Nenhum país no mundo que tenha índices de educação básica deficientes como os do Brasil tem uma indústria tão competitiva, diversificada e tecnologicamente avançada como a nacional. O diferencial brasileiro em relação a esses países é a educação profissional voltada para a indústria, feita pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que capacita mão-de-obra para atender as diferentes necessidades do setor. A constatação foi feita hoje pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, na sessão solene do Senado em homenagem aos 200 anos da indústria.
"Há algum exemplo no mundo que se pareça com o nosso? Como explicar que num ambiente com uma educação de índices tão vexatórios haja uma indústria de classe mundial como a brasileira?", indagou. "É por conta do Serviço Social da Indústria (SESI), na educação básica, e do SENAI, na educação profissional, que fizeram, ao longo de décadas, um trabalho focado nas necessidades da indústria, acompanhando as transformações da economia", avaliou Monteiro Neto.
O senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA) concordou que não se pode pensar no desenvolvimento produtivo sem educação profissional. "Desde sempre a mão-de-obra foi uma questão de difícil solução para a indústria. E foi por isso que a CNI criou, em 1942, o SENAI. Hoje no Pará a principal atividade industrial é a mineração, que se utiliza somente de trabalhadores oriundos do SENAI, que forma mais de 20 mil operários por ano no Estado", informou Ribeiro.
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César Borges (PR/BA) lembrou que a Ford Motors só pôde instalar uma fábrica na Bahia porque o SENAI local tem um centro de formação modelo. "Tanto a Ford quanto o pólo petroquímico de Camaçari, por exemplo, precisam de gente capacitada, especializada no setor para se desenvolver", afirmou, durante o pronunciamento na sessão solene, que também comemorou os 70 anos da CNI.
O ex-ministro da Educação Cristovam Buarque, senador pelo PDT do Distrito Federal, disse que o próximo grande salto da indústria brasileira será alcançar a "indústria do conhecimento". "A indústria do conhecimento é aquela em que temos engenheiros, projetistas, desenhistas criando os produtos, desenvolvendo novos métodos e processos, não apenas a indústria que monta o que é projetado lá fora", disse. "Se o Brasil não fizer isso, vai ficar para trás", decretou. Segundo ele, a única maneira de chegar lá é por meio da educação, tanto básica quanto profissional.
Crescimento econômico
O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, afirmou que, além de qualificar a educação, é preciso melhorar o ambiente de negócios no Brasil. "Temos uma carga tributária disfuncional, problemas de infra-estrutura, má qualidade do gasto público, questões de regulação a serem solucionadas, além da educação deficiente. Precisamos solucionar essas questões para atrair investimentos e perpetuar esse forte ritmo de crescimento econômico", disse.
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O senador Adelmir Santana (DEM/DF) sublinhou que as questões mencionadas por Monteