Se nos Estados Unidos a falta de áreas agricultáveis é um problema, a situação é diferente no Brasil, avaliou o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Cotta. O plantio de milho em áreas antes destinadas à soja e trigo nos Estados Unidos é apontado por ele como um dos fatores de alta dos preços dos alimentos no mercado mundial. No Brasil, argumenta ele, a situação é diferente, já que áreas degradadas de pastagens podem ser incorporadas ao processo produtivo, sem impacto ambiental.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, cerca de 200 milhões de hectares são ocupados com pastagem hoje no Brasil, sendo que, desse total, entre 50 milhões e 60 milhões de hectares estão degradados. Os produtores brasileiros cultivaram 46,7 milhões de hectares com lavouras de grãos na safra de verão, mostra a mais recente estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2007/08. Outros 6 milhões de hectares são ocupados com cana-de-açúcar. "Mesmo que, no longo prazo, a área ocupada com cana dobrasse, ou seja, chegasse a 12 milhões de hectares, não haveria impacto para a produção de alimentos, já que há espaço disponível. O impacto para o meio ambiente seria mínimo", disse.
Esse raciocínio também foi defendido pelo representante permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), José Antonio Marcondes de Carvalho, durante a 30º Confederação Regional da FAO, que acontece nesta semana em Brasília. "O País tem disponibilidade de terras, de tecnologia, crescentes níveis de produtividade na agricultura e programas de inclusão social que dão condições de estar na vanguarda neste setor", afirmou.
Ontem, o relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, afirmou que o "etanol é um crime à humanidade", numa defesa à produção de alimentos em detrimento dos biocombustíveis. A França, por sua vez, propôs restrições ao combustível, como forma de incentivar a produção de alimentos e limitar os impactos inflacionários.
Para o superintendente técnico da CNA, a alta dos preços das commodities (produtos básicos, como alguns alimentos) no mercado internacional é favorável ao Brasil. "Não fosse esse cenário de melhora de preços no mercado internacional por causa do etanol, os produtores brasileiros estariam enfrentando uma crise mais grave ainda", afirmou. Ele lembrou que os custos de produção, influenciados pelo aumento dos preços dos fertilizantes no mercado internacional, e as dificuldades de logística têm impacto direto no faturamento do campo.