Cresce endividamento entre jovens brasileiros

A faixa de idade que lidera o ranking da inadimplência é composta por pessoas entre 21 a 30 anos

Com o aumento das compras, facilitadas pelos meios de pagamento cada vez mais flexíveis, o número de devedores só aumenta. Especialmente entre os mais jovens. A faixa de idade que lidera o ranking da inadimplência é composta por pessoas entre 21 a 30 anos. Pesquisa mostra que 41% dos paulistanos com esta idade não têm condições de honrar os débitos.

No início do ano passado, esse grupo representava 28% dos devedores. Os dados são do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo. Cerca de 60% desses endividados dizem ser impossível quitar os empréstimos dentro de um mês. Vários fatores explicam a tendência de as dívidas pertencerem a um grupo de pessoas que, há dez anos, sequer tinha condições de financiar carros em vários anos – por conta da situação econômica – como ocorre hoje.

Entre os motivos, especialistas destacam a responsabilidade dos pais. "Trabalham muito e sentem culpa por não estarem presentes na vida dos filhos. Ao invés do afeto, transferem bens de consumo. Tentam suprir a falta pessoal", diz o psicólogo Alessandro Viana. Ele explica que com muitos mimos e sem condições de impor limites geram impulsos nos filhos por consumo, acostumados com muitos presentes.

O acesso à internet só contribuiu para tornar as novas gerações mais inclinadas para o imediatismo – influenciando as compras. Viana explica que antes consumidor dessa faixa de idade tinha de pesquisar preços para determinado produto nas ruas. No caminho, media a necessidade real de adquirir o item e, muitas vezes, desistia da ideia. Hoje, compras on-line beneficiaram o consumo facilitado e rápido, sem tempo para essa reflexão. "Um exemplo é se o jovem briga com a namorada. Para aliviar o consumo, faz compras. Nos casos mais graves, de oneomania (comprador compulsivo), o indivíduo compra um item. No dia seguinte não é mais interessante, se arrepende, e para aliviar a emoção, compra novamente. Vira um ciclo vicioso", afirma Viana.

O presidente da Associação Brasileira do Consumidor, Marcelo Segredo, frisa ainda a ausência de planejamento financeiro na cultura do brasileiro. "Os jovens de 18 a 30 anos cresceram olhando os pais comprando tudo no prazo: carro, casa, TVs." Para ele, o consumidor não prevê o financiamento completo, apenas se as parcelas cabem no bolso. "O marketing também contribuiu. Muitos consomem para se sentir integrantes de um grupo, vivem em função de outra realidade."

Num cenário econômico sob políticas restritivas – a fim de conter a inflação – os jovens são os primeiros a perder o emprego ao menor sinal de "sacudida no mercado", defende o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Fato que intensifica ainda mais a dificuldade deles honrarem suas dívidas.

Solução para pendências é planejamento

Ciclo de gastos sem fim. Um dos vilões nessas compras desenfreadas é o cartão de crédito. Foi o que definiu a vida financeira do vendedor Cláudio Lima, 30 anos. As despesas não pagas, que somam em média R$ 5.000, não foram feitas da noite para o dia. A Via-crucis que começou há cerca de sete meses.

O autônomo conta que, naquela época, bancava pouco acima do pagamento mínimo da fatura (quando essa taxa era definida pelos bancos; hoje está em 15% e irá aumentar para 20%). "Foi então que perdi o controle de vez. Fui pagando com atraso e, quando vi, os juros eram altos demais", lamenta.

O dinheiro de plástico contribuiu porque, como ele próprio define, não é possível prever quanto se tem disponível em caixa. Débito que se estendeu ao cheque especial. O débito com o limite do banco é de R$ 800, mas ele diz que ainda consegue contornar. "O dinheiro que ganho vai todo para pagar as dívidas", reclama.

Uma das alternativas para casos como o de Lima é manter planejamento financeiro. O problema é que o brasileiro, na opinião do consultor financeiro Marcelo Segredo, não tem hábitos de economizar. "Guardar R$ 2 ao dia significam R$ 60 ao fim do mês e R$ 720 em um ano", calcula o consultor.

As dívidas não afetam apenas a vida pessoal, mas também no trabalho. Sobretudo dos homens, que habituados a tomar a frente no orçamento doméstico, se vêm impotentes frente a uma fatura sem condição de ser paga.

Segredo conta que, por esse motivo, passa hoje mais tempo dentro das empresas orientando sobre finanças do que em consultorias individuais. "O primeiro sintoma do cidadão endividado é a perda da autoestima, depois entra e depressão e perde produtividade", diz.

O economista Emílio Alfieri acrescenta que é preciso cautela na hora de consumir. Prever as taxas de juros, para não comprometer a renda, diz ele, é o primeiro passo.

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