Savio Bortolini, o craque da bola, agora é empreendedor

Quem ia ao Maracanã nos anos 90 para assistir a um jogo do Flamengo ficava com os olhos mais tempo grudados no lado esquerdo do campo. Por ali corria um jogador franzino, magro de se reparar a primeira vista. Mas tinha um drible desconcertante e uma arrancada impressionante. Ele era veloz demais. Em poucos segundos estava diante do goleiro para marcar o gol ou fazia um cruzamento preciso para um companheiro colocar a bola no fundo da rede. Entre os flamenguistas e todos os amantes do futebol nem é preciso dizer o nome dele. Mas aqui fica o registro: era o gigante chamado Sávio.

Sem a bola nos pés desde o dia 20 de setembro de 2010, quando jogou pela última vez defendendo o Avaí, em Florianópolis (Santa Catarina), cidade onde ele vive e trabalha, Savio Bortolini Pimentel agora corre em outro campo: o dos negócios, do empreendedorismo. E já é um craque por aí também. Hoje comanda três empresas diferentes. A primeira que criou foi a Bortolini Patrimonial, que cuida de investimentos imobiliários (casas e espaços comerciais) no Rio de Janeiro, Vila Velha e em Florianópolis, com mais de 20 estabelecimentos. Também criou uma empresa específica para cuidar de investimentos e aplicações financeiras. Por último, e que hoje toma a sua maior atenção, é a Savio Soccer, que tem como principal objetivo orientar e preparar a vida, a carreira e o futuro de atletas, com a base de toda a sua experiência vitoriosa.

O “Anjo Loiro”, como ficou conhecido pelo mundo afora, foi revelado na divisão de base da Associação Desportiva Ferroviária, do Espírito Santo, onde nasceu. Veio treinar no Flamengo quando tinha apenas 14 anos.  No emblemático clube carioca, onde jogou como profissional, Savio foi campeão brasileiro (1992) e ganhou os principais campeonatos do Rio de Janeiro.

Em 1998, foi jogar na Espanha. Lá ganhou todos os títulos mais importantes: Mundial Interclubes (1998), três Liga dos Campeões (1998, 2000 e 2002) e a Super Copa da Espanha (2001). Jogou ainda no Zaragoza da Espanha, no Bordeaux da França até voltar ao Brasil e terminar sua carreira no Avaí, de Florianópolis, onde foi campeão em 2010. Por ter um drible raro, rápido e surpreendente, certamente foi um dos ponteiros mais marcados e combatidos até hoje no futebol em todo o mundo.

Por isso, desde o início da sua carreira de jogador, Savio sabia que sua carreira poderia ser rápida e sempre pensou no dia em que não entraria mais em campo para vestir a camisa de um time de futebol.  Vislumbrava a possibilidade de um dia ser um empreendedor. E se preparou para isso. Já na Espanha aproveitou as possibilidades que o Real Madri oferecia para cada jogador preparar sua carreira, dentro e fora do campo. No Brasil, participou de diferentes cursos oferecidos pelo Sebrae e sempre buscou ler sobre oportunidades de negócios e participar de eventos corporativos.

Savio revela uma estatística assustadora e preocupante: 80% dos jogadores de futebol no Brasil perdem todo o patrimônio até o final da vida e não deixam nada para a família. “A carreira de um jogador, de um atleta, é muito rápida. É preciso conciliar o lado físico, emocional, profissional e preparar o futuro”, aconselha.

O ex-jogador sabe ser grato e valoriza um bom empresário na vida de um jogador. O seu primeiro e único empresário, que o acompanhou em todos os times, foi João Henrique Areias. “Ele me abriu os olhos para todos os contratos , de forma honesta, correta e me aproximou de pessoas que me ajudaram na minha vida profissional e nos negócios”.

