decidimos criar o Mundi em 2008 para atender esse público.”

O empresário conta que nesse segundo investimento, ele e os sócios já não tinham mais tempo para pensar pequeno e precisaram captar recursos na ordem de US$ 3 milhões para desenvolver o sistema. A ideia foi oferecer uma solução parecida com a do Bondfaro, mas pensando no internauta que quer planejar sua viagem e procura os melhores preços de pacotes, passagens e hotéis. “Todas as pessoas sabem que uma mesma câmera tem vários preços, mas não sabem que ficar em um mesmo quarto, no mesmo hotel e na mesma cidade tem vários preços também. Pelo Mundi nós conseguimos mostrar isso e fazer com que nossos usuários planejem melhor suas viagens.”

Em dois anos de trabalho, o Mundi se transformou em um dos sites de turismo mais acessados da América do Sul – recebe cerca de 2,5 milhões de visitantes por mês e oferece mais de 50 mil destinos no Brasil e exterior e 150 mil opções de hotéis, além de mapas, fotos e dicas de pontos turísticos. O site é bastante interativo e permite que os usuários escrevam sobre as cidades visitadas, mandem fotos dos pontos turísticos e até avaliem os hotéis onde ficaram hospedados. Para conferir os destinos, não é preciso se cadastrar: basta entrar no site e digitar a cidade que se pretende visitar que o sistema faz, em tempo real, a pesquisa de agências, companhias aéreas e de pontos turísticos para o usuário. “Quando as pessoas estão programando as férias dos seus sonhos, elas não querem errar o hotel, querem ir para o destino certo. Uma das coisas que mais influencia nessa hora da compra é a experiência de quem já foi.”

Em 2009, a empresa despertou o interesse da Globo Comunicação e Participações, holding responsável pelo canal TV Globo, Globo.com e da gravadora Som Livre. Nesse mesmo ano, a Globo adquiriu o controle acionário do Mundi e criou junto com os fundadores da empresa a Mosaico Negócios de Internet. Pacheco, Pierotti e Malta se tornaram sócios da Mosaico e passaram a gerenciar o site de turismo e a trabalhar em outros projetos do grupo. Além do Mundi, a holding adquiriu mais duas empresas de jogos e espera entrar em outros mercados nos próximos anos. “A gente não abriu mão de ser empreendedor. Nós somos sócios e executivos e temos a Globo como uma sócia também”, conta Pacheco.

Hoje, aos 33 anos, Pacheco é CEO do grupo e nem pensa em deixar de investir na web. “Há ainda muitas oportunidades para explorar. Com a Mosaico, nossa proposta é investir mais em áreas que facilitam a vida do consumidor. A gente não quer vender. Queremos ajudar a vender, queremos ser muito mais mídia para ajudar a divulgar produtos ou empresa de entretenimento do que operadoras de e-commerce.”

Há mais de dez anos se dedicando a negócios na web, Pacheco considera que um dos pontos fortes do sucesso que ele e os sócios conquistaram foi porque agiram rápido. “Se você descobriu uma coisa nova na web, é preciso ocupar esse mercado. Muitas vezes o investidor perde uma oportunidade que ele mesmo criou porque demorou e alguém veio mais rápido e tomou o seu mercado.”

Contato:

Mundi: www.mundi.com.br

Facebook
Twitter
LinkedIn