Por séculos, a Suíça foi o local preferido de ditadores, empresários e milionários para depositar dinheiro. Conhecida por sua neutralidade em guerras e sua estabilidade, o país se transformou no cofre forte de um terço da fortuna mundial. Agora, porém, o país atravessa uma crise quase psicológica. Nesta terça-feira, 6, o maior banco da Suíça – o UBS – anunciou que demitiria 5,5 mil funcionários e que pela primeira vez em uma década, clientes estavam retirando dinheiro das contas. Enquanto isso, a seguradora Swiss RE, a maior resseguradora do mundo, anunciava uma queda de mais de 53% de seus lucros.
As informações divulgadas nesta terça são apenas parte de uma série de más notícias que afetam o mercado financeiro suíço. O próprio UBS já havia admitido perdas bilionárias com a crise no mercado de créditos. O Credit Suisse também divulgou perdas.
Nesta terça, os novos dados apontam que os problemas continuam para o UBS. No total, o banco já perdeu em 2008 US$ 17,3 bilhões em sua unidade de investimentos. Os clientes ainda retiraram de seus fundos e divisões de gerenciamento de fortunas cerca de US$ 12,2 bilhões. Em termos líquidos, as perdas chegaram a US$ 10,9 bilhões em 2008 e mais de US$ 38 bilhões desde o início da crise.
A demissão de 7% de seus trabalhadores representa um verdadeiro terremoto para os suíços, acostumados com uma total estabilidade e bancos que crescem a taxas recordes todos os anos. Segundo o banco, as demissões economizarão quase US$ 3 bilhões por ano. Mas cresce a avaliação por economistas de que algumas das operações do banco nos últimos meses quase levaram o UBS à falência.
Não por acaso, as ações do UBS perderam mais de 5% ontem, enquanto clientes retiravam ainda mais dinheiro de suas contas durante o dia. No total, os maiores bancos do mundo já demitiram 48 mil funcionários por causa da crise, somando US$ 319 bilhões em prejuízos.
No caso do UBS, a empresa perdeu mais de 50% de seu valor em doze meses, seu ex-presidente Marcel Ospel foi removido e fundos de Cingapura e do Oriente Médio socorreram o banco. A idéia de ter de ser ajudada por árabes e asiáticos feriu o orgulho dos suíços, acostumados com a auto-suficiência, principalmente com seus bancos.
Para tentar driblar a crise e voltar a crescer, a Associação de Bancos da Suíça promoverá neste ano um plano estratégico para permitir que as instituições voltem a conquistar clientes e, principalmente, a confiança construída durante anos de ser o local mais seguro do mundo para depositar dinheiro. *Nosso setor não está em crise e estamos provando que podemos nos recapitalizar com facilidade*, garantiu o presidente da Associação, Pierre Mirabaud, dono de um banco com seu próprio nome.
Gestapo
Mas a crise é ainda acompanhada de um verdadeiro ataque aos bancos suíços por parte dos governos europeus, que os acusam de ser conivente com a lavagem de dinheiro e evasão fiscal. Os cidadãos europeus teriam quase US$ 1 trilhão depositados nos bancos suíços.
Há dois meses, o governo alemão revelou que obteve dados das contas de mais de cem de seus cidadãos em Liechteinstein. Mirabaud foi rápido em afirmar que Berlim estaria usando métodos da Gestapo (a polícia secreta do regime Nazista), mas foi obrigado a engolir seu orgulho e se desculpar pela comparação algumas semanas depois. Os suíços são acusados de terem ajudado a Gestapo a preservar parte do ouro que os nazistas roubaram dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.