Vinicius Roveda

A ContaAzul lançou, há dois anos, um software baseado na nuvem que organiza a gestão financeira de micro e pequenas empresas. Com acesso gratuito por tempo limitado, 250 mil empreendedores já utilizaram o produto e 23 mil são assinantes mensais. A plataforma registra mais de 48 milhões de reais em transações financeiras, recebeu prêmios e constantes investimentos. A proposta é facilitar os trâmites burocráticos e legais. “Nossos concorrentes são a Tilibra – usamos muito menos papel – e a Microsoft – dispensamos o Excel”, diz Vinicius Roveda, natural de Soledade, no Rio Grande do Sul e morador de Joinville, Santa Catarina, desde a adolescência.

Formado em Ciências da Computação, Roveda tinha como sonho profissional justamente criar um software de gestão empresarial, a exemplos de gigantes da cidade, como a antiga Datasul ou a atual NeoGrid, que atende clientes como Renault e Betanin. Entre 2008 e 2011, foi o que ele tentou fazer com a empresa então chamada Agil ERB – numa trajetória na qual tudo deu errado antes de as soluções e os empresários se encontrarem. “Nos primeiros anos, ainda tínhamos um produto mais simples, mais bruto, e não alcançávamos o mercado”, lembra Roveda. Eles chegaram a abrir revendas em todos os Estados, o que não deu resultados porque os vendedores preferiam trabalhar com produtos com maior margem de lucro. “Isso foi em 2011, e já estava pensando em desistir, procurar outra coisa para fazer. Tinha deixado o emprego, o salário certo e bom. No final, só faltou eu vender o carro. Hoje sei que cada capítulo desta história me deixou mais forte”, conta o empresário.

founders-02

A solução chegou por acaso e na hora certa. Em setembro daquele ano, Roveda e o sócio ficaram sabendo de um evento em São Paulo de uma aceleradora americana do Vale do Silício e decidiram “ver o que era aquilo”. Participaram do encontro, mostraram seu projeto, foram selecionados e participaram de um intensivo de meses sobre gestão e reformulação da marca, nos Estados Unidos além de receberem o investimento de 50 mil dólares. Em troca, os investidores ficaram com 5% da empresa. O produto ganhou modelo de negócio revigorado, designer moderno e intuitivo e forte interação com os clientes. As técnicas de marketing on-line, atendimento por chat, e-mail ou telefone mantêm a relação da empresa com o mercado.

A reformulação toda iniciada nos Estados Unidos também deixou claro o modelo de serviços oferecidos: “Queremos harmonizar as relações dos empresários com diferentes atores que participam do seu dia a dia financeiro: governo, contador, cliente e fornecedor”, resume. Na relação com o governo, por exemplo, facilitam ao máximo a emissão de Nota Fiscal. O contador ganha uma importante fonte de dados. “O empresário acha difícil e trabalhoso separar todos os papéis e informações solicitadas pelo contador, às vezes até desconfia. Mas o contador precisa das informações, documentos e controle financeiro para orientar melhor seu cliente. Com nossa solução existe a integração dos dados com o banco, o que facilita muito o registro e controle de gastos e receitas”, explica. Na relação com o fornecedor, a gestão do estoque e o controle de contas a pagar também estão integradas ao banco e problemas como multas e juros são bem amenizados. “O controle de tudo que entra e sai de dinheiro deve ser feito todos os dias. Nunca dia sim dia não ou até uma vez por semana. Fazer isso manualmente, além de organizar deveres burocráticos e financeiros exige um tempo muito precioso do empresário, que deve estar investindo nas relações que mais fazem sentido para ele: com os clientes e investidores.”

Neste caminho, a tecnologia é fundamental. “Você precisa ter muito bem claro o que vai oferecer e o que o usuário quer encontrar para conseguir uma comunicação cada vez mais efetiva. Ninguém precisa de curso para entender o Facebook, isso porque ele consegue um diálogo eficaz e intuitivo, o mesmo que buscamos. O designer para nós foi essencial.”

Nesta visão, os empresários decidiram conhecer melhor seus clientes. Neste ano, fizeram uma pesquisa prontamente respondida por 5.130 empresas de todo País. Com dados regionais, o relatório mostra 59,4% dos empreendedores são motivados pela satisfação e reconhecimento do cliente, 20,8% pelo fato de trabalharem com o que gostam e apenas 15,6% motivam-se pelo lucro. Além disso, na região Sul, 71,8% das empresas possuem até cinco pessoas envolvidas. A pesquisa aponta ainda que 75% das companhias não possuem uma pessoa responsável pela área financeira, ela é um serviço a mais de alguém. “Eles trabalham com uma equipe pequena, quando não sozinhos, e sendo uma área delicada, acaba relegada. Precisamos facilitar o trabalho burocrático e deixar o empreendedor ter tempo de agir com os clientes e traçar estratégias e não perder preciosas horas diárias tentando organizar o caixa”, diz Roveda.

A forma como Roveda encaminha o diálogo com os seus clientes é clara, dinâmica e atenciosa. Na sua visão, a equipe sempre solícita e de alto astral para conversar com os empresários por telefone ou internet é um dos grandes diferenciais da Conta Azul. “Somos todos jovens, acreditamos que estamos contribuindo para o desenvolvimento de centenas de pessoas, de empresas e da economia”, diz ele. Mais da metade da equipe de 100 pessoas é formada por engenheiros e gerentes de produto, mas 20% são os encantadores de clientes, como é chamado o setor de relação com os microempresários. “Queremos fazer ele dizer ‘uau!’. Vamos fazer de tudo para ajudá-lo a solucionar sua dificuldade na gestão financeira. Nossos encantadores falam sorrindo. Para nós, o que importa é a qualidade do atendimento, não se foram cinco ou dez por dia. Os empresários avaliam este atendimento, e a média tem sido acima de nove.”

Nestes dois anos, a Conta Azul recebeu vários prêmios e investimentos. Em 2014, foi eleita uma das 10 empresas mais inovadoras da América Latina pela publicação norte-americana Fast Company. Em 2013, foi considerada a melhor startup B2B pela The Next Web (importante publicação europeia sobre startups), mesmo periódico que a elegeu como detentora do melhor aplicativo web brasileiro em 2002.

Além da rodada de investimentos de 2012, participa continuamente da captação de aportes financeiros. Sem relevar números ou detalhes, Roveda comenta que já foram feitas pelo menos três rodadas e mais uma está por vir. Parcerias feitas com organizações como Monashees Capital, Ribbit Capital, Valar Ventures, 500Startups e Napkn Ventures. O ContaAzul é comercializado como SaaS (Software como Serviço), o que dispensa custos com treinamentos ou licenças. O uso é gratuito por duas semanas, e depois a mensalidade varia entre R$ 29 e R$ 199.

RAIO-X:

Vinicius Roveda
Idade: 39 anos
Cidade natal: Soledade (RS)
Formação: Ciências da Computação

ContaAzul
Fundação: Janeiro de 2012
Sede: Joinville (SC)
Funcionários: 100

 

Facebook
Twitter
LinkedIn