Onde está o foco do treinamento?

O quê? Vinte pontos na carteira? Não tem conversa, vai para o curso de reciclagem! Todo mundo sabe que no embarque de passageiros a comissária deve estar sorrindo. Por que você não está? Vou encaminhá-la ao Centro de Treinamento para aprender a sorrir. Você errou os três lances livres! Vai ficar treinando arremessos durante uma semana!

Crescemos com a falsa ideia de que treinar é uma forma de punição para quem tem desempenho inferior a determinado padrão, ou pior, para os casos em que não há punição prevista; resumindo: treinamento é castigo!

Dos tempos de primário (primeiro grau, ensino fundamental… tenha o nome que tiver) vem a lembrança dos recreios perdidos em sala para aprender que não se discute com o professor! Tamanha foi a lição, que até hoje a obedecemos.

A vontade de “nos ver livres” daqueles momentos de tortura fez com que “passar de ano” fosse mais importante do que saber. O ano letivo sempre pareceu demorar mais do que a soma dos dias de aulas.

A nossa percepção é fortemente influenciada pelas experiências anteriores que tivemos. Salas de aula, autoritarismo, punições, gritos e constrangimentos são situações passadas – por nós ou por outros – que nos vêm à mente quando falamos em treinamento.

Interessante é que boa parte dos instrutores de hoje adota as mesmas posturas daqueles que os agrediam no passado. Parece paradoxal, mas quanto mais estudam, mais são donos da verdade – única e soberana; por vezes, dogmática – portanto, inquestionável.

Repetem-se hoje, então, nos espaços de treinamentos, os mesmos papéis de outrora representados, apenas, por outros atores. Um ou outro recurso tecnologicamente mais desenvolvido pode fazer variar as performances dos atores, mas essencialmente, trata-se de um mesmo roteiro.

Teorias educacionais surgem e, com a mesma velocidade com que fazem sucesso, ficam no passado. Provavelmente ainda não atentaram para o fato de que a efetividade da educação reside nas pessoas que representam os dois únicos papéis possíveis: educadores e educandos; todo o mais é apenas complemento.

Enquanto os treinamentos nos remeterem a muito do que não gostaríamos de lembrar, seu prazer estiver associado aos breves momentos de coffee-break e os atores não entenderem que representam ambos os papéis, continuaremos a desperdiçar oportunidades reais.

*André Acioli é Mestre em Administração pelo COPPEAD/UFRJ, professor da Mackenzie Rio e chef fundador do Boteco do Conhecimento
* Augusto Uchôa é formado em Marketing, doutorando da COPPE/UFRJ, consultor de empresas, roteirista, professor universitário, criador do site Marketing com Fritas e chef fundador do Boteco do Conhecimento. www.botecodoconhecimento.com.br

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