Especialista fala sobre colocar os negócios em primeiro lugar mesmo em família

Dentre dilemas enfrentados por empresas de controle familiar, a questão da dificuldade em levantar financiamentos para seus projetos de longo prazo pode inviabilizar seu desenvolvimento. A limitação de recursos próprios pode prejudicar a sua posição no mercado ou mesmo o seu crescimento, fazendo-se necessária a busca por capital de terceiros para atendimento de necessidades estratégicas e financeiras.

Para os investidores, empresas sob controle familiar são geralmente consideradas investimento de grande risco, pois há uma forte tendência em priorizar os interesses da família diante dos interesses de outras partes que se relacionam com a empresa: com o poder de voto predominante e o envolvimento com a administração, há maior facilidade na implementação de políticas e projetos que beneficiem a si próprios, em detrimento do desempenho da empresa. Assim, uma das principais preocupações dos investidores em se tratando de empresas de controle familiar é assegurar que as famílias possam gerir as empresas e os recursos aportados de forma a atender aos interesses e expectativas de retorno do capital investido.

Todavia, a captação de recursos por empresas sob controle familiar junto a investidores estratégicos é viável mediante ações que assegurem que as decisões corporativas sejam tomadas no melhor interesse dos investidores, conhecido e tratado no mercado como boas práticas de governança corporativa.

O conceito de governança corporativa não se restringe às empresas que possuem capital aberto e são listadas em bolsa. Este conceito é aplicável a todas as empresas que buscam uma relação de transparência e confiança com as partes com que mantêm algum relacionamento. Governança corporativa é um conjunto de princípios e mecanismos que objetivam assegurar que investidores e acionistas obtenham o retorno esperado do capital investido. A adoção de boas práticas de governança corporativa promove ações de transparência na divulgação de informações, prestação de contas dos executivos, acionistas e demais stakeholders, de equidade (tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas) e de responsabilidade corporativa.

Sob a ótica da governança, para que sejam viabilizadas linhas de financiamento de longo prazo, as empresas de controle familiar devem adotar instrumentos como a existência de uma diretoria executiva e conselho de administração. Destacam-se também práticas como a adoção de Código de Ética e Conduta, publicação das informações contábeis e estabelecimento de um plano de sucessão. Estes instrumentos permitem ao investidor um monitoramento mais efetivo da evolução de seus investimentos e permite às empresas investidas, além do recebimento dos recursos almejados, a disseminação de conhecimento entre agentes e controladores e a diminuição e até eliminação de possíveis conflitos internos em prol da continuidade da organização.

por Emiliana Condack, da Leme Investimentos

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