Brasil busca nacionalizar tecnologias que melhoram a vida de pessoas com deficiência

A oferta de produtos e serviços voltados às necessidades de pessoas com deficiência é uma oportunidade de negócio que começa a ser descoberta pelas micro e pequenas empresas e vem se consolidando, na medida em que o país busca sair de uma situação de importador para desenvolvedor de tecnologias inclusivas. A partir de janeiro de 2015, o Sebrae iniciará uma série de chamadas públicas para selecionar projetos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias voltadas ao tema em todo o país. Cada chamada deverá contemplar de 50 a 70 projetos e estão programadas para o primeiro semestre. A meta é apoiar, dentro do Programa Sebraetec, 240 projetos, com um investimento de aproximadamente R$ 28 milhões, inclusive para as tecnologias que atendem às demandas específicas desse público.

São aplicativos, equipamentos ortopédicos e auditivos, próteses, entre outros itens que promovem a qualidade de vida, a inclusão e a independência dos 45,6 milhões de brasileiros que vivem com algum tipo de deficiência. Nesse contexto, o Brasil ainda é extremamente dependente de tecnologias importadas. “Essa população ainda tem uma enorme demanda não atendida por produtos e serviços que assegurem sua inclusão. Por isso, é extremamente importante investir em inovação tecnológica para tornar cada vez mais acessíveis soluções modernas e adaptadas às particularidades da população brasileira”, afirma o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

Atualmente, o Sebrae apoia micro e pequenos negócios que investem nesse mercado voltado para as pessoas com deficiência. “A acessibilidade como negócio é um mercado que privilegia as pequenas empresas. A produção acontece em pequena escala e o empresário precisa conhecer profundamente as demandas e características específicas do seu público”, ressalta Luiz Barretto.

Sinalização – O mais recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. De acordo com esses dados, a deficiência mais frequente entre a população brasileira é a visual. São cerca de 35 milhões de pessoas com dificuldade de enxergar, mesmo com óculos ou lentes de contato.

Uma lei federal de 2004 obriga as edificações a instalarem sinalização própria para pessoas com esse tipo de deficiência. Na empresa de Jair Rais – a Andaluz Acessibilidade – são produzidas placas em braile e também sinais indicativos colocados no piso para orientação. Todos os produtos obedecem a um código específico, que ajuda a pessoa com deficiência visual a se localizar em qualquer ambiente.

Com o apoio dos programas de incentivo à tecnologia do Sebrae, o empresário começou o negócio em 2004, com investimento de R$ 50 mil e quatro funcionários. Hoje, com mais de 60 funcionários, faturamento anual de mais de R$ 3 milhões e mais de mil clientes, a empresa de Jair forneceu seus produtos para a adaptação das arenas de Brasília, Porto Alegre, Recife, Natal e Salvador, utilizadas na Copa do Mundo FIFA, e também contribuiu com as reformas dos aeroportos de Guarulhos e do Galeão, no Rio de Janeiro.

Para Jair, o mercado só tem a crescer: “Mais do que nunca, as pessoas estão tomando consciência do tema acessibilidade. E ainda há muito por ser feito. Os prédios já adaptados não chegam a 3% das construções existentes. Sem contar com as novas obras que estão surgindo para o futuro”, avalia o empresário. Ele afirma que resolveu apostar na tecnologia nacional por conta das normas técnicas brasileiras e devido ao alto custo para importar o produto, que não é isento de imposto. “O preço do item importado pode sair mais que o dobro daquele fabricado no Brasil”. Jair diz que apostar em tecnologia nacional assegurou o ingresso a um mercado altamente competitivo. A Andaluz já exportou para Portugal, Alemanha, Omã, Uruguai, Argentina, Israel, Bolívia e Chile.

Inovação – O número de brasileiros com deficiência auditiva é de cerca de 9,7 milhões de pessoas, o que representa 5,1% da população. Nesse contexto, a Incluir, empresa de Tecnologia Assistiva que desenvolve soluções para pessoas com deficiência, está dando uma importante contribuição para o tratamento da surdez. Sediado em Itajubá (MG), o empreendimento desenvolveu, com o apoio do Sebrae, uma plataforma para internet que realiza testes baseados na Língua Brasileira de Sinais (Libras), para avaliar o desenvolvimento de habilidades e o aprendizado da língua.

O objetivo, segundo o sócio-diretor da empresa, Fernando Freitas, é facilitar a avaliação do uso da língua de sinais por deficientes auditivos que tenham ou não problemas de fala. “São testes que analisam aspectos neurolinguísticos que influenciam diretamente na habilidade de leitura e escrita”, explica. A ideia surgiu ao observar como eram aplicados os testes. “Os pacientes assistiam a vídeos e imagens que eram passados de forma manual no computador, e os diagnósticos eram escritos à mão”, conta.

Com a plataforma, chamada Linintec (www.linintec.com.br), as imagens são passadas de maneira automática e os profissionais podem ter as informações armazenadas em um banco de dados para futuras análises, o que automatiza todo o processo. “Ela funciona de forma dinâmica, por meio de uma tecnologia que permite ao aplicador do teste controlar o que o paciente está vendo na tela. Além disso, um relatório com o diagnóstico é gerado ao final da avaliação”, acrescenta Fernando. O lançamento da ferramenta, que será destinada a profissionais da área da saúde e da educação, está previsto para outubro. “Com essa plataforma será possível oferecer o tratamento ideal. Isso não acontecia antes, pois sem uma avaliação adequada, não há como tratar”, destaca Fernando. O projeto da plataforma ganhou o 3º lugar na Olimpíada USP de Inovação, na categoria Empresa Nascente.

Mobilidade – No auge da juventude, Augusto Fernandes levou um golpe do destino. Aos 19 anos, durante um treino de judô rotineiro, ele sofreu um acidente que o deixou paraplégico.  A carreira de atleta foi encerrada naquele momento, mas a partir daquela data nasceu o empreendedor. Augusto buscou conhecer a fundo a realidade das pessoas com deficiência, formou-se em Engenharia Civil e procurou o Sebrae, onde fez diversos cursos de capacitação. Em 2005, ele abriu as portas da TiraQueda, empresa especializada em vendas de produtos de segurança  a esse público.

Hoje a empresa conta com quatro funcionários e o faturamento mensal chega a R$ 20 mil. O sócio, Sandro de Alencar, conta que, no começo, os empresários até pensaram em importar, porém viram que isso era inviável em virtude das Normas Técnicas e do alto custo do produto importado. Sandro conta que essas razões pesaram na decisão de investir apenas no mercado e nos produtos nacionais.

 Informações Agência Sebrae

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