Projetos científicos se transformam em negócios inovadores

Tecido com hidratante ou que combate a celulite. Cápsulas que mantêm cabelos e pele saudáveis. Um comprimido para tomar uma única vez por semana, substituindo vários remédios por dia. São produtos que parecem ficção, mas que estão se tornando realidade em micro e pequenas empresas brasileiras, por meio da nanotecnologia, com a ajuda do Sebrae.

Desenvolver produtos e processos a partir da manipulação de átomos e moléculas que correspondem à bilionésima parte do metro, cerca de 70 mil vezes menor do que um fio de cabelo, é o objetivo da nanotecnologia. No Brasil, o estado de Santa Catarina concentra o maior número de empresas com essa especialização: 25. Em todo o país, são aproximadamente cem empreendimentos com esse perfil, segundo estimativas do setor. Esse tipo de negócio conta com mão de obra altamente qualificada, requer grande investimento e muito tempo para se desenvolver – a maioria começa sua trajetória dentro de incubadoras de empresas.

Para fortalecer o trabalho das incubadoras, o Sebrae e a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) desenvolveram um modelo de gestão chamado Cerne. “O atendimento para as incubadoras era restrito à tecnologia e a finanças. Com o Cerne, trabalhamos a qualificação em mercado, gestão e capacitação do empreendedor”, destaca o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

As incubadoras também encaminham os empresários a programas do Sebrae, de acordo com a necessidade específica de cada um. “Nós subsidiamos em até 80% soluções e consultorias que envolvam inovação e tecnologia”, complementa Barretto.

É o caso da Nanovetores, que desde 2009 está incubada no Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), em Santa Catarina. Precursora no ramo de encapsulação (processo em que um ou mais ingredientes são revestidos por uma cápsula), trouxe inovação ao setor tradicional dos cosméticos ao criar cápsulas que, ao serem ingeridas, hidratam a pele. O faturamento em 2014 da Nanovetores fechou em cerca de R$ 2,5 milhões, R$ 1 milhão a mais do que o valor registrado no ano anterior. A empresa tem 25 funcionários em Santa Catarina e conta com projeção internacional, com cinco distribuidores internacionais.

Neste ano, a empresa deve procurar um espaço próprio para se instalar. A mudança se deve a projetos de sucesso, como no setor têxtil, onde a empresa desenvolve estudos para mudar a funcionalidade dos tecidos, como a criação de produtos resistentes à lavagem, com propriedades antibacteriana e de relaxante muscular, que combatem celulite e com fragrância. Para uma grande malharia brasileira, por exemplo, a Nanovetores lançou uma roupa com propriedade hidratante. A tecnologia ainda é inédita no mundo e a empresa conta com nove patentes depositadas.

A Nanovetores é uma das 68 integrantes do API.nano, rede de empreendimentos que desenvolvem soluções sustentáveis para grandes indústrias e trabalham com nanotecnologia para têxteis, metalurgia, alimentos, biomedicina, cosméticos, construção civil, entre outros. Segundo Leandro Antunes Berti, secretário executivo do API.nano, a rede conta basicamente com empresas de micro e pequeno porte – aquelas que faturam no máximo R$ 3,6 milhões ao ano. “Queremos intensificar nossa parceria com grandes indústrias e, nos próximos cinco anos, criar um Centro de Inovação em Nanotecnologia”, projeta.

A startup de Leandro – a Advanced Nanosystems – está desenvolvendo produtos inéditos no país, como um fluido baseado em insumos naturais que será utilizado para pesar caminhões; e um óleo isolante que, quando dentro de um transformador, aumenta a proteção e reduz em até 40% a chance de curto-circuito, além de diminuir custos de distribuição de energia. Parece difícil? Para ele, mais complicado é adaptar o raciocínio acadêmico ao de gestão de uma empresa. “Aprendi a fazer um plano de negócio com o Sebrae. Tivemos o mesmo desafio de qualquer empresário: sobreviver aos dois primeiros anos de atividade”, explica.

Ciência e gestão

As dificuldades relatadas por Leandro expõem uma realidade comum aos pesquisadores de nanotecnologia que enveredam pelo empreendedorismo: a falta de preparo em gestão de negócio e capacitação em assuntos relacionados à empresa, como fluxo de caixa. O físico José Rabelo, diretor da Innova Cura Biomateriais, em Santa Catarina, buscou, ainda na faculdade, desenvolver seu lado empreendedor participando de ações do Sebrae. “Consigo praticar até hoje as experiências vividas no Sebrae. Vi minhas deficiências e no que preciso melhorar”, comenta.

A Innova Cura fabrica enxertos ósseos em laboratório, mas com características semelhantes às do corpo humano. Seu produto já é utilizado em diversas áreas da Medicina, como na Oncologia, Ortopedia e Odontologia. Como muitas empresas de nanotecnologia, a Innova já conseguiu capitalizar um investimento inicial de R$ 300 mil, dos quais um terço será usado para uma amostra de bateria de teste para laboratórios.

Viabilidade econômica

Também com foco na área de saúde, a Nanotimize, de São Paulo, presta auxílio ao desenvolvimento de produtos de outras empresas. Um exemplo é o micro e nano encapsulamento de princípios ativos que melhoram o desempenho de remédios. “Significa tomar comprimidos apenas uma vez por semana, em lugar de duas vezes por dia. Diversos tratamentos não avançam porque o paciente esquece de tomar o medicamento”, esclarece o diretor executivo da Nanotimize, José Martins. De acordo com ele, o maior problema do pesquisador é verificar a viabilidade econômica de uma ideia. “A grande dificuldade é entender quanto o produto vai valer no mercado e fazer a conta de trás pra frente, se vale a pena”, enfatiza.

Com informações da Agência Sebrae

 

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