China e Estados Unidos: Novembro Decisivo

No início de novembro, dois importantes eventos atrairão a atenção de todo o mundo. No dia 6, os eleitores americanos decidirão se o presidente Barack Obama continuará ou não no posto nos próximos quatro anos ou se o país voltará a ser comandado pelo partido Republicano de Mitt Romney. No dia 8, começa na China o 18 º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, que deverá ratificar a escolha de Xi Jinping como secretário geral do partido e novo presidente do país, que iniciará seu mandato em março do ano que vem.

Nos Estados Unidos, o que estará em jogo é o caminho a ser escolhido para manter o poderio americano. A diferença entre os programas de Obama e Romney é bastante grande. Para Obama, não é mais possível aos Estados Unidos bancar o papel de Xerife do mundo. As condições financeiras do país impedem tal conduta. Obama acredita que a manutenção do poderio americano depende do fortalecimento da economia interna e dos investimentos em infra-estrutura e educação. A prioridade é a redução do déficit e da dívida pública e principalmente dos níveis de desemprego. Para Romney, a manutenção do papel de xerife mundial é condição para a recuperação da economia americana. Ele crê que os gastos militares servem de motor para a economia, desde que o Estado reduza seus gastos sociais. Menos Estado no campo social e mais presença militar internacional são bandeiras defendidas pelo candidato republicano.

As dificuldades enfrentadas por Obama ao longo dos últimos quatro anos, fruto da herança perversa da crise financeira de 2008, corroeram parte de sua popularidade. A lenta recuperação da economia americana nos últimos meses foi suficiente para estancar esta corrosão, mas não para trazer de volta toda a confiança que a população depositava no presidente. Mesmo assim, é provável que Obama seja reeleito em 6 de novembro. O discurso de Romney, embora motivador, parece um pouco extemporâneo para os pobres, os jovens, os latinos e os negros americanos. A classe média liberal também contesta a relação custo-benefício da manutenção do poderio militar americano.

Na China, embora o ritmo de crescimento da economia tenha desacelerado, ele ainda continua alto para os padrões internacionais. Enquanto as economias americana e européia devem fechar o ano com crescimento de 2% e 0% respectivamente, a economia chinesa deve crescer em torno de 8%. O crescimento chines, que seria um sonho para outros países, pode se tornar um pesadelo para o país asiático. O novo governo chines terá dificuldades para atender as gigantescas demandas de sua população. O aumento da desigualdade entre os pobres e ricos, a enorme burocracia interna, a carência de insumos energéticos e de alimentos, somados aos desejos de liberdade típicos da classe média ocidental e as denúncias de corrupção no governo, tornam difícil encontrar uma equação que possa satisfazer a todos.

O modelo de sucesso iniciado na década de 90 do século passado por Deng Xiaopeng, que garantiu duas décadas de alto crescimento econômico, quadruplicou a renda per capita e estendeu a segurança social no país, parece estar se esgotando. Modelo econômico baseado na industrialização voltada para a exportação, manutenção de câmbio fixo em relação ao dólar, agregado ao modelo político centralizado já não consegue repetir os êxitos do passado.  

O equacionamento dos problemas da China e dos Estados Unidos estão interligados. As duas principais economias do mundo precisam de mudanças, e estas devem estar conjugadas. A menor dependência do mercado americano em relação às importações e a maior atenção do goveno chinês ao mercado interno precisam ser implantados de forma gradual, progressiva e sobretudo concatenadas.

Assim como não é mais possível aos Estados Unidos continuar como xerife do mundo, também não é mais possível à China continuar como a fábrica do mundo. Da superação dessas condições depende o crescimento da economia global. Para o Brasil, especialmente, o sucesso dos dois principais países do planeta tornou-se condição para o seu próprio sucesso. 

Alcides Leite é economista e professor da Trevisan Escola de Negócios.  

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