Dólar cai abaixo de R$ 1,60 e BC intervém para segurar queda

O dólar comercial chegou a cair abaixo do patamar de R$ 1,60 na manhã desta quarta-feira e o Banco Central chegou a intervir no mercado comprando moeda, a fim de segurar a queda da moeda norte-americana. Às 14 horas, depois de bater em R$ 1,5980, o dólar é negociado a R$ 1,6010. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) está em alta de 1,29%.

Analistas consultados pela Agência Estado criticaram o fato de o Banco Central ter entrado no mercado de câmbio. "O setor público não deveria intervir", recomendou o economista-sênior do Unibanco, Darwin Dib. Para ele, o custo da intervenção é alto e não há mais sentido em o País acumular reservas internacionais, atualmente próximas a US$ 200 bilhões. "A atuação do BC é anacrônica; é um morto e vivo", considerou.

Avaliação semelhante apresentou o economista do Banco Real, Cristiano Souza. "O BC compra dólar e isso não tem efeito, nem no curto prazo", disse. Questionados sobre se há fundamento nos argumentos dos representantes do BC, de que a atuação visa apenas a suavizar a trajetória da cotação e não de alterar a direção e à recomposição das reservas, os analistas foram categóricos: não há resultado efetivo.

"Gosto de lembrar do que ocorreu em 2007. No ano anterior, as reservas estavam perto de US$ 87 bilhões e, no ano passado, o BC comprou mais US$ 93 bilhões", comparou Souza, dizendo que nem por isso houve uma valorização do dólar. Ele acrescentou que movimentos do mercado costumam ser muito mais fortes do que atuações isoladas de um determinado agente.

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Fundamentos Macroeconômicos

Para os analistas, o movimento de queda do dólar é baseado em fundamentos macroeconômicos e não está apenas relacionado ao quadro brasileiro, mas ao global. "Não se trata de um desequilíbrio, mas é a resultante de um processo de mercado que está aí desde 1999", disse, citando o momento em que o Brasil aderiu ao regime de câmbio flutuante.

Para ele, a valorização do real está fortemente relacionada a um movimento de apreciação das commodities ao longo do ano passado e que não sofreu correção até o momento. "Não só não houve o ajuste como continua o preço em elevação", analisou.

Souza destacou que o movimento de queda do dólar não está circunscrito ao Brasil. "Durante a madrugada, (o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude) Trichet sinalizou que subirá os juros e a expectativa é a de que o Federal Reserve mantenha os juros hoje em 2%", considerou.

Ele lembrou que muitos países no globo já contam com taxas de juro reais negativas por conta da disparada da inflação e que, o mais provável, é que se veja em todo o globo um processo de aperto monetário.

Os profissionais também enfatizaram que, ao contrário dos traders, não são adeptos a avaliações de suporte psicológico. "Lembra da queda do suporte de R$ 2,00?", questionou, referindo-se a 15 de maio de 2007. Para os economistas, o rompimento desse novo nível não trará efeitos práticos para o mercado nos próximos dias. "O maior efeito disso será a gritaria dos exportadores", analisou o estrategista-chefe do Crédit Agricole do Brasil, Vladimir Caramaschi.

Esse fenômeno é visto com naturalidade por Dib, do Unibanco. "Com a flutuação do câmbio, movimentos para cima e para baixo ao mesmo tempo que prejudicam um setor favorecem outro. E o prejudicado costuma colocar a boca no trombone", considerou. Mesmo o benefício sobre a inflação, a grande preocupação atual do governo é marginal, na avaliação dos analistas. "Pode ajudar, mas não é a pedra fundamental", resumiu o economista do Unibanco.

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