Apesar dos brasileiros terem o costume de olhar mais para o valor da prestação do que para os juros que estão pagando em uma compra parcelada, os consumidores começam a ficar mais atentos às formas de financiamento que podem valer mais a pena. A constatação é do economista Elder Linton Alves de Araújo, ao analisar os números do Banco Central.
Na avaliação dele, a elevação dos juros em janeiro, em conseqüência do aumento de 0,38% do Imposto sobre Operações Financeiras e de outras taxas bancárias, deixou os consumidores mais atentos: “Se de um lado olha-se a prestação para ver se cabe, por outro o consumidor começa a comparar as diversas modalidades de crédito. Se houver bancos concorrentes oferecendo créditos similares, o tomador tenderia a procurar aquele de custo menor.”
Araújo afirma que isso pode ser demonstrado pela estabilidade da taxa de inadimplência, que ficou na média de 4,5% em 2007, e pelo crescimento moderado de novas concessões de crédito. “Parece-me que as pessoas estão pegando crédito para cobrir dívidas anteriores, que estavam atrasadas ou mais caras, e isso mantém a inadimplência mais ou menos estável”, avalia.
Já o vice-presidente Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer, acha que os brasileiros continuam olhando apenas para a parcela que cabe no bolso: “Deveriam estar mais atentos ao que pagam de acréscimo de juros, mas isso faz parte de uma educação financeira que vem com o tempo.”
Para Elder Araújo, o aumento dos juros do crédito não deve frear a expansão dos financiamentos no país e ainda há espaço para crescimento, embora "num ritmo um pouco mais lento”. O volume de créditos corresponde, atualmente, a 34,8% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país) e o economista lembra que ainda é baixo, comparado a outras economias, "onde o percentual pode chegar a 70% do PIB".
Ele alerta, no entanto, para o alto grau de endividamento dos consumidores: "O problema da expansão do crédito seria uma inadimplência forte. E aí, mesmo com taxa de juros menor, eles não conseguiriam ter acesso ao crédito ou mesmo honrar os compromissos anteriores."
O vice-presidente da Anefac também alerta para o comprometimento da renda da população: "Qualquer turbulência, como uma doença ou despesa inesperada, que perturbe a renda de quem tomou o crédito, pode aumentar a inadimplência." Para evitar uma paralisação na oferta de crédito, com um nível de inadimplência elevado, Araújo aconselha que os consumidores evitem fazer dívidas acima da capacidade de pagamento. E que os bancos não emprestem dinheiro sem garantia, cuidando do cadastro dos clientes.
Para Storfer, além do aumento do IOF e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CLSS), o aumento dos juros do crédito foi causado pelo medo das instituições financeiras de que a inflação e a taxa básica de juros (Selic) também tenham reajuste positivo. “Estão tomando uma ação preventiva para que não tenham margem de lucro prejudicada por eventuais subidas de inflação e da taxa básica”, afirma.