Rafael dos Santos

Deixar o país de origem e partir para uma viagem de trabalho e ou estudos no exterior, apesar de ser a meta de tantos jovens, pode ser uma experiência recheada de desafios. Que o diga Rafael dos Santos que, aos 21 anos, em 2002, deixou o pai pescador e a mãe costureira em Itajaí (SC) e a graduação em São Paulo para viver em Londres. Na mala, a ideia de trabalhar na sua área de estudos, pro­gramação. “Mas fui lavador de prato, catador de copo, fiz faxinas e ainda não falava bem o inglês. Comecei a me sentir sozinho, sentia nostalgias e desencontros com a cultura. Mas não queria voltar porque as coisas ficaram di­fíceis, não queria este fracasso, e fiz de tudo para continuar e aperfeiçoar o inglês”, conta.

A experiência de Rafael lhe rendeu, na Europa, a criação do site Room in the Moon em março deste ano. Funciona como uma rede social especial para quem está mudando de país. Através dele, brasileiros que planejam a mudança, por exemplo, conhecem pessoas em Londres para trocar ideias e informação do lugar, além de conquistar algo valioso para quem vai morar no exterior: um amigo. Os cadastrados são incentivados a postar textos sobre os lugares, características e cultura da cidade. Você escreve sobre o Brasil, por exem­plo, e lê sobre Londres. Até agora, a platafor­ma tem 5 mil membros de 15 países, e Rafael ainda criou uma promoção: quem tiver pos­tado mais textos até o final do ano vai ganhar uma viagem de graça para qualquer lugar do mundo. Além da passagem e estadia, ela ainda terá 300 mil libras para gastar. Por enquanto, o site registra de três ou quatro novas postagens a cada 11 minutos.

O site também vai oferecer, em breve, um sistema de gestão de viagem que vai ajudar a definir tarefas e deadlines da preparação da viagem, como data para passagens, documen­tos, roteiros ou dicas de viagem. Por enquan­to, a participação maior é de brasileiros que estão indo para os Estados Unidos ou Lon­dres. Nesse país, no entanto, o perfil mudou: o trabalho de estudantes estrangeiros não é mais aceito em Londres. A participação nas viagens agora é da classe média alta.

Até conseguir preparar o site, no entanto, Rafael se esforçou ao extremo. Sua vida na Eu­ropa começou a melhorar três meses depois dele chegar, quando conseguiu um emprego de professor assistente na escola de inglês que estudava. À noite, trabalhava como garçom para pagar suas viagens pela Europa. Conhe­ceu o primeiro companheiro e logo abraçou outra oportunidade: as donas da casa em que Felipe alugava um quarto resolveram ir embo­ra e ele assumiu a gerência dos aluguéis dos cinco quartos. Em 2011, Rafael já gerenciava 50 propriedades e 25 apartamentos de um quarto para temporada. Mas o ano seguinte foi de recessão, pouca gente chegando a Lon­dres, e Felipe fechou todos os apartamentos de um quarto enquanto ingressou em um curso de incubadora de negócios.

Foi neste curso que Rafael entendeu o que fazia em Londres: além de oferecer alu­guéis, ele sempre auxiliou na acomodação do novato. Providenciava contas de banco, chips de celular, mapas, apontava lugares e dava orientações. Durante a incubação, ele es­creveu o livro “Mudando de País – Um passo de cada vez ”, que explica diferentes fases da mudança: a decisão de para onde, quando e porque ir morar fora ou as pesquisas práticas, como orçamento, vistos, trajetos e tempo.

A parte emocional é uma das mais delicadas “pouca gente está realmente preparado, quando embarca para uma viajem destas. Você muda já ao entrar no avião. Deixa de ser quem era, suas referências e parte para o novo. É um grande autoconhecimento, feito de muitos sentimentos fortes”, avalia Rafael, que em um período, lembra, andava extrema­mente emotivo, sensível e chorava por pouca coisa. “Nestes momentos, poder contar com um amigo ou alguém de confiança ajuda mui­to. Só que fazer amigos em cidade grande e nova é difícil, são todos meio desconfiados, a solidão é grande”, conta. Escrevendo o livro, ele procurou por algo que unisse diferentes pessoas que estivessem se mudando para a mesma cidade, e não encontrou. Foi quando decidiu criar o Room in the Moon.

Só que concretizar a ideia foi “um parto de elefante”, nas palavras de Rafael. Em junho do ano passado, contratou uma empresa para lhe entregar o site pronto em três meses, mas eles passaram do prazo. Tirou o trabalho da agência e se inscreveu em uma competição no Google Campus, um prédio para startups se encontrarem para palestras, reuniões e eventos. Pela competição, oito programado­res e designers desenvolviam a startup de sex­ta a domingo. No seu time Felipe conheceu o novo sócio, amigo e quem depois criou o site: Mario Altimari. O Room in The Moon foi lançado em março de 2014.

Desde que começou a lidar com os imó­veis, Rafael foi se especializando em gestão, aproveitando cursos gratuitos e se inscreven­do em centenas de projetos de aceleração, como o Key Person of Influence (KPI), no qual desenvolveu o livro. Depois, conseguiu parti­cipar com a Room in the Moon do programa de startups da Virgin, um dos conglomerados mais ricos da Inglaterra. Foram escolhidos como a startup da semana em junho deste ano, e conseguiram o empréstimo de R$ 7,5 mil libras, recurso utilizado para aperfeiçoar o site. No momento, Rafael mora nos Estados Unidos, em Louisville Kentucky. Todos os dias ele anda 25 minutos de bicicleta até Jefferson­ville, Indiana, atravessando a ponte para che­gar aos encontros do programa de aceleração da Velocity Accelerator, que está oferecendo o investimento de US$ 15 mil em dinheiro com a contrapartida de posse de 4% da empresa. A inscrição para o programa do governo ameri­cano foi pela internet, e eles contam com três horas diárias de consultoria por sete semanas.

Agora, falta Rafael decidir se continua nos Estados Unidos ou volta a Londres ao lado de seu noivo. O casamento está marcado para maio do próximo ano, na Europa. “Uma das coisas que mais gosto de fazer é quando tira­mos uns dias e vamos até a casa dele no Sul da França para recarregar as baterias.”

 Room in the Moon

Fundação: 16 abril 2013

Sede: Londres

Funcionários: 3 em período integral e 3 estagiários

Faturamento: 30 mil no primeiro ano

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