Mercado interno vira atração para negócios

As empresas devem manter o interesse em realizar ou até mesmo elevar o nível de investimento em fusões ou aquisições nos próximos dois anos, segundo indica a “Pesquisa de Integração – Entendendo os desafios locais para maximizar o retorno de investimento em M&A” realizada pela consultoria Deloitte, mesmo num cenário econômico passando por um momento incerto e complexo.

As expectativas do mercado são de queda do Produto Interno Bruto (PIB) – com contração neste ano –, redução no grau de investimento concedido por agências de rating internacionais e taxa de juros ao maior valor em nove anos. O estudo da Deloitte aponta que, em relação ao mercado inter no, 63% dos entrevistados afirmam que irão manter ou até mesmo elevar o nível de investimento em fusões ou aquisições no Brasil nos próximos dois anos.

A pesquisa contou com a participação de 87 empresas que estiveram envolvidas em transações estratégicas no Brasil nos últimos três anos, para entender melhores práticas, desafios e tendências locais em Fusões & Aquisições. A maioria dessas empresas destaca que a integração pós-fusão ou aquisição pela qual passaram nos últimos anos foi bem-sucedida, conforme a opinião de 77% dos entrevistados.

Apenas 18% afirmam ter passado por uma integração aquém da expectativa de sucesso e 5% não opinam sobre o tema. A maior parte dos entrevistados – 69% – afirma ter elaborado e executado um plano formal de integração, contra 31% que não dispuseram dessa estratégia. A pesquisa apontou que o primeiro grupo teve uma grande vantagem sobre o segundo. Das empresas que contavam com um plano formal de integração, 87% afirmaram ter obtido sucesso.

Entre as que não contavam com esse processo, a taxa de sucesso foi de 54%. Concretizar uma integração entre empresas é uma tarefa árdua. Sem os cuidados necessários, esse processo pode levar mais tempo, esforços e recursos do que o esperado. Isto consequentemente dificulta a captura de valor do investimento em uma operação de fusão & aquisição.

De acordo com a pesquisa, apenas 27% das transações brasileiras capturam as sinergias planejadas em menos de um ano – já para empresas americanas, esse índice alcança 74%. “A chance de sucesso em uma operação de fusão ou aquisição será maior se as empresas envolvidas estiverem preparadas para lidar com: obrigações legais e regulatórias, complexidade fiscal e planejamento abrangente da integração”, destaca Renata Muramoto, sócia especialista da Deloitte em integrações e separações de empresas.

Cuidados com a herança de obrigações fiscais

A incerteza, os possíveis atrasos e a necessidade de sincronizar as aprovações em diferentes Estados para concluir uma transação são desafios que precisam ser trabalhados de perto pelas equipes de integração e jurídica das empresas envolvidas. Os compradores devem entender, desde cedo, as regras que a empresa adquirida deve obedecer, uma vez que equívocos nesse processo podem corroer rapidamente o valor do negócio e a continuidade das operações.

Sem um processo de due diligence apropriado, o comprador pode acabar se responsabilizando por obrigações fiscais pendentes da empresa comprada. Durante a transação, sem uma clara estratégia tributária, a integração pode desencadear altos custos relacionados a obrigações fiscais, o que pode afetar diretamente a captura de sinergias e a habilidade de uma integração que garanta os benefícios operacionais esperados da aquisição.

A área mais comumente negligenciada e na qual as empresas têm maior dificuldade quando conduzem uma transação de fusão& aquisição no Brasil é a de falta de planejamento para lidar com as complexidades da integração. Integrações costumam levar mais tempo, esforços e recursos do que o esperado, o que dificulta o caminho das empresas em capturar as projeções iniciais de retornodo investimento no prazo planejado.

Na pesquisa, a maioria dos entrevistados, 74%, considera o alinhamento cultural entre as duas empresas um fator muito importante para o êxito da integração. Esse processo pode ser construído por meio de pesquisas sobre a cultura da empresa adquirida ou mesmo por conversas informais entre compradores e profissionais.

Mesmo diante de um ambiente econômico complexo, novas oportunidades continuarão emergindo. Embora compradores estejam mais sofisticados na execução de suas transações de fusão & aquisição, muito trabalho ainda precisa ser realizado para capturar o valor total dessas operações. “Estabelecer a governança correta, reter os talentos-chave e minimizar tempo e custos para completar a integração irão, automaticamente, maximizar o valor da transação e minimizar os riscos. Nenhuma transação é perfeita, mas todas têm a oportunidade de se tornarem bem-sucedidas se combinarmos as lições aprendidas a um propósito claro e uma equipe com experiência e dedicação”, finaliza Renata.

Como evitar riscos

1 Conduzir um bom processo de due diligence: engajar a liderança do negócio desde o início para questionar informações da due diligence, e estimar as metas de sinergia no tempo considerando a complexidade da integração.

2 Possuir um forte patrocínio executivo: desenvolvimento de um mapa de stakeholders a serem envolvidos, com cadência específica para o planejamento da integração.

3 Designar uma equipe dedicada à integração: garantir que a equipe tenha uma forte liderança para entender os impactos estratégicos da transação e os riscos de cada decisão em todo o negócio.

4 Desenvolver um plano abrangente: elaborar um plano faseado, vinculado às metas de integração, com responsáveis bem definidos e levando em consideração interdependências entre equipes de trabalho.

5 Criar um programa robusto de comunicação, cultura e geração de mudanças: entender as particularidades da cultura de cada empresa e criar um plano de ação para endereçar possíveis

conflitos, comunicar com clareza e criar processos de feedback.

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