China promete diversificar compras do Brasil

Comunicado assinado pelos dois países busca assegurar a reciprocidade no relacionamento comercial e ampliar parceria 

A reciprocidade deve pautar o relacionamento entre Brasil e China, disse ontem a presidente Dilma Rousseff, para quem o relacionamento bilateral só "irá para frente" se beneficiar os dois lados. "O que valer para o Brasil, vale para a China e vice-versa", disse a brasileira em entrevista coletiva em Pequim, depois de se encontrar com seu anfitrião, Hu Jintao.

Ambos participaram de reunião de trabalho e de um banquete no Grande Palácio do Povo, o edifício em estilo soviético localizado na Praça Tiananmen, no coração político da capital chinesa.

Dilma deixou o encontro com acordos comerciais para venda de aviões, anúncios de investimentos no setor de tecnologia no Brasil, abertura do mercado local para carne suína e a promessa de diversificação das exportações brasileiras ao país asiático.

Com dez páginas e 29 itens, o comunicado é o mais longo já assinado por presidentes dos dois países e reflete a crescente institucionalização do relacionamento bilateral. Diz que os dois países reconhecem a necessidade de intensificar o diálogo sobre estruturas de comércio e diversificação da parceria bilateral.

"A parte chinesa manifestou disposição de incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos de maior valor agregado do Brasil. A parte brasileira reafirmou o compromisso de tratar de forma expedita o reconhecimento da China como economia de mercado (…)"

A cobrança dos chineses levou a presidente Dilma Rousseff a concordar com a inclusão do tema de reconhecimento da China como economia de mercado, embora o aceno seja mais retórico do que prático. O Itamaraty não mostra intenção em ver concluído o procedimento interno – iniciado em 2004, no governo Lula – para reconhecer a China como economia de mercado.

Depois assinar acordos de cooperação com Hu Jintao, Dilma disse estar confiante em um superávit comercial "de outra qualidade" na aliança com a China. "Uma relação só vai para a frente quando beneficia os dois lados", afirmou ela, após brindar com o presidente Hu o que definiu como "novo capítulo" da parceria.

Em discursos ao longo do dia, no entanto, o tom adotado por Dilma foi mais duro. No encerramento de um seminário empresarial, a presidente destacou que, no mercado globalizado do século 21, nenhuma nação deve agir como se os seus interesses individuais estivessem acima do coletivo. "Nenhum país pode aspirar o isolamento nem assegurar sua prosperidade à expensa de outros", insistiu. "A estabilidade e o crescimento da economia mundial dependem de um relacionamento equilibrado entre as partes."

Queixas. A exigência de reciprocidade responde a queixas de empresas brasileiras que enfrentam barreiras para investir na China ou exportar produtos de maior valor agregado. "Precisamos agregar valor antes de exportar, e não achar que é absolutamente natural que só exportemos produtos básicos."

O aumento da participação de bens industrializados nos embarques brasileiros foi o principal objetivo comercial da visita. "Temos clareza de que queremos um superávit de outra qualidade, não só baseado em commodities", afirmou a presidente.

Segundo ela, a China se mostrou disposta a abrir espaço para produtos de valor agregado. O primeiro gesto será o envio ao Brasil em maio de uma "missão de compras" chefiada pelo ministro do Comércio, Chen Deming, cujo objetivo será adquirir produtos industrializados.

 

 

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