Brasil está caro para turistas estrangeiros

Hospedagem no Rio ou em São Paulo está mais salgada do que em Berlim ou Tóquio

"Planejava ficar um mês no Brasil, mas, quando vi os preços, resolvi ficar a metade do tempo." O comentário feito pelo canadense Cory Augustyn, 32 anos, no Rio de Janeiro resume a percepção crescente entre estrangeiros que visitam o País ou que nem chegam a vir repelidos pelos custos crescentes. Quem tenta reservar um hotel nas principais cidades do País se surpreende. Hoje é mais caro se hospedar no Rio do que em Tóquio, e São Paulo está acima de Berlim.

Num ranking feito pela agência virtual Hoteis.com, o Rio é a 10.ª cidade com a hospedagem mais cara, em uma lista de 50 destinos.

Numa outra comparação, por classe de hotel, nas categorias duas, quatro e cinco estrelas, o Rio só perde para Nova York. Considerando-se apenas os três estrelas, a acomodação em Jerusalém também é mais salgada do que na capital fluminense.

A diferença entre as listas ocorre porque no Rio, ao contrário de outras cidades, grande parte dos hotéis reservados pertence a categorias mais baixas, puxando o preço médio geral para baixo.

A carestia dos hotéis tem tido reflexo direto nos negócios das companhias aéreas que voam para o País. Algumas relatam que está difícil atrair o turista estrangeiro. "Infelizmente, a política hoteleira hoje no Brasil é de tarifas muito acima do normal. Isso impossibilita um pouco (a vinda de turistas), porque o custo fica muito elevado para o passageiro internacional", avalia o executivo da área comercial da Copa Airlines, Leandro Horta.

Grande parte dos altos preços se explica pelo descompasso existente entre oferta e demanda. O próprio presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi, sentiu na pele o problema.

Há duas semanas, em uma viagem de última hora ao Rio, viu-se sem acomodação e teve de dormir na casa de um amigo.

"Em função da pequena oferta de hoje e da procura ser muito forte, você tem preços maiores", explica. Ele afirma que, por causa da escassez de leitos, o Rio já está deixando de receber uma série de eventos. Um plano, porém, prevê a construção de 10 mil quartos na cidade até a Copa do Mundo de 2014.

Câmbio. Já nas alturas, produtos e serviços pesam ainda mais no bolso dos estrangeiros por causa da valorização do real ante outras moedas. Em seis anos, a cotação do dólar saiu de cerca de R$ 2,15 para menos de R$ 1,60. Por conta disso, além de hospedagem, alimentação, entrada para atrações turísticas e transporte estão mais salgados para os turistas que vêm ao País. Andar de metrô no Rio e em São Paulo, por exemplo, custa mais do que em Los Angeles ou Roma.

Prestes a embarcar no bondinho do Pão de Açúcar, pelo qual pagaria R$ 44, o canadense Cory, que viaja na companhia da finlandesa Eva Gronow, 20 anos, e da australiana Laura Kennedy, 31 anos, externou decepção com os preços. "Muitas coisas são mais caras até mesmo do que nos nossos países", diz o turista, ao lamentar que na viagem de seis meses pela América do Sul, a passagem pelo Brasil terá de ser encurtada. Para ter uma ideia, um passeio na Estátua da Liberdade, em Nova York, custa o equivalente a R$ 30, aproximadamente.

Também surpresa com os custos, Laura reclama, principalmente, da alimentação. "Ontem pagamos R$ 22 por uma porção de 12 bolinhos de queijo. É muito caro." Nem mesmo se hospedando em um albergue, acomodação mais econômica, o grupo conseguiu escapar dos altos preços. "Pagamos R$ 33 durante a semana e R$ 45 no fim de semana. Na Argentina e no Chile, é mais barato", compara Cory.

Dados divulgados pela Embratur há duas semanas mostram que o número de turistas no Brasil chegou a 5,16 milhões em 2010, um aumento de 7,5% ante o ano anterior, mas ainda inferior ao recorde de 2005.

Apesar do avanço, o professor de economia Alcides Leite, da Escola de Negócios Trevisan, avalia que o número ainda é tímido na comparação com países como México e Argentina. "Somos um país de grande dimensão. Poderíamos ter de três a quatro vezes mais turistas do que recebemos."

O presidente da Embratur, Mário Moysés, reconhece que os preços estão elevados e afirma que o País precisa encontrar meios de lidar com o câmbio valorizado. "A valorização do real faz com que tenhamos um produto turístico com um preço cujo patamar exige que melhoremos em qualidade", declarou em evento .

Demanda interna. Para Leite, porém, há outros fatores além do câmbio que explicam as tarifas cobradas. De costas para o turismo internacional, o País teria investido pouco no setor, o que resultou em baixa concorrência e custos altos para os turistas. Além disso, uma carga tributária pesada sobre produtos e serviços agrava a situação.

Tudo isso num momento em que a demanda interna está altamente aquecida. Com dinheiro no bolso e crédito disponível, a nova classe média entra com vontade no mercado consumidor de produtos turísticos, lotando os principais destinos do País. Esse quadro gera um ambiente ainda mais favorável a preços elevados.

"As classes C e D estão vindo para a nossa base de consumo", diz Fermi, da ABIH. "Nos últimos 15 anos, foram 30 milhões de brasileiros e todos os indicadores econômicos levam a crer que vamos ter mais 50 milhões nos próximos dez."

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn