O ritmo de crescimento da economia chinesa desacelerou para 9% no terceiro trimestre de 2008 em relação a igual período de 2007, o menor patamar em cinco anos, em razão da crise financeira internacional e da política monetária restritiva em vigor até o mês passado. Depois de crescer 12% em 2007, o país caminha para fechar o ano com expansão em torno de 9%, índice semelhante ao registrado em 2002. Nos nove primeiros meses de 2008, o PIB teve aumento de 9,9% em relação a igual período do ano passado. Para 2009, os analistas estimam uma alta próxima de 8%.
A China é o maior comprador de minério de ferro e soja exportados pelo Brasil e está prestes a substituir a Argentina no posto de segundo maior mercado para as vendas brasileiras ao exterior. Com crescimento menor, a China vai reduzir a demanda por matérias-primas para sua indústria, o que vai afetar as exportações do Brasil. O período julho-setembro foi o quinto trimestre consecutivo de desaceleração do crescimento chinês, afetado pela queda na demanda norte-americana e por problemas domésticos. Os 9% de expansão representam uma queda de 1,1 ponto percentual em relação ao ritmo de 10,1% registrado no segundo trimestre de 2008.
A alta da inflação na primeira metade do ano levou o Banco do Povo da China a aumentar a taxa de juros e a reduzir o volume de dinheiro à disposição dos bancos para concessão de empréstimos. Além da restrição ao crédito, os exportadores enfrentaram a valorização do yuan em relação ao dólar e o aumento dos custos trabalhistas decorrente da Lei do Contrato de Trabalho, que entrou em vigor em janeiro. A cotação da moeda chinesa teve alta de 6,5% em 2007 e de 6,8% em 2008.
Com o agravamento da crise financeira global em setembro, o banco central mudou sua política e já realizou dois cortes nos juros. Tudo indica que a taxa cairá ainda mais nos próximos meses, o que será acompanhado de uma série de estímulos fiscais para evitar a desaceleração acentuada da economia. A apreciação do yuan também foi abandonada e a moeda está estável desde julho.
Em reunião realizada no fim de semana, o Conselho de Estado chefiado pelo primeiro-ministro Wen Jiabao decidiu reduzir a tributação de exportadores de setores intensivos em mão-de-obra, como brinquedos, têxteis e calçados. Concentradas no Sul do país, essas empresas enfrentam dificuldades desde o início do ano e milhares já deixaram de funcionar. O caso mais recente foi o de duas fábricas de brinquedos que fecharam as portas na semana passada e deixaram 6.500 pessoas desempregadas.
O governo também vai aumentar os investimentos em infra-estrutura, na área social e nas regiões atingidas por desastres naturais, entre as quais a província de Sichuan, local do mais devastador terremoto da China em 32 anos.
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Li Xiaochao, porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, afirmou que o impacto da crise originada no setor imobiliário dos Estados Unidos é bem maior que o esperado inicialmente pelo governo chinês.
A queda da inflação para 4,6% em setembro vai facilitar o relaxamento da política monetária, com expansão do crédito para as empresas. O índice de preços está em queda desde maio, quando foi de 7,7%, mas acumula alta de 7% no ano, bem acima da meta de 4,8% fixada pelo governo. Segundo Li Xiaochao, a China tem espaço para estimular a demanda interna, com aumento de investimentos e do consumo, para contrabalançar a queda nas exportações.
Os embarques chineses para outros países somaram US$ 1,074 trilhão nos primeiros nove meses do ano, com crescimento de 22,3% em relação a igual período do ano passado. O ritmo de expansão foi 4,8 ponto percentual inferior ao obtido entre janeiro e setembro de 2007, quando as exportações cresceram 27,1%.
Apesar da desaceleração da economia, consumo e investimentos registraram fortes altas nos últimos meses. As vendas no varejo subiram 22% nos três primeiros trimestre de 2008, 6,1 ponto percentual acima do crescimento registrado em igual período do ano passado. Os investimentos aumentaram 27% no mesmo período, 1,3 ponto percentual acima do índice de expansão dos primeiros nove meses de 2007. Roberto Dumas Damas, representante do Itaú BBA em Xangai, acredita que os investimentos vão sentir o impacto da crise e desacelerar nos próximos meses.
Na avaliação de Li Xiaochao, a crise financeira global também terá impacto direto sobre o volume de Investimento Estrangeiro Direto (IED), que nos três trimestres de 2008 somaram US$ 74,4 bilhões, valor próximo dos US$ 78,3 bilhões registrados em todo o ano passado. Os efeitos da crise já ficaram evidentes no mês passado, quando a China recebeu US$ 6,64 bilhões em IED, abaixo da média mensal de US$ 8,3 bilhões registrada desde o início do ano.