A decisão do governo de intervir no mercado de arroz e suspender a exportação do cereal para suprir a demanda interna foi duramente criticada pelo superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Cotta. Segundo ele, o arroz não tem expressão em termos de exportação, mas a decisão do governo pode abrir um precedente para que outras exportações do setor agrícola também sejam limitadas. "Agora é o arroz, depois é o milho e, em seguida, a carne de frango. Ninguém sabe onde essa idéia vai parar", afirmou ele, lembrando que o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, já sinalizou que está avaliando a evolução do mercado de milho, um dos produtos que tem ganhado expressão no mercado internacional.
Conforme Cotta, no caso do arroz, há pouco volume excedente para exportação, o que não acontece no milho, cujas exportação devem alcançar 10 milhões de toneladas este ano. Para o superintendente da CNA, as declarações do ministro podem ser "um tiro no pé" ou um balde de água fria, cujo impacto negativo será observado no plantio da próxima safra. "Ninguém vai querer plantar em um cenário de instabilidade", garantiu ele.
A CNA argumenta que o atual cenário externo de alta de preço dos alimentos é favorável ao Brasil porque o País tem condições de incrementar sua produção e os volumes exportados. "Somos contra qualquer tipo de intervenção", ressaltou. "Uma reposta do mercado ao aumento da demanda é resultado do aumento de preço", disse ele, ao explicar que, se o preço dos alimentos sobe, o produtor investe mais e produz mais. Conseqüentemente, há um equilíbrio entre oferta e demanda.
Com relação à decisão do governo de barrar a exportação de arroz, Cotta salientou que não está claro para os produtores como será feito o controle da exportação, se é por meio de um imposto ou da não emissão de certificados fitossanitários para exportação.
Cotta e outros representantes dos produtores participarão na tarde de hoje de uma reunião no Ministério da Agricultura para definir como será feita a venda de parte dos estoque de arroz do governo. O tema específico da reunião é o mercado de arroz, mas eles devem aproveitar o encontro para questionar o governo sobre a possibilidade de intervenção no mercado exportador de grãos.