Os preços do café arábica no mercado interno do Brasil subiram cerca de 90 reais por saca desde o início do ano, mas poucos produtores vão tirar completo proveito desses ganhos no físico, pois grande parte da safra foi comercializada até o fim de 2010, afirmaram representantes de cooperativas.
Embora a maioria dos cafeicultores tenha também vendido durante a escalada de preços no ano passado –capitalizando algum lucro–, somente 10 a 20 por cento da produção de 2010/11 ainda está disponível para ser vendida nos níveis atuais, segundo as cooperativas.
A saca do café tipo 6, bebida dura para melhor, posto em São Paulo, superou pela primeira vez a marca de 500 reais na terça-feira, segundo indicador do Cepea apurado desde setembro de 1996, acompanhando o mercado internacional que repercute a baixa oferta de café de qualidade e a firme demanda.
Os melhores lotes de cafés finos, semi-lavados, chegaram a ser negociados por até 600 reais, segundo corretores.
"Já vendeu praticamente 90 por cento do café, somente 10 por cento vai aproveitar esse preço", afirmou Álvaro Pereira Coli, gerente de comercialização da Cocarive, no Sul de Minas.
"É em torno de 20 por cento (o que restou a ser comercializado) na nossa região e acredito nisso também para o Brasil", acrescentou Alexandre Silveira Pádua, responsável pela comercialização da Cooparaiso, que atua em uma área de produção de 4,2 milhões de sacas, também em Minas Gerais, o maior produtor brasileiro de café.
Os produtores dizem ainda que a alta histórica do café não será completamente capitalizada na nova safra (2011/2012), considerando que o Brasil está neste ano no período de baixa do ciclo bianual do arábica.
Neste ano de baixa, a produção deverá cair cerca de 15 por cento na comparação com a safra anterior, segundo apontam números do governo e do setor privado.
"O que pega pela frente é o seguinte: com a bianualiade (negativa) este ano, a produção é menor… O produtor hoje põe na ponta do lápis 500 reais e vê que não existe dificuldade de preço. O que existe é dificuldade em relação à produção", destacou Pádua, da Cooparaiso.
Segundo ele, em algumas lavouras a queda na produção no ano de baixa pode chegar a 50 por cento, o que afeta fortemente a rentabilidade do produtor, visto que os custos de produção impactam mais a atividade em um período de colheita menor.
As incertezas maiores que envolvem uma safra de baixa também limitarão os ganhos dos agricultores, pois muitos são obrigados a adotar uma cautela extra nas vendas antecipadas, disse Pádua, temendo não ter o produto para entregar.
POUCAS VENDAS
Segundo os representantes das cooperativas, que negaram informações de corretores de que os produtores estão pressionando os compradores para uma renegociação de acordos já realizados a preços menores, quem ainda tem café diante de um cenário altista agora está retendo as vendas.
"O pessoal está segurando, vendendo muito pouquinho, e esperando um pouco. O prejuízo se arrastou por muito anos, e ele quer tentar dar uma recuperada", comentou Coli, da Cocarive, referindo-se ao longo período de preços baixos que o setor amargou.
Já o superintendente comercial da Cooxupé, Lúcio Dias, disse que se há queixa agora de que o produtor está segurando vendas, isso ocorre em função da produção insuficiente para atender a forte demanda e pelos estoques baixos.
"Tem muita gente falando que o produtor não está vendendo, mas o produtor já vendeu a safra. O resto do estoque está nas mãos de pequenos produtores … ou então de grandes empresários, que só vão vender quando acharem que o negócio está bom", disse Dias, da maior cooperativa de café do mundo.