Com Lei Seca, empreendedor busca alternativas para não perder clientes

Ronaldo Camelo, dono dos bares São Bento, São Bento Vila Madalena e Dona Flor, localizados em bairros badalados de São Paulo, conta que já contabiliza perda acentuada de clientes aos sábados. A queda chega a 30%. Na sexta-feira, por sua vez, a perda de clientes varia entre 15% e 20%.

"Quem freqüenta meus bares aos sábados são pessoas que moram mais longe e que ficam com receio de beber e acabar sendo pego em uma blitz da polícia", afirma o empresário, na tentativa de explicar a queda no movimento do final de semana.

Isso ocorreu por conta da Lei Seca (lei 11.705), sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 19 de junho último, cujo objetivo é diminuir os acidentes de trânsito. Sabe-se que muitos deles ocorrem quando o motorista está sob efeito do álcool. A lei parece estar funcionando, pois está afugentando as pessoas dos bares.

De acordo com o diretor-jurídico da Abrasel (Associação Brasileira de Restaurantes e Empresas de Entretenimento), Persival Maricato, desde que ela entrou em vigor, os bares sofreram uma queda entre 30% e 40% no faturamento, o que acarretará demissões.

Criatividade empreendedora
Como o governo não indica que irá recuar, o jeito, para os empresários que administram bares, restaurantes e danceterias, é usar a criatividade. É o caso de Camelo. "Estamos tentando minimizar a perda, principalmente nos fins de semana", conta ele.

Seus bares estão entre os sete que participam do Movimento Piloto da Vez, programa da Johnnie Walker que apóia o consumo responsável de álcool. Uma das ações do movimento começará em caráter experimental neste sábado (12). A partir das 19h do sábado até as 5h da madrugada de sábado para domingo, maiores de 18 anos poderão pegar táxi gratuitamente para voltar para casa.

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No total, a Johnnie Walker arcará com 5 mil quilômetros de corrida de táxi, sendo cada corrida de até dez quilômetros (se a distância foi maior que isso, o usuário deverá pagar a diferença). Para participar, é preciso ligar nos telefones (11) 5069-0404 e (11) 2163-9555 e dizer a senha: "Quero meu piloto da vez". Ainda será possível retirar boletos da Central Comum Rádio Táxi nos bares de Camelo e nos demais bares parceiros: Kia Ora, London Station, All Black e Charles Edward.

Outras ações
Mas engana-se quem pensa que as ações implementadas pelo empresário, para não sair perdendo com a nova lei, limitam-se às corridas gratuitas de táxi. Ele conta que, em parceira com a Sensa, lançará, no próximo dia 16, o primeiro chopp sem álcool. Além disso, ele decidiu oferecer feijoada na hora do almoço. "É uma forma de não ter que demitir meus funcionários", diz. "Todo mundo deve usar a criatividade".

Alguns bares estão oferecendo aos clientes caronas para casa via motoboy. Camelo lembra que a ação é muito perigosa. "Se ocorre algum acidente no trajeto para a casa do cliente, a culpa é da empresa. Em Londres, sei que eles oferecem serviços parecidos, mas lá eles fazem seguro", argumenta.

Sobre os bares que compraram bafômetros, para que seus clientes vigiem o consumo de bebidas alcoólicas, ele diz que não é uma ação muito convidativa. "Não acho uma idéia simpática".

Incentivo ao consumo consciente pode ser marketing
Apesar de ser dono de bares, ele já apoiava o consumo consciente antes do advento desta lei. "Meus garçons dão orientações. Com o consentimento dos clientes, perguntam, em cada mesa, quem irá dirigir de volta para casa. Quando o motorista é apontado, eles colocam uma braçadeira, indicando que os outros garçons estão proibidos de servir bebidas alcoólicas a ele. A ação tem a simpatia das pessoas".

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"Alguns ficam reclamando, mas a maioria está consciente", revela. Ao contrário de temer a queda no faturamento com isso, Camelo explica que é uma forma de atrair e fidelizar clientes. "A responsabilidade social está muito em voga hoje. Estimular o consumo consciente é bom para nossa imagem".

Sobre a lei
Segundo a Agência Brasil, pela nova regra, quem apresentar no teste do bafômetro percentual de álcool no sangue próximo de 0,3 miligrama fica sujeito a prisão de seis meses a três anos. Quando em quantidades inferiores, o condutor pode receber multa de R$ 955, perder a carteira de habilitação e ter o automóvel apreendido.

No caso dos motoristas presos, os juízes têm optado, posteriormente, pela liberação deles, mediante pagamento de fiança que vai de R$ 300 a R$ 1,2 mil, informou o inspetor da Polícia Rodoviária Federal Alexandre Castilho à agência.

Antes dessa lei, o teor alcoólico permitido aos motoristas era de até seis decigramas de álcool por litro de sangue (o equivalente a cerca de dois copos de cerveja). Com a entrada em vigor da nova lei, o motorista que se recusar a fazer o teste do bafômetro sofrerá as mesmas sanções aplicadas ao motorista embriagado.

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