Setor hoteleiro investirá R$ 40 bi em dez anos

Para atender a demanda, que cresce com a economia, mercado terá de dobrar o número de quartos na próxima década

A nova onda de crescimento da hotelaria brasileira vai exigir investimentos de R$ 40 bilhões nos próximos dez anos, só para atender a demanda impulsionada pelo crescimento da economia. O número de novos quartos em operação deve passar de 7,7 mil, em 2010, para 36,6 mil em 2020, de acordo com estimativas da consultoria HotelInvest, feitas a pedido do Estado.

A recuperação do mercado hoteleiro no Brasil começou a se delinear no fim de 2009, mas como o ciclo de desenvolvimento desse setor é de três a quatro anos, os reflexos só começam a aparecer agora, de forma ainda bastante modesta. Em 2011, 39 projetos de novos hotéis sairão do papel, segundo a HotelInvest, que representa no Brasil a consultoria HVS Global, especializada no setor e presente em 23 países. A partir do ano que vem, esse número vai praticamente dobrar, chegando a 183 novos empreendimentos em 2020.

Quem não é do setor costuma relacionar esse novo momento da hotelaria aos megaeventos esportivos como Copa do Mundo e Olimpíadas. "Mas esse é um equívoco", diz Diogo Canteras, diretor presidente da consultoria. "A indústria não vai construir hotel para a Copa, e sim para a cidade." A relação mais forte que existe entre os eventos e a retomada do setor, segundo ele, é uma nova linha de crédito do BNDES no valor de R$ 1 bilhão para reforma, ampliação e construção de novos empreendimentos, que integra o pacote de ações do governo federal para a Copa do Mundo. "O prazo já está muito apertado e quem não fizer hotel agora não consegue inaugurar antes dos jogos", explica Cristiano Vasques, sócio da HotelInvest.

São Paulo. Um bom retrato de que o mercado voltou de fato a se movimentar é a cidade de São Paulo. Desde 2008, a capital paulista não tem um hotel sequer em desenvolvimento. Mas, com base nos projetos que já estão sob análise da Prefeitura, a expectativa é de que já em 2012, seis empreendimentos passem definitivamente à etapa de construção.

Mesmo assim, os negócios no setor hoteleiro paulistano devem ter uma trajetória menos agressiva do que no restante do País. Por dois motivos: os investidores estão de olho em cidades de porte médio, que terão cada vez mais viajantes de negócios, e na classe C que, com uma renda melhor, está se dando ao luxo de viajar a turismo pelo País.

O ritmo mais lento do mercado paulistano também está relacionado à última crise enfrentada pelo setor, em que a euforia para se investir em flats culminou com uma superoferta de quartos e na consequente queda da rentabilidade desses empreendimentos. Foi um fenômeno que atingiu praticamente todo o País, mas afetou São Paulo com mais intensidade.

"É um cenário muito mais positivo e sustentável do que a última onda da hotelaria, que aconteceu entre as décadas no fim da década de 90", diz Canteras. "E, embora não tenhamos dados históricos daquela época, é possível dizer que essa nova fase será até três vezes melhor para o setor."

Investidores. Ao contrário do que aconteceu entre 1999 e 2003, agora os investidores parecem mais cautelosos em relação ao mercado. "Era um grupo formado principalmente por profissionais liberais. Agora, temos fundos de private equity e mecanismos de investimento como os fundos imobiliários, que exigem uma profissionalização maior do setor", explica Vasques.

Desde o fim do ano passado, as principais administradoras de hotéis iniciaram uma corrida para anunciar projetos e atrair a atenção de investidores. Hoje com 144 hotéis no Brasil, o grupo francês Accor pretende colocar em operação 71 novos empreendimentos até 2013, que vão exigir investimentos de R$ 1,2 bilhão. Quase 80% dos novos hotéis são voltados para o segmento econômico. Com isso, a marca Mercure, padrão quatro estrelas, deixará de ser a mais representativa em número de hotéis, dando lugar à Ibis. Outra estratégia do grupo é a expansão da marca Formule 1 por meio de franquias, em cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. O projeto prevê a construção de 100 hotéis, ao custo de R$ 500 milhões. O segmento econômico também está no radar da Brazil Hospitality Group (BHG), da GP Investimentos. A rede pretende criar 2,5 mil quartos por ano até 2015, com investimentos de R$ 300 milhões
 

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