O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez uma defesa veemente do sistema de metas de inflação nesta segunda-feira, 4. Segundo ele, o atual cenário global de alta dos preços poderia ser amenizado com a adoção do regime em mais países. "No atual contexto global, creio que o regime de metas poderá contribuir efetivamente para restabelecer níveis de inflação baixa e estável".
A respeito do regime de metas no Brasil, o presidente do BC repetiu trecho da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e disse que o BC vai atuar de forma vigorosa para "reverter as pressões inflacionárias e trazer a inflação de volta para a meta central de 4,5% já em 2009".
O mercado financeiro aposta que o Banco Central vai manter a política de aperto do juro até o fim do ano, para tentar controlar a inflação, mostrou pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 4. A estimativa para a inflação "oficial" do País em 2008 sofreu uma leve redução, passando de 6,58% para 6,54%. Ainda assim, a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se mantém acima do teto da meta.
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No levantamento semanal feito pelo Banco Central, os analistas consultados elevaram para 14,5% a estimativa para a Selic – taxa básica de juros – ao final do ano, ante 14,25% na semana passada.
Meirelles classificou como "precipitadas e equivocadas" as discussões a respeito do futuro do regime de metas. Segundo ele, esse questionamento foi deflagrado com a alta da inflação global gerada pela pressão das commodities internacionais e "evidentes descompassos entre o ritmo de crescimento da demanda e da oferta em diversos países".
Para Meirelles, as metas têm se mostrado "bastante resilientes e eficazes". Na avaliação de Meirelles, a situação é exatamente contrária à avaliação feita por alguns economistas. Para ele, esse sistema é "particularmente apropriado para lidar com episódios de aceleração inflacionária".
Meirelles participa do X Seminário Anual de Metas para Inflação do Banco Central do Brasil, que acontece no Rio.
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Câmbio
Meirelles reforçou o apoio ao sistema de câmbio flutuante adotado no Brasil. "Em menos de 10 anos de flutuação cambial, nossos indicadores de solvência externa atingiram níveis compatíveis com a classificação de risco de grau de investimento", disse durante o seminário que comemora os 10 anos do regime de metas de inflação.
Segundo ele, os benefícios do câmbio flutuante não estão na avaliação de que o mercado financeiro está sempre correto. "Não se trata de adotar a tese de que os mercados estão sempre certos, mas simplesmente ter humildade para reconhecer que, na determinação da taxa de câmbio, a ação impessoal de um grande número de agentes econômicos tem gerado resultados superiores aos alcançados por políticas centralizadoras", afirmou.
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Política monetária
O presidente do BC afirmou que a sociedade amadureceu nos últimos anos e que a avaliação a respeito do comportamento da economia mudou. "Felizmente, a sociedade amadureceu muito nos últimos anos, e se foram as crenças de que qualquer aceleração da atividade, ainda que as expensas do agravamento de desequilíbrios, é positiva. Bem como de que qualquer desaceleração da atividade, mesmo que voltada à correção de desequilíbrios, é negativa", afirmou.
Meirelles lembrou que a contribuição da política monetária à economia é oferecer condições para preservar o ambiente de estabilidade e previsibilidade. Isso, segundo ele, favorece o planejamento das famílias e empresas, o que, em última instância, ajuda o crescimento da economia.
O presidente do BC também afirmou que a história recente mostra que a política "de ajuste fino da demanda, que supostamente visa preservar a todo o momento e em todas as circunstâncias um ritmo mínimo de atividade econômica" é "equivocada e extremamente custosa". Essa estratégia foi qualificada por Meirelles como a de construir "ilhas de prosperidade" na economia.
O presidente do BC comentou também que é preciso admitir que existem limites na política monetária. Segundo ele, os juros podem buscar a preservação do equilíbrio interno de países como o Brasil que tem metas para a inflação. Ele lembrou que não é possível mirar dois objetivos, como a inflação e o câmbio, ao mesmo tempo. "No regime de metas, a taxa de juros deve ser desonerada da função de promover o equilíbrio do balanço de pagamentos, sendo essa função exercida com muito mais eficiência pela taxa de câmbio", afirmou.