Poção mágica

No dicionário, ‘taboa’ refere-se a um tipo de planta que cresce à beira de brejos e manguezais. Mas, para moradores e visitantes de Bonito (MS), o termo também é sinônimo do principal ponto de encontro e da bebida-símbolo da cidade. Feita à base de cachaça, mel, canela, guaraná em pó e ervas naturais, a mistura – criada e elaborada artesanalmente até hoje – surgiu durante o inverno de 1998 pelas mãos da campo-grandense Andréa Braga Fontoura. Disposta a oferecer um drinque que acalentasse os clientes de seu bar durante os dias de inverno, ela começou a produzir a bebida, que em pouco tempo caiu no gosto da clientela e transformou o estabelecimento numa atração turística à parte.

A história da cachaça teve início no bar de mesmo nome. Quando decidiu abrir as portas da casa, em 1996, o objetivo da empresária estava mais para atender e brindar com os próprios amigos do que necessariamente fazer negócio. A ideia era funcionar apenas durante o Carnaval e nos principais feriados. Até o dia em que, estimulada pelo alto fluxo de visitantes que circulam pela região, ela decidiu manter a casa em funcionamento pelo restante do ano. Foi aí – mais especificamente durante uma noite qualquer de julho – que surgiu a inspiração para criar a aguardente que ganharia fama como uma das mais autênticas e aromáticas do Brasil. “Tem gente que não imagina, mas também faz muito frio aqui no Pantanal durante o inverno, até porque a umidade é enorme”, informa Andréa.

Apaixonada por chás, ela não teve dúvidas: adicionou algumas das ervas que cultiva de forma orgânica à mistura de cachaça artesanal e especiarias. “Acabou dando uma liga. Quem já experimentou sabe: o sabor e o calor são garantidos!”, define Andréa. Nascia assim a cachaça que acabou se tornando a primeira bebida oficial de Mato Grosso do Sul. “Somos a primeira e até hoje única bebida do estado a conseguir registro no Ministério da Agricultura”, comemora a empresária. A linha de produtos inclui, além da tradicional Taboa, outras cachaças aromatizadas, como as preparadas com guavira (fruto típico da região) e café. As garrafas recebem tratamento especial, com revestimento em fibra de taboa, realizado com mão de obra terceirizada junto a instituições carentes. “Quase todos os nossos 32 colaboradores são de Bonito.”

A bebida fez tanto sucesso que, em pouco tempo, ganhou fama e passou a atrair cada vez mais apreciadores e curiosos, transformando o local num verdadeiro ponto de encontro. Muito antes da popularização do conceito de turismo de experiência, Andréa já seguia intuitivamente esse rumo. Há dois anos, para incrementar o movimento e oferecer uma opção turística diferenciada na região – famosa pelos rios, corredeiras e cachoeiras que atraem visitantes e praticantes de esportes radicais em geral –, a empreendedora decidiu criar um roteiro de visita guiada pelo alambique. O passeio, que dura cerca de duas horas e custa R$ 25 por pessoa, inclui degustação de 25 variedades de cachaças.

Doses de história
Durante o trajeto é possível acompanhar o processo de fabricação da cachaça, além de conhecer a loja de artesanato e a história do local, que foi a sede do primeiro banco e prefeitura de Bonito, inaugurada na década de 1940 por Cândido Luiz Braga, ex-prefeito da cidade – e avô de Andréa. “Essa sempre foi uma demanda antiga dos turistas porque eles vinham para a cidade e não encontravam referências históricas”, explica a empresária. A infraestrutura conta ainda com loja de artesanato produzido no local e restaurante, que oferece cardápio variado, com opções de caldos, lanches, porções e refeições para até duas pessoas.

Se no início o público-alvo era composto por pessoas mais jovens e festeiras, hoje o estabelecimento abrange também outros nichos, como famílias, casais, grupos de amigos e idosos. A produção anual gira em torno de 30 mil litros da bebida, vendida no varejo a um preço médio de R$ 42 a garrafa de 750 ml.

Apesar das adaptações ocorridas no alambique após a regulamentação – que exigiu a presença de um químico no local, entre outros ajustes – Andréa faz questão de manter vivo o espírito da Taboa. Espiritualista, ela faz questão de coordenar pessoalmente a produção da bebida, cuja fórmula completa só a empresária conhece. “Com o aumento da produção, adaptamos diversos processos, mas toda a mistura e cultivo das ervas são feitos até hoje por mim.”

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