Cafeicultores do Brasil investem mais em meio a preços altos

Produtores de café do Brasil elevaram os investimentos nas lavouras diante dos preços mais altos da commodity, substituindo velhos pés por novos, mais produtivos, e muitos também aumentaram a adubação, com o objetivo de melhorar a produtividade nas próximas safras.

Os preços na fazenda subiram entre 30 e 40 por cento até agora neste ano, devido aos baixos estoques, prováveis safras menores na Colômbia e Vietnã e certamente um ano de produção menor no Brasil em 2011, com o período de baixa no ciclo do arábica.

"Os produtores estão um pouco mais otimistas com o preço e estão replantando algumas lavouras que tinham baixa produtividade", afirmou Marcelo Almeida, diretor para agronegócio da Cooparaiso, cuja produção em sua área de atuação representa quase de 10 por cento do total colhido no Brasil.

A Cooparaiso, no sul de Minas Gerais, estima que os cooperados vão aumentar a taxa de poda e renovação em cerca de 3 por cento este ano, contra 2 por cento do nível normal, com o objetivo de ampliar a produtividade.

Outras fontes também dizem que haverá uma importante mas não dramática manutenção e renovação das plantações.

Produtores e exportadores concordam que o Brasil precisa colher uma média de 50 milhões de sacas por ano para acompanhar o crescimento da demanda e manter a sua participação de mercado, e investimentos poderiam ajudar o país a obter tal meta.

A média das últimas quatro colheitas, incluindo a de 2010, foi de 42,2 milhões de sacas de 60 kg, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As estimativas de exportadores são tradicionalmente 3 milhões de sacas superiores às da Conab.

A Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda) também estima que o café foi um dos principais impulsionadores para o aumento das vendas de insumos entre janeiro e outubro, embora os dados por segmento não estejam disponíveis.

Os investimentos em maquinário necessários para produzir o café de alta qualidade também estão aumentando.

Mas enquanto os produtores podem ter recuperado o entusiasmo para investir, uma escassez nas mudas de pés de café é um desafio.

"Ninguém previu esta (demanda) vindo. Eu fiquei sem mudas tempos atrás", disse Walter Garcia Bronzi, que produz 1,5 milhão de mudas por ano em áreas de maior altitude no norte de São Paulo.

"No próximo ano eu vou tentar fazer 2 milhões de mudas", disse entusiasmado por preços que dobraram para quase 40 centavos cada.

Fazer a poda de árvores improdutivas e substituir aquelas mais velhas inicialmente reduz a produção das fazendas. As árvores demoram uma temporada depois da poda para voltar a produzir com vigor.

Novas árvores levam três anos para começar a produzir volume significativo e só atingem a plenitude após cinco anos.

"MELHOR ANO DE TODOS"

Apesar dos preços melhores, alguns produtores podem ainda não ter recursos para investir muito mais porque o salto dos preços do café ocorreu depois de parte dos cafeicultores, particularmente associados de cooperativas, já terem vendido sua produção a preços mais baixos.

"Este aumento dos preços não chegou ao bolso dos produtores", disse Lucio Dias, trader sênior da Cooxupé.

A Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo, disse que seus cooperados ganharam em média 289,47 reais por saca, cerca de 14 por cento mais que os 253,78 reais do ano anterior, com vendas antecipadas.

Os preços aos produtores para o café de qualidade para exportação têm ficado entre 300 e 400 reais por saca há meses. Os produtores fazem vendas antecipadas agora com preços acima de 2 dólares por libra-peso, e podem ter um melhor desempenho na próxima temporada.

Os produtores de café também têm outras demandas no bolso antes de considerar quando e quanto investir. Financiadores de produtores altamente endividados esperam que estes usem os recursos para quitar seus débitos que foram renegociados quando os preços da commodity caíram nos últimos anos.

"Se os produtores fizerem isso, eles terão maior capacidade para conseguir crédito no futuro", disse Álvaro Schwerz Tosetto, diretor de agronegócio do Banco do Brasil, o principal financiador agrícola no País.

Mas a julgar pelos comentários de exportadores e torrefadoras, talvez nunca se tenha um momento tão favorável para considerar mais investimentos.

"Este ano tem sido um dos melhores na história dos produtores brasileiros de café. Produtores têm um grande incentivo para melhorar, focando seus campos para aumentar a produção", disse John Wolthers, da exportadora Comexim.

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