Minha casa, meu negócio

Ao invés de sala comercial, a própria residência se transforma em um escritório. Gastos com aluguel de estabelecimentos, ponto de frequência, funcionários e horas perdidas no trânsito são algumas das outras rotinas que não fazem mais parte para um número de pessoas que aposta em um modelo inovador de franquias. Trata-se do home based, cuja proposta promete aliar lucratividade, poucos custos fixos, implantação mais rápida e flexibilidade. Muito conhecido em países como os Estados Unidos, aos poucos, esse modelo de trabalho em casa vem ganhando o mercado brasileiro de franchising.

“O proprietário precisa apenas de um computador, internet e telefone’’, resume David Pinto, fundador da Dr. Resolve. A franquia, especializada na prestação de serviços como pintura, reparos, jardinagem e alvenaria, oferece a opção de home based para cidades com até 30 mil habitantes. O custo é de R$ 25 mil, um pouco menos do que os R$ 38 mil para aderir à bandeira e inaugurar uma loja física. “No entanto, por não exigir um local específico, o franqueado não terá despesas extras com aluguel, manutenção e reformas, economizando no capital de giro’’, destaca David.

Outra vantagem é que maioria das marcas home based é microfranquia, ou seja, possui investimentos iniciais de até R$ 50 mil. “A tendência é que, como o investimento é baixo, o retorno seja mais rápido, com previsão de seis a 12 meses’’, revela Reinaldo Zanon Filho, da Seguralta Franchising. A rede, que atua no mercado de seguros, também oportuniza os formatos master franquia e standard, mas o empresário vê no home based um grande potencial para o sucesso aos profissionais independentes, que desejam consolidar sua carreira no ramo de seguro.

Equilíbrio

São, principalmente, os profissionais mais jovens que demonstram habilidade de gerenciar seu tempo de forma a render bem trabalhando em casa, na opinião do consultor Luis Henrique Stockler, sócio-diretor da ba}Stockler. Por estarem acostumados à rotina de sair de casa e ir para o escritório, os mais velhos podem sofrer um pouco mais com a adaptação. Seja qual for a idade, torna-se importante equilibrar a disciplina do trabalho em casa com os momentos de lazer, garantindo que a vida pessoal não interfira na profissional – ainda que vividas no mesmo ambiente.

“Se o profissional está 24 horas disponível, isso pode inclusive afetar sua produtividade, pois todos precisam também descansar. Mas é preciso ressaltar que, de vez em quando, será necessário um encontro pessoal ou uma reunião. Afinal, trabalhar em casa não significa trabalhar sozinho – os funcionários precisam saber que fazem parte de um time’’, comenta.

No caso da ERA (Expense Reduction Analysts), esses encontros acontecem frequentemente. A franquia de origem inglesa oferece o serviço otimização de gastos para empresas em setores que não estão ligados à sua atividade principal.

Fernando Macedo, master franqueado da ERA no Brasil, explica que o franqueado torna-se um consultor, podendo contar com a ajuda dos demais para, em conjunto, buscar os melhores resultados para os clientes. “Dependendo do perfil profissional e pessoal, os profissionais formam uma equipe integrada, reunindo suas diferentes especialidades e experiências para renegociar gastos junto a fornecedores. Isso ajuda também a reduzir uma possível solidão”, detalha.

A qualidade de vida obtida por meio do home based é apontada por Macedo como a principal vantagem deste formato de negócio adotado pela ERA. De acordo com ele, muitos franqueados da rede eram funcionários de grandes corporações, que sonhavam em ter seu próprio negócio, mas não se identificavam com as franquias típicas do varejo, nas quais há a necessidade de altos investimentos para montagem da operação e compras de estoques.

Essa tendência de negócio pode ajudar até mesmo o setor de franquias a crescer ainda mais. De acordo com a ABF, o faturamento deste segmento cresceu 16,9% em 2011 e obteve um aumento de 9,5% em número de redes. A dificuldade para conseguir pontos comerciais devido ao alto valor dos imóveis é apontado como um dos fatores que impediram um cenário ainda mais positivo.

“O home based vem crescendo a cada ano, mas são negócios em que é possível poder crescer até certo tempo porque o empresário é a própria franquia. À medida que montar estruturas maiores, ele acaba saindo do modelo tradicional de não ter escritório, funcionários, definido por cada franqueadora. Como são modelos que vêm crescendo nos últimos anos, acredito que, quando isso acontecer, vão redesenhar o modelo para atender a um nível de expectativa diferente’’, avalia Filomena Garcia, sócia-diretora da Franchise Store.

Controle

Mais do que em formatos tradicionais, o que determinará o faturamento da empresa ou o seu potencial de crescimento é a dedicação do empresário. Trabalhar em casa, onde há muitas opções para dispensar a atenção, e sem a cobrança de um chefe do lado exige ainda mais disciplina e organização.

Para o consultor Luis Henrique Stockler, os franqueadores devem desenvolver uma relação de interdependência com seus franqueados, para que eles tenham interesse em uma parceria duradoura. “O desafio, nesses casos, é transferir o conhecimento e a técnica, sem que o franqueado possa ser totalmente independente, já que isto faria com que a relação de negócio tivesse fim’’, ressalta.

Além disso, ele destaca que o franqueador tem pela frente o grande desafio de transferir aos seus franqueados a cultura da marca. O que, a distância, é mais difícil de ser feito do que se todos passassem de seis a oito horas por dia no mesmo escritório, por exemplo. Na maioria das empresas, esse controle é facilmente feito por meio de softwares e processos internos.

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