Jovem desbravador

Respeitar o meio ambiente e poupar recursos naturais – incluindo água e energia elétrica – são ações de sustentabilidade que se popularizaram nos últimos anos, principalmente no contexto das grandes corporações. Hoje, estima-se que por dia pelo menos um empreendimento brasileiro solicita a certificação através do selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), segundo dados do Greenbuilding Council Brasil. Prevendo a ascensão desse mercado, em 2008 o paulistano João Marcello Gomes Pinto fundou a Sustentech, empresa de consultoria especializada na elaboração de projetos para empreendimentos sustentáveis, incluindo shopping centers, galpões, escolas, hotéis, lojas, restaurantes e prédios residenciais e comerciais. Desde então, o negócio não parou mais de crescer, passando de um faturamento anual de R$ 500 mil, em 2008, para R$ 8 milhões no ano passado.

Aos 22 anos, após se formar engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), João Marcello iniciou a carreira profissional num ramo totalmente diferente daquele para o qual havia estudado. “Ingressei na área financeira e, logo de cara, tive duas certezas: a de que eu não queria atuar nesse segmento e muito menos ser empregado dos outros”, conta o empresário, que trabalhou num banco durante dois anos.

Em 2004, decidido a retomar os estudos, João Marcello deixou o emprego e o País. De mudança para a Alemanha, ingressou no mestrado em Engenharia Ambiental na Universidade de Karlsruhe. A partir daí, sua trajetória profissional tomou novos – e definitivos – rumos. “Fiz alguns estágios e, em pouco tempo, já estava trabalhando numa empresa de consultoria para empreendimentos sustentáveis”, lembra. Em 2007, o destino escolhido foi o Japão, dessa vez para cursar pós-graduação em Gerenciamento de Riscos Ambientais na Universidade da ONU, em Tóquio. “Amadureci muito nessas idas e vindas, tanto pessoal quanto profissionalmente, o que me fez ter certeza de que o único caminho a seguir era o do empreendedorismo”, relata.

De volta ao Brasil no fim de 2007, João Marcello – então com 28 anos – fez uma breve pesquisa de mercado com o objetivo de identificar possíveis oportunidades no ramo de construções verdes. “Notei que tinha uma demanda reprimida crescente, pois o conceito de empreendimentos sustentáveis ainda era muito recente por aqui.” Confiante no incipiente mercado brasileiro, o empreendedor iniciou a operação da Sustentech. “Abri a empresa sozinho numa sala emprestada dentro de um escritório de arquitetura”, relembra. Hoje, a Sustentech funciona em um escritório-modelo que serve como uma espécie de showroom de soluções e produtos sustentáveis. O local inclui mobiliário com madeira certificada, lâmpadas de LED, persianas automatizadas que regulam a insolação e ajudam a economizar ar-condicionado, torneiras com sensor automático e outras medidas sustentáveis.

Em pouco tempo, graças às suas experiências no exterior, João Marcello ganhou fama e começou a ser cada vez mais procurado por grandes corporações interessadas em aderir às certificações de sustentabilidade, a exemplo do LEED, citado anteriormente, e do Aqua (Alta Qualidade Ambiental). “Mais do que um diferencial, aos poucos a sustentabilidade está se transformando em commodity, pois o metro quadrado das construções certificadas passa a ser mais valorizado, assim como aumenta a velocidade de comercialização dos imóveis e diminui os riscos do investimento”, atesta o empreendedor que, aos 32 anos, é integrante do Comitê de Avaliação de Sustentabilidade do Conselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS) e dos Comitês Técnicos do Greenbuilding Council Brasil (GBC/ Brasil).

Para conquistar o selo verde, a companhia precisa preencher diversos critérios de eficiência energética, consumo nacional de água, gestão de resíduos e uso de material reciclado. Segundo o GBC, a certificação ambiental foi lançada em 1999 e já reúne 16 mil construções certificadas e 70 mil empreendimentos em processo de normatização em 131 países. O Brasil ocupa a quarta posição no ranking de países com maior número de empreendimentos sustentáveis certificados.

“Utilizamos ferramentas e técnicas que permitem economizar nos empreendimentos mais de 40% de água, até 20% de energia e 75% na taxa de reciclagem de resíduos”, explica João Marcello. Tais medidas permitem acréscimo de 10% a 20% no preço de revenda do imóvel e 9% de redução no custo de operação do empreendimento durante toda sua vida útil. “Sem falar no alinhamento da marca aos conceitos de sustentabilidade, algo fundamental hoje em dia.”

Para desenvolver esses projetos, a Sustentech conta com 30 funcionários, entre engenheiros civil, elétrico, mecânico e ambiental, além de arquitetos. A empresa presta também consultoria de estudos de Arquitetura Bioclimática, que visa ao conforto térmico dos usuários e eficiência energética das edificações. Atualmente, a empresa soma cinco empreendimentos certificados com o selo Aqua e dois pré-certificados com o LEED.

Com a proximidade de grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o mercado de construções verdes só tende a crescer. Para este ano, outras 45 construções estão em processo de certificação nos estados do Amazonas, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Entre os empreendimentos em processo de certificação pela Sustentech estão, por exemplo, a Arena, em Manaus, onde será sediada a Copa do Mundo na capital amazônica, além de diversos shoppings e hotéis de norte a sul do País. Para auxiliar na expansão dos negócios, no último mês de junho a Sustentech lançou a filial no Rio de Janeiro com o objetivo de aumentar a representatividade no eixo Rio-São Paulo. “Estados da Região Nordeste, mais especificamente Pernambuco, Ceará e Bahia, estão entre os mais promissores para o desenvolvimento de edificações sustentáveis”, aponta João Marcello, que espera aumentar o faturamento em 180% em 2012. Respeitar o meio ambiente é lucrativo para todos.

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