Economistas avaliam que hiperinflação é página virada, após 14 anos do Plano Real

No dia 1° de julho de 1994, o então presidente Itamar Franco lançou o Plano Real, tentando pôr fim em um antigo mal da economia brasileira: a hiperinflação. Quatorze anos depois, os aumentos anuais de até 4.000% nos preços de determinados produtos, segundo economistas, já não fazem mais parte das previsões para o futuro do país e são considerados páginas viradas na história do Brasil.

Para o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo, é quase impossível que a inflação volte a atingir patamares parecidos com os de 1993, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 2.477% no ano. “Para trazer de volta a inflação, teríamos de acabar com a democracia, voltar com a indexação formal de preços, com os bancos estatais, e isso parece que não tem volta”, disse o economista, em entrevista à Agência Brasil.

Do Carmo foi coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), apurado pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe), entre 1989 e 2003. Acompanhou de perto a escalada dos preços. Para ele, a alta de produtos dos últimos meses não ameaça a condição alcançada pela economia nacional. “Depois de 14 anos, poderemos ter surtos de inflação periódicos, mas não teremos mais os índices de aumento de antes do Real.”

Um dos responsáveis pela implantação do plano, o economista Gustavo Franco concorda com Heron do Carmo. Presidente do Banco Central entre 1997 e 1999, ele diz que o Real foi o primeiro a tratar a “doença” da  economia brasileira, não os “sintomas”, e por isso atingiu seu objetivo.

“A natureza do problema era fiscal. O governo gastava muito mais do que arrecadava. Conseguimos reduzir esse problema, mas também usamos antibióticos para combater os outros”, destacou Franco, ressaltando o fim da indexação dos preços e a criação do Fundo Social de Emergência, que ajudou o governo controlar seus gastos.

Franco também afirma que a hiperinflação é matéria superada. Hoje, o país tem outros desafios. “Nós tiramos o paciente do tratamento intensivo, mas agora precisamos fazer exercício e cuidar da saúde”, disse. “Temos problemas de finanças públicas e carência de reformas.”

Para Heron do Carmo, as reformas são mesmo importantes, mas, para combater a inflação, mudanças nas regras de reajustes de pedágios, energia elétrica, planos de saúde e outros serviços regulados teriam efeito positivo.

Ele explica que os contratos desses serviços prevêem que os reajustes sejam feitos com base em índices gerais de inflação. De acordo com ele, a elaboração de índices específicos para cada setor faria com que os aumentos fossem mais justos. “É fundamental que a indexação de tarifas seja baseada agora em índices próprios que representem o custo de prestação de serviços que são tarifados”, recomendou.

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