O aumento do número de investidores de varejo no mercado acionário brasileiro terá de ser acompanhado com mais atenção pelas corretoras de valores. A afirmação é do ombudsman do mercado, Joubert Rovai, que ontem apresentou relatório com dados, reclamações e as principais dúvidas dos investidores pessoa física durante o ano passado. No período, houve 2.729 demandas, número 75% superior às 1.554 apresentadas no ano anterior. Dessas, 1.014 foram pedidos de informação e outras 829, reclamações. "As dúvidas demonstram que grande parte desses investidores está chegando à bolsa. Suas perguntas clássicas referem-se às corretoras: indicação sobre sua escolha, solidez e como devem proceder se um desses prestadores de serviço quebrar", detalhou Rovai.
O executivo explicou, ainda, que a maior competição entre as corretoras trouxe à tona alguns tipos de reclamação. Em 2007, o volume negociado em home broker – sistema que permite aos clientes negociar ações por meio de um terminal de computador – aumentou 153%, para R$ 15,2 bilhões. Um das causas de insatisfação de clientes foi a dificuldade em migrar recursos de uma corretora para outra. Segundo a análise do ombudsman, o período ideal para liquidar esse tipo de operação fica entre três e seis dias. No entanto, houve registros de corretoras que chegaram a demorar cerca de 30 dias para fazê-lo. "Algumas delas querem que o cliente reconheça sua firma em cartório no documento que formaliza a transferência do dinheiro", afirmou.
O número de queixas relativas à demora em transferir recursos, isoladamente, aumentaram 124% no ano passado. Segurança da informação Para o ombudsman, a expansão do varejo obrigará o mercado a melhorar seus mecanismos de auto-regulação. Isso deve acontecer para adequar parâmetros de segurança da informação. Uma das sugestões de Rovai é que as corretoras passem a ser obrigadas a adotar sistemas de gravação dos diálogos com seus clientes. "Atualmente, esse método é adotado pelas mesas de operação que concentram os grandes clientes. A Espanha adota o sistema para o varejo. Não seria necessário pedir à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para passar a utilizá-lo no Brasil", projeta.
Outra preocupação com que trabalha o ombudsman é a atividade agente autônomo de mercado. Esses profissionais são responsáveis pela captação de clientes para as corretoras. Cada vez mais, são utilizados por esses prestadores de serviços, como estratégia para expansão nacional. "Esse agente não pode ser confundido com um administrador de carteiras, o que acaba acontecendo muitas vezes", lamentou Rovai. "As reclamações que se referem à atuação desses agentes são originadas por perda de patrimônio dos clientes", disse Rovai. A sugestão do ombudsman para tentar reduzir os impactos desse problema é que clientes levados às corretoras por agentes autônomos fiquem limitados a atuar no mercado à vista. "Por cautela, achamos que eles não devem ter acesso ao uso das opções e derivativos", afirmou Rovai.