Empresas buscam conhecimento nas universidades e estimulam acadêmicos em seus projetos

Empresas buscam conhecimento nas universidades e estimulam acadêmicos a se engajarem em seus projetos de inovação

O que pode haver de inovação em um parafuso? Para os leigos no assunto é difícil imaginar como é possível mudar um item que parece exatamente igual ao fabricado há 100 anos. A Ciser Parafusos e Porcas, maior fabricante de fixadores metálicos da América Latina, com sede em Joinville (SC), decidiu lançar o desafio para quem entende do assunto.

Para isso criou em 2009 o Prêmio Ciser de Inovação Tecnológica, um estímulo financeiro para que pesquisadores de áreas como física, química, matemática e engenharia voltem seus estudos para o  segmento de conformação de materiais, tradicionalmente esquecido pela academia. “O que fizemos foi pedir aos pesquisadores que se unam à nossa cruzada pela inovação. Hoje, podemos dizer que escolhemos o caminho certo”, afirma Guido Ganassali, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da companhia.

Para o executivo, o conhecimento científico, as instalações e as mentes necessárias para o grande salto tecnológico do País estão disponíveis nas universidades. E cabe à indústria identificar as novas tecnologias e os talentos para aproveitá-los em seus processos. Ganassali ressalta que o custo de P&D é muito alto e a saída é utilizar mentes que já detêm o conhecimento, encurtando caminhos. O projeto vencedor da segunda edição do Prêmio Ciser, divulgado no final de 2010, mostra bem o que Ganassali quer dizer com “utilizar mentes que já detêm o conhecimento”.

A estudante de física Anezka Popovski Kolaceke, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), e seu orientador, Luis César Fontana, apresentaram uma proposta para a criação de fixadores inteligentes – parafusos com diferentes coeficientes para apertar e soltar, o que facilita muito o seu uso. O projeto, que se apoia na nanotecnologia, impressionou os jurados do prêmio e, claro, a própria Ciser. O que chama atenção é que Anezka e o professor Fontana desenvolveram o projeto do fixador com atrito seletivo em apenas um mês. O que eles fizeram foi aplicar suas pesquisas com filmes finos ao segmento de parafusos. “Só precisamos fazer amostras em chapas metálicas para ver se era viável”, conta Anezka.

Para chegar ao produto em si, ainda há um caminho a percorrer, mas o conceito embutido na ideia é considerado revolucionário para a área de fixadores. Uma revolução estimulada pelo modelo de inovação aberta. Afinal, Anezka e Fontana dificilmente teriam parado para pensar em fixadores sem o estímulo do prêmio. Para o projetista Giuliano Bergamin, estudante de engenharia química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), prêmios de inovação são importantes para aproximar os acadêmicos das necessidades do setor produtivo. “Muitos se formam e não sabem aplicar o conhecimento que têm”, observa.

Bergamin foi o segundo colocado no prêmio da Ciser com a proposta de uma trava mista de aperto, que não possui compromisso com a rosca do parafuso. No dia da premiação, ele levou um protótipo no bolso para apresentar melhor sua ideia. Segundo Ganassali, em dois anos o Prêmio Ciser de Inovação permitiu à empresa se relacionar com mais de 90 universidades e estabelecer um networking com cerca de 2 mil alunos. “Contamos com quatro linhas de pesquisa, que envolvem hoje 14 mestres e doutores de renomadas universidades. Em 2011, mais que dobraremos este índice”, destaca o executivo. Neste ano a empresa espera lançar os primeiros produtos advindos das propostas recebidas pelo concurso.

Na terceira edição, o prêmio também receberá projetos de estudantes de escolas técnicas. “O que a Ciser está fazendo é ampliar seus cérebros, estimulando a academia a pensar num setor tradicional da economia, que precisa estar atento às inovações para se manter competitivo”, destaca Deuci Castro, analista da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).  Segundo ele, infelizmente essa não é uma prática comum no Brasil. “O setor privado precisa assumir o protagonismo da inovação. Afinal, inovação é o conhecimento  transformado em produto e o locus para isso é a indústria”, acrescenta Mário Barra, fundador e diretor da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Empresas Inovadoras (Anpei).

Rede de parceiros A Natura, maior fabricante brasileira de cosméticos e produtos de higiene e beleza, também aposta no modelo de inovação aberta. “Antes mesmo do termo ser promovido por Henry Chesbrough (autor do livro Open innovation, publicado em 2003)”, observa Luciana Hashiba, gerente de Gestão, Inovação e Parcerias da Natura. Para a executiva, o relacionamento e formação de redes de colaboração é parte in tegrante da essência da empresa. “Buscamos a inovação aberta para compartilhar riscos, somar capacidades e competências e expandir nosso investimento em inovação para nossa rede de parceiros.”

Em 2007, a empresa lançou o Natura Campus, um programa de  relacionamento com professores, pesquisadores e estudantes de instituições de ensino e pesquisa. Desde sua criação, centenas de propostas foram apresentadas através do portal do programa na internet, chamadas em editais públicos e ideias e projetos divulgados diretamente pelos pesquisadores da Natura aos parceiros. A cada dois anos a empresa realiza um prêmio para pesquisadores que tenham finalizado projetos em parceria com a Natura.

Segundo Luciana, o objetivo é reconhecer o valor que os trabalhos agregam no processo de inovação na Natura. “Independente se o projeto terá uma aplicação direta em um produto, ele pode ser importante para a viabilização da inovação, seja na obtenção de um novo conhecimento, um novo processo ou conceito.” A gerente cita o projeto vencedor da edição 2010 como um exemplo. Ele trata da padronização e obtenção de uma nova metodologia não-invasiva de avaliação do estado da pele em humanos. “Este processo não é aplicado diretamente em um novo produto, porém nos permite desenvolver produtos cada vez mais alinhados às expectativas dos nossos consumidores”, afirma Luciana. Tanto para a Natura quanto para a Ciser, a meta agora é aumentar ainda mais suas redes de colaboração com instituições de pesquisa. O caminho estratégico para seguir inovando já foi traçado, basta percorrê-lo. E nesta caminhada não faltam parceiros. 

LINHA DIRETA

Anpei: (11) 3842-3533

Ciser: (47) 3441-3999

Finep: (21) 2555-0555

Natura: www.natura.com.br

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