Mercado de tubarões: sites de compras coletivas em fase de aquisições

Compra do Groupalia pelo Peixe Urbano na última semana mostra dificuldade de sobrevivência dos pequenos

A aquisição do Groupalia pelo Peixe Urbano anunciada no fim da semana passada aponta para uma tendência do setor de sites de compras coletivas: a de consolidação dos negócios. O setor, que nos últimos anos atraiu milhares de empreendedores, hoje vivencia diversas aquisições. Segundo especialistas e as próprias empresas, já passou a época dos pequenos se aventurarem.

"Muita gente olhou o mercado, achou fácil abrir uma empresa e resolveu se aventurar. Viram que não era tão fácil e estão fechando as portas", diz o sócio-fundador e CEO do Peixe Urbano, Julio Vasconcellos.

Segundo uma pesquisa da SaveMe, site que reúne ofertas de diversos domínios, e da consultoria e-bit, no fim do ano passado metade dos 1.600 sites de compras coletivas no Brasil não divulgava mais ofertas ou estava fora do ar. Outra pesquisa do SaveMe mostra que pelo menos 57 sites de compras coletivas fecharam as portas entre novembro de 2011 e fevereiro deste ano.

Um dos motivos para o setor ter atraído diversos empreendedores pequenos está no baixo investimento inicial. "O custo de entrada pequeno atraiu empresários dos mais diversos níveis, mas muitos tinham apenas conhecimento tecnológico, da estrutura do site e pouca experiência no atendimento ao público e administração", diz o professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Eric Universo Brasil.

Segundo o Groupon, outro grande competidor deste mercado, as barreiras de entrada para ingressar nesse negócio realmente continuam sendo baixas. "Mas é difícil uma nova empresa competir com as já consolidadas, com um grande investimento", afirma o CEO do Groupon no Brasil, Florian Otto.

A movimentação no mercado de compras coletivas ficou evidente na semana passada com a aquisição das operações do Groupalia em seis países pelo Peixe Urbano. A partir de agora, o Peixe Urbano atuará em dois novos locais: Colômbia e Peru. No Brasil, México, Argentina e Chile, o site já atuava, sendo que nos dois últimos ele entrou por meio de compras de empresas. Há um mês, o site também adquiriu o Zuppa, que faz reservas online de restaurantes.

Mas não é só o Peixe Urbano que anda indo às compras no mercado. O próprio Groupalia havia adquirido o Oferta X. Recentemente, o Groupon arrematou o site de compra coletiva da Malásia além de três outros domínios de serviços complementares ao de compras coletivas – o Uptake (especializado em encontrar informações sobre as cidades para viajantes), a Adku (de dados de compradores) e a Hyperpublic (empresa que agrega dados locais e negócios).

"O capitalismo leva à concentração, mas ainda tem espaço para o pequeno", diz o professor da FEA-USP e coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar – FIA), Claudio Felisoni. E há alguns exemplos que estão funcionando. Vasconcellos, do Peixe Urbano, cita sites menores que resolveram se especializar em cidades de menor porte, onde já têm conhecimento e ninguém atua. "Há até sites de recompra de cupons", menciona a diretora do e-bit, empresa especializada em informações sobre o comércio virtual, Cris Rother.

Consumidores

Apesar de o fenômeno das compras coletivas estar justamente na aproximação rápida entre a oferta e a demanda, segundo apontou Felisoni, professor da FEA-USP, o consumidor tem enfrentado problemas. Prova disso é o aumento das reclamações.

No fim do ano passado, o aumento das queixas levou o Procon-SP a fazer reuniões com as empresas para apontar os problemas e cobrar soluções, antes do início do período de compras do Natal. "Estamos no processo de avaliar o trabalho feito e fazer novas reuniões", diz a técnica do Procon-SP, Patrícia Alvares Dias.

Em geral, o processo de venda não traz reclamações. O problema acontece no pós-venda. Patrícia diz que as queixas mais comuns são de atraso na entrega do produto ou do serviço e descumprimento dos termos da oferta.

"Nem todos os sites tão preparados pra atender a demanda", afirma. Cris, do e-bit concorda: "O atraso na entrega é algo que gera reclamações nas vendas online em geral, não somente em compras coletivas. Acho que o aumento dos protestos se deve ao crescimento muito rápido do setor."

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