A alta nos preços dos alimentos estará no centro dos debates da reunião do G8, de hoje (7) a quarta-feira (9) na Ilha de Hokkaido, no Japão. O tema não estava previsto na pauta inicial do encontro anual de líderes dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França. Alemanha. Itália, Japão e Rússia. Foi imposto pelas circunstâncias e acabou ganhando prioridade diante do fracasso da Conferência de Alto Nível da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), realizada no mês passado em Roma.
A expectativa é de que o seleto clube dos ricos consiga estabelecer consenso sobre medidas de médio e longo prazos para combater a inflação dos alimentos e garantir segurança alimentar tanto em países pobres quanto nas nações desenvolvidas.
A decisão japonesa de incluir a crise mundial de alimentos nos debates do G8 foi anunciada durante a 13ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), em abril. Na ocasião, como presidente de turno do G8, o Japão inclusive pediu a cooperação da Organização das Nações Unidas e do Banco Mundial. A disposição de dar prioridade à crise alimentar na cúpula de Hokkaido foi reiterada na Conferência da FAO, que se propunha a identificar causas e soluções para a disparada nos preços dos alimentos.
Na abertura da reunião de Roma, o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, ressaltou que a hora era de ações concretas, não mais de debates. "O problema da insegurança alimentar é político", concluiu Diouf. Apesar disso, depois de três dias de discussões, os 180 países presentes se limitaram a declarar boas intenções e assumir o compromisso genérico de acabar com a fome no mundo e assumir a segurança alimentar como política nacional permanente. O anúncio de ações objetivas foi empurrado para o colo dos países mais industrializados do mundo, que formam o G8 com a Rússia.
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Em seu discurso na FAO, o primeiro-ministro do Japão, Yasuo Fukuda, deu o tom de como serão as discussões no âmbito do G8. "Continuamos nossa dependência de combustíveis fósseis sem refletir sobre nosso estilo de vida de produção em massa, consumo em massa e lixo em massa, além da crescente emissão de gases de efeito estufa", afirmou.
Fukuda clamou por medidas urgentes para aliviar a fome e apoiar as safras de 2008 e 2009 e revelou que o governo japonês está disposto a colocar no mercado internacional, num futuro próximo, mais de 300 toneladas de arroz importado e estocado.
"Gostaria de fazer um chamado para que outros países liberem seus estoques para devolvermos algum equilíbrio ao mercado internacional de alimentos, que anda muito aquecido", disse o primeiro-ministro japonês.
Ele também pediu aos demais países que limitem suas políticas de restrições às exportações agrícolas – como a sobretaxação de exportações de grãos determinada pelo governo argentino para assegurar o abastecimento doméstico.
"Se a situação atual do mercado de alimentos é resultado da especulação e de outros fatores não relacionados à demanda real, é imperativo que demonstremos força política para monitorar estes fatores", frisou Fukuda, sinalizando o apelo que o Japão fará aos demais membros do G8 na presidência rotativa do grupo.
"Vamos nos comprometer com amplas discussões sobre mercados, comércio, desenvolvimento, mudanças climáticas e energia – que são, na verdade, os fatores que estão por trás da elevação dos preços dos alimentos -, e traduzir isso em ação", assegurou.