Competir, tudo bem. Mas sem golpes baixos

27|09|2011

Competição é uma das palavras de ordem no mundo corporativo. Assim como as organizações, os executivos competem entre si, na medida em que todos almejam o mesmo objetivo, que é o sucesso. E não há lugar nos primeiros lugares do pódio para todo mundo. Porém, a competição dentro da empresa deve ser saudável, no sentido de estimular a criatividade e a inovação, sem, contudo, envenenar o ambiente de trabalho.

O problema é que boa parte das pessoas não está preparada para competir, seja por falta de preparo, seja por preconceitos contra essa prática saudável. Alguns não conseguem ao menos distinguir competição da famosa “puxada de tapete”, que na realidade remete-se a um desvio de conduta ou à falta de caráter.

Há quem, por questões ideológicas, acredite que a competição é uma prática neoliberal. Quando se falta em competitividade do executivo deve-se pensar primeiro em sua formação. O profissional que sonha com o sucesso deve procurar diferenciar-se dos demais e buscar melhor qualificação: cursar uma universidade de ponta, investir em pós-graduação ou em MBA oferecido por instituições reputadas, ser fluente em inglês e, se possível, falar mais um outro idioma.

Com boa formação, o profissional iniciante que almeja fazer uma bela carreira executiva pode disputar as concorridas vagas em organizações de excelência. O começo sempre é difícil, pois a relação candidatos/vaga nas empresas de melhor reputação chega a ser maior que a dos vestibulares para os cursos mais disputados.

Veja o tamanho do desafio: 72 mil recém-formados se inscreveram a enxutas 22 vagas do programa de trainee 2010 da Ambev, talvez o mais disputado do País. Na seleção da Unilever 2011, foram cerca de 48 mil candidatos para apenas 28 vagas; na empresa de logística ALL, há uma média 20 mil candidatos competindo por 20 vagas por ano. Mas a competição é acirrada não apenas para as vagas de trainees, que abrem as portas do mercado de trabalho para os recém-formados.

Hoje, as empresas contratam headhunters para buscar os melhores profissionais do mercado, o que reforça a competição. Bem, é mais fácil entender a competição por vagas no mercado, na qual vencem os mais bem preparados, os melhores talentos. E dentro da empresa, onde todos se conhecem, convivem, dependem um dos outros, tomam chope juntos no fim do expediente e às vezes até se tornam amigos íntimos.

Como deve ser a competição e quais são os limites que a regem a fim de o ambiente não se transforme numa selva hostil, comprometendo a coesão, o trabalho em equipe e a produtividade da organização? A competição deve ser pautada pela ética. Um profissional tem o pleno direito de se sobressair pelo talento, pela criatividade, pelo brilhantismo, desde que suas atitudes e comportamento na empresa não prejudiquem os outros.

A disputa interna entre dois profissionais pela promoção a uma única vaga deve ser cordial, respeitosa, sem golpes baixos, sem intrigas ou sabotagem. Honestidade é outro princípio que deve nortear a competição. Um dos graves pecados corporativos, por exemplo, é “roubar” as ideias e o trabalho intelectual do colega e da equipe para levar vantagem junto aos líderes. Esse é o típico comportamento do executivo que, numa reunião, só conjuga os verbos na primeira pessoa do singular – “eu fiz”, “eu desenvolvi”, “eu criei”, “eu planejei” –, sem dar crédito aos esforços, ao trabalho e ao talento da equipe.

Outro pecado capital corporativo é tentar humilhar e desmoralizar o colega e menosprezar seu trabalho, no intuito de excluí-lo da lista de favoritos a uma promoção. Enfim, na competição não vale golpe baixo.

Marcelo Mariaca é presidente do Conselho de Sócios da Mariaca e professor da Brazilian Business School.

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