Como jogador, Savio viu e sentiu como é rápida a projeção, a fama e as tentações de sair para a noite, ir à festa com os amigos. Para não cair nessas armadilhas, Savio considera de fundamental importância a boa estrutura familiar, que sempre teve. Ele não poupa palavras de carinho a Suzana, sua primeira e melhor amiga. Hoje a esposa e mãe dos seus três filhos (Breno, Hugo e Lucas). Suzana, na verdade, sempre foi mais que uma mulher e uma mãe. Esteve com ele e com os filhos em cada destino, em cada novo país, em cada novo time. Teve e tem até hoje palavras decisivas em cada contrato, em cada novo investimento da família.

Já o Seu Mazinho sempre foi mais que um pai. A gratidão é maior, pois levou ele pelas mãos para jogar as primeiras peladas no seu próprio campinho perto da casa onde vivia, na cidade de Vila Velha. Foi sempre o seu melhor conselheiro. A primeira ligação que recebia, depois de qualquer jogo, era do seu pai, com palavras de incentivo e de apoio.

No dia 27 de novembro de 2005, um domingo, quando estava concentrado no hotel com o time do Zaragoza para jogar contra o Sevilha, recebeu uma ligação. Não era do seu pai, mas do irmão com a notícia mais triste que recebeu na sua vida: Seu Mazinho havia falecido, depois de lutar contra um câncer por anos. Foi dispensado do jogo naquela tarde e fez também o voo mais triste da sua vida ao Brasil.

A morte do pai precipitou e fortaleceu a decisão de voltar ao Brasil para ficar junto de toda a família e estruturar seus negócios no país. Jogou ainda no Flamengo, voltou à Espanha, foi para Chipre até que veio para Florianópolis, em Santa Catarina, onde ergueu uma casa para toda a família em Jurerê Internacional e montou um escritório no centro da cidade para trabalhar.

Pelos diferentes clubes que passou, Savio percebeu que o time, para ter sucesso, tem que ser gerido como uma boa empresa, com espírito de equipe, comprometimento e objetivos comuns e claros. Para ele não basta ter só craques, bons jogadores ou altos executivos numa empresa. “Se não tiver unidade num time ou numa empresa, nem o time e nem a empresa vão a lugar nenhum”, sentencia.

Ele cita o exemplo do que foi apontado para ser o “ataque dos sonhos” do Flamengo de 1995, ano do centenário do clube: Romário, Edmundo e Savio. “Não deu certo. A diretoria não se entendia e o time menos ainda. Não podia dar certo como não deu mesmo”. Savio ressalta, no entanto, que com o Romário se deu muito bem. Nos três anos que jogaram juntos, de 1995 a 1997, participaram de 110 jogos e marcaram 139 gols nesse período.

Agora, além de estruturar e consolidar a Savio Soccer, para prestar uma assessoria diferenciada aos atletas, ele quer iniciar um ciclo de palestras por todo o país, para contar a sua história pessoal e profissional. Nessas palestras vai levar um livro que lançou no ano passado, escrito pelo jornalista catarinense Renan Koerich com o título “Savio, dribles certeiros de uma carreira de sucesso”.

O próprio Renan Koerich, na apresentação do livro, diz que não o escreveu para apenas contar a história de sucesso de um menino com a bola nos pés. “Todo brasileiro algum dia sonhou em ser um jogador de futebol, um ídolo e, ainda por cima, poder olhar para frente, após a carreira, com ambições e novos sonhos”. Igual ao Sávio, neste momento, pelos campinhos do Brasil, muitos meninos batem uma bola pela primeira vez…

AS EMPRESAS

BORTOLINI PATRIMONIAL

A empresa gerencia todos os imóveis construídos, alugados e de utilização própria. Hoje já somam mais de 20 deles, em Florianópolis, Rio de Janeiro e Vila Velha.

BORTOLINI FINANÇAS

Essa empresa cuida das aplicações financeiras dentro de um leque de opções de longo prazo e de forma segura.

SAVIO SOCCER

A empresa nasceu da vontade de Savio em compartilhar com outros jogadores e atletas a sua experiência de 18 anos de carreira, com foco no profissional, familiar e financeiro.

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