Carne de jacaré do Brasil está apta para ganhar o mundo

A carne de jacaré mato-grossense, criado em cativeiro, pode ganhar o mundo. O único frigorífico da América Latina equipado para o abate do réptil, localizado em Cáceres (250 km a sudoeste de Cuiabá), já conta com o Selo de Inspeção Federal (SIF), expedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o que lhe garante a comercialização do produto tanto em território nacional como no mercado externo.

A solenidade de entrega do certificado será nesta terça-feira, dia 1º de julho, na sede da Cooperativa dos Criadores de Jacarés do Pantanal (Coocrijapan), onde está localizado o frigorífico, que já conta com o Selo de Inspeção Sanitária Estadual (SISE). Na ocasião, além da visita ao criatório de animais, os participantes vão degustar um coquetel com pratos a base de carne de jacaré, como petiscos e patês.

O coordenador nacional de projetos da carteira de carne, aqüicultura e pesca do Sebrae, João Fernando de Almeida, destaca a importância dessa conquista. “O SIF coroa a batalha desses produtores e significa um importante impulso na comercialização da carne do jacaré no País e no exterior. Tudo indica que o sucesso será grande, pois aliado a essa conquista, há um grande trabalho do Sebrae/MT na divulgação dessa carne exótica para as diversas camadas da sociedade”, diz.

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Segundo a gestora do Projeto de Animais Silvestres do Sebrae/MT, Cynthia Justino, além de Mato Grosso, onde é comercializada em supermercados e consumida em pizzarias, restaurantes e hotéis, a carne de jacaré é bastante procurada principalmente em São Paulo e no Nordeste do Brasil. Cynthia acredita ainda que haverá demanda por parte de restaurantes do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. “Há também um grande interesse em exportá-la para o Sudeste Asiático”, afirma.

O diretor financeiro da Coocrijapan, Gastão Sharp, destaca que além dos países asiáticos, que têm mais interesse por carnes exóticas, a cooperativa já tem feito contatos também com Alemanha e Estados Unidos da América. Segundo ele, há grande expectativa de aumento das atividades do frigorífico.

“O total de animais para abate hoje é de algo em torno de 70 mil, com operacionalidade atual do frigorífico para 300 animais/dia. Nosso objetivo próximo é atingir a meta de 500 animais/dia”, diz Gastão. Segundo ele, o objetivo do frigorífico é dar o suporte necessário a todos os criatórios para o desenvolvimento legal da atividade. “Estamos aptos a atender todos que quiserem ingressar nesta atividade, autorizados pelos órgãos competentes, e que se sentiam cerceados por não terem onde abater seus animais”, completa.

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Conquista

A criação cresce a cada ano. Em 2006 foram abatidos 3,5 mil jacarés. Já em 2007, o número subiu para 24 mil. Hoje são mais de 247 mil animais em cativeiro, um aumento de 607% na comparação com 2006, quando existiam 35 mil animais. Essa conquista é fruto de muito trabalho. Há quase 20 anos os produtores de Cáceres fazem a criação de jacaré e há três anos contam com a parceria do Sebrae. Fazem parte dessa conquista também os criatórios Sítio Yacare e Jacarepan, situados em Cáceres, Aguacerito, em Poconé (100 km a oeste de Cuiabá) e Yacare Ayty, de Cuiabá.

De acordo com a técnica do Sebrae/MT, o Projeto de Animais Silvestres entra em uma nova etapa. “Estamos buscando alternativas à carne in natura. A idéia é partirmos também para a industrialização. Há no Centro Federal de Tecnologia (Cefet) de Cuiabá a experiência da lingüiça de jacaré. Nossa meta é criar um mix de produtos (hambúrguer, nuggets, salsicha e almôndega) para facilitar o consumo”, explica.

“Com o lançamento, em 2006, do livro ‘Sabor Silvestre’, além da realização de oficinas e degustações, aumentou a procura pela carne de jacaré”, diz Cynhtia Justino, acrescentando que nas degustações houve também a preocupação em adaptar a carne a pratos típicos, como a paçoca de pilão pantaneira, ou a petiscos como o bolinho e o rolinho de jacaré, em substituição ao bolinho de bacalhau e ao rolinho primavera da culinária chinesa.

Ela explica que o nível de tecnologia utilizado no abate do animal torna a carne boa em todos os tipos de cortes – do filé à patinha, passando pela isca. “Há testes também com a língua e o coração, para serem degustados como petiscos”, conclui a técnica do Sebrae em Mato Grosso. A textura da carne de jacaré se assemelha a do frango. Além disso, a carne do jacaré criado em cativeiro não tem sabor forte, o que a torna versátil, possibilitando diversas combinações com diferentes temperos.

A parte mais nobre do filé de jacaré é vendida a R$ 25 o quilo. A menos nobre pode sair entre R$ 15 e 17 o quilo. É importante destacar que os produtores seguem todos os requisitos ambientais, inclusive de preservação e manutenção dos principais rios da região.

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