Em maio, a indústria paulista incrementou sua força de trabalho em apenas 0,35%, na comparação com abril, o que significa 8 mil novas vagas. Considerando o ajuste sazonal, a alta é de 0,06%, de acordo com pesquisa do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) divulgada na última terça-feira (17).
O resultado não é tão positivo quanto parece. Em abril, na comparação com março, o aumento foi de 2,75%, o que representa um aumento de 62 mil vagas. Considerando o ajuste sazonal, a alta havia sido de 1,04%.
A desaceleração no ritmo de crescimento protagonizada pela indústria é um indicativo de que o consumidor está gastando mais com alimentos e menos com bens industriais, mas, sem fazer alarde, o gerente do Departamento de Economia da Fiesp, André Rebelo, deu a entender que não há nada demais nessa situação.
Situação deve ser normalizada
"É um movimento mundial. O mundo está crescendo e essa população cada vez maior no mercado consumidor de alimentos leva a um aumento nos preços dos mesmos. Acho que isso é bom, porque atrai novos empresários para o setor ou os empresários que já trabalham com alimentos irão aumentar suas ofertas, de maneira que a demanda passará a ser atendida", explicou.
De acordo com Rebelo, a indústria está crescendo a um ritmo bem menor do que antes, mas não é ruim. "O impulso que a economia tinha no ano passado não é o mesmo neste primeiro trimestre", analisou.
Além disso, segundo ele, o direcionamento do consumidor a alimentos é um fenômeno natural, de mercado. "Não existe um culpado. Simplesmente o preço dos alimentos subiu, mas o salário das pessoas continuou igual, de maneira que não sobra dinheiro".
Rebelo sublinhou que a indústria vai crescer mais devagar, mas não vai parar de crescer. "Lógico que na análise de curto prazo os indicadores não são positivos, e ninguém sabe quanto tempo essa inflação irá persistir, já que é difícil precisar qual será a velocidade de crescimento da China daqui para frente".
Selic
Rebelo explicou ainda que o aumento da Selic (a taxa básica de juros) não afeta os preços dos alimentos diretamente. "A taxa não muda o preço da soja no mercado mundial, por exemplo". No entanto, ela reduz a irradiação da inflação para os demais preços da economia, dos produtos ofertados pelos demais setores.
Sobre a possibilidade de um aumento da Selic prejudicar a atividade industrial, ele avaliou que, de fato, existe esse risco. "Há uma queda na demanda, o que pode causar desaceleração na produção industrial, mas não está claro em que direção a economia brasileira está indo".