Apenas um terço de toda produção agropecuária do Brasil é consumida pela classe C. A conclusão é de um estudo divulgado ontem pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
De acordo com a presidente da entidade, senadora Kátia Abreu (PSD-TO), o potencial de consumo da classe C não está sendo aproveitado.
"A classe média, em tese, deveria representar metade do consumo [agropecuário], já que ela representa metade da população. As políticas públicas precisam ser direcionadas para que essa classe se fortaleça e consuma em paz, sem endividamento", afirmou a senadora.
Segundo ela, o país tem potencial para aumentar a produção de carnes e grãos, porém isso tem que ser feito de forma planejada, em equilíbrio com a capacidade de consumo das famílias, especialmente da classe C, que é onde está "o grande potencial de consumo".
NOVA CLASSE C
A pesquisa separou a classe média brasileira em três subgrupos de acordo com critérios como renda, religião, preferências políticas e nível de escolaridade: a classe C tradicional (41%), a nova classe C+ (39%) e a nova classe C- (20%).
A principal distinção observada entre os subgrupos do estudo é o nível de satisfação com a vida.
Enquanto a tradicional e a C+ reportam sentimentos de esperança e alegria, a C-, com menor renda e menor escolaridade, permanece preocupada e decepcionada, segundo o estudo.
A classe C- corresponde a 20% do segmento e é onde estão os principais problemas. A pesquisa mostra que essa classe ascendeu socialmente, mas ainda tem uma série de dificuldades, inclusive em termos profissionais.
"Esse grupo é menos escolarizado e por isso aproveita menos as oportunidades criadas nos últimos anos. Eles precisam se habilitar", afirmou Kátia Abreu.
O levantamento destacou também que, apesar do incremento do poder aquisitivo, os brasileiros de classe média continuam endividados –28% do total constam no cadastro de inadimplentes do SPC/Serasa e, desse total, 33% são da nova classe C-.
As dificuldades financeiras, entretanto, não impedem que 46% dos entrevistados possuam cartão de crédito e consigam comprar bens de consumo antes inacessíveis. Entre os entrevistados, 40% já têm automóvel.
A CNA ouviu 2.000 pessoas acima de 16 anos e com renda familiar mensal entre R$ 1.200 e R$ 5.200 reais (aproximadamente 2,5 a 9,5 salários mínimos). As entrevistas foram feitas entre os dias 16 e 24 de outubro.