Ei! Você está aí?

Absenteísmo! Aí está uma palavra esquisita, mas que se tornou comum nos ambientes de trabalho, principalmente na era industrial. Em muitas fábricas, funcionava como um indicador de desempenho para sinalizar as ausências no trabalho. A estratégia convencional para lidar com esse problema era (e ainda é) a punição, aplicada de diversas formas. A mais comum é descontar o dia do faltante na folha de pagamentos. Na segunda ausência, além do desconto vem uma advertência do departamento de pessoal. Na terceira, além dessas providências, suspende-se o direito à cesta básica.

Essas punições nunca resolveram o problema e o absenteísmo faz parte dos grandes dilemas de chefes e gerentes de recursos humanos. Mas existe outro vilão e muito mais difícil de combater. Trata-se do ‘presenteísmo’, uma nova palavra cunhada nos ambientes de trabalho. Ao contrário do absenteísmo, em que o corpo não vai para o trabalho, no presenteísmo o corpo – em carne e osso – comparece, mas o indivíduo não está presente, por inteiro. Sim, está ali, sentado na cadeira, olhos fixos na tela do computador, mas ausente do trabalho, dedicado a coisas como navegar na internet, tuitar, curtir o Facebook. Ou seja, totalmente alheio às responsabilidades profissionais.

Quando o trabalho era mais braçal, a presença física na empresa era imprescindível. Alguém tinha que ligar ou desligar as máquinas, manipular equipamentos, manusear instrumentos, etc. Mas quando o trabalho foi se tornando mais intelectual, tudo mudou de figura. O funcionário até pode estar diante do computador sem fazer absolutamente nada relacionado ao trabalho, e talvez ninguém perceba o simulacro.

Então, como evitar esse desvio? Os mecanismos de punição, que já não funcionavam na era industrial, agora são totalmente contraproducentes.

Do presenteísmo ao aqui e agora

Fazer com que as pessoas estejam presentes no ambiente de trabalho é um grande desafio para o líder. Muitas são as distrações e dispersões, principalmente na era em que vivemos, das redes sociais e do mundo on-line. Mas não é só aí que o presenteísmo se manifesta. O trabalho no piloto automático é também presenteísmo, pois o corpo está ali, mas a alma viaja por outras plagas, fugindo de um trabalho em que ela não se reconhece, para sair em busca de algum alento.

É também o caso do trabalho feito na pressa, ou seja, o corpo está, mas ansioso para dar cabo da tarefa o mais rápido possível para, assim que possível, se conectar à alma. Esta aguarda solícita e, muitas vezes, está ávida para se envolver com outros tipos de trabalhos fora da empresa. Entre eles, alguns sociais e outros filantrópicos, até mesmo não remunerados, mas que compensam pela paixão e entusiasmo que provocam – ambos intrínsecos à alma.

Nos casos de presenteísmo, a parafernália tecnológica e o acesso à internet – via Google, Twitter, Facebook e redes sociais – funcionam como válvulas de escape e como a manifestação mais moderna de um mal que assola as empresas há muito tempo: a anomia.

Quem já não ouviu aquela história do mal-estar causado pela musiquinha do Fantástico, no domingo à noite? Sempre achei que fosse uma coisa meio folclórica, até me deparar com pesquisas feitas pelo Gallup, segundo as quais 80% dos empregados detestam voltar ao trabalho na segunda-feira pela manhã. Estudo mais amplo revelou que há maior incidência de ataques cardíacos por volta das 9h, nas manhãs de segunda-feira.

A isso se dá o nome de anomia!

A anomia é uma das principais doenças organizacionais. Manifesta-se quando as pessoas que fazem o trabalho não veem seus valores traduzidos na obra que realizam. Anomia é ausência de valores, mas também de significado. Não saber por que e para quem é feito destitui o significado do trabalho. E o que fazer com a sensação de angústia decorrente disso? A alma sempre vai buscar a pulsação da vida, onde ela estiver. Está aí o desafio para o líder: promover a vida no trabalho.

Do alívio à alegria

Existe o trabalho ‘ufa!’ e o trabalho ‘oba!’. Duas palavras com apenas três letrinhas, uma consoante e duas vogais. As características são semelhantes, mas quanta diferença de significado! Só se parecem porque pertencem à mesma família, a das interjeições. Mas traduzem sentimentos distintos. Costumam ser bastante usadas nas situações em que atingimos algum tipo de resultado. Daí a impressão de proximidade. Mas contam histórias opostas.

Dizemos ‘ufa!’ quando atingimos o resultado, mas o sentimento é de alívio, no final do processo. Ou seja: ficamos livres, passamos a régua, entregamos o serviço. Dizemos ‘oba!’ quando atingimos o resultado, mas o sentimento é de alegria, no final do processo. Realizamos e nos sentimos realizados.

É sutil, porém significativa, a diferença entre o mundo do trabalho ‘ufa!’ e a vida no trabalho ‘oba!’. Tanto no ‘ufa!’ quanto no ‘oba!’ despendemos energia, nos esforçamos, voltamos para casa cansados. Mas tudo isso é muito diferente quando, no final, a exclamação é ‘oba!’ ao invés de ‘ufa!’.

No ‘ufa!’ a satisfação é só pelo resultado, pois o processo não foi nada prazeroso. Na verdade, não víamos a hora de nos livrar dele e toda a nossa atenção estava concentrada no resultado. Detalhes importantes passaram despercebidos. No ‘ufa!’ queremos o resultado, apesar do processo. Chegamos lá, mas não há motivação nenhuma, caso precisemos começar tudo de novo. Quando um trabalho termina em ‘ufa!’, a vontade é de buscar algum tipo de consolo em algo mais excitante. É aí que entram os subterfúgios, e, entre eles, a internet é apenas o mais moderno e acessível. 

No ‘oba!’, gostamos quando atingimos o resultado pretendido, mas também nos sentimos gratificados com todo o processo que nos levou a terminar bem. Cada fase foi muito curtida. Na verdade, trabalho é deleite e deleite é trabalho. No ‘oba!’ queremos o resultado e gostamos do processo. Chegamos lá, e nos sentimos nutridos e motivados a fazer tudo novamente.

O trabalho ‘oba!’ é feito de propósito e significado: para quem é o seu trabalho? A quem você serve? O seu trabalho é, verdadeiramente, uma contribuição? Quem você está realmente ajudando? Quem busca respostas para perguntas como estas é a pessoa que trabalha. O trabalho ‘oba!’ é planejado e executado de forma participativa. Este é o elemento-chave, com o poder de transformar ‘ufas’ em ‘obas’. Alívios em alegrias.

É possível fazer essa transição, capaz de mudar um estado de espírito. E trazer um novo sentido para a vida. De maneira a transformar o trabalho em uma bênção. Justamente a que só se manifesta na presença de uma unidade indissolúvel: o corpo, a mente e a alma.

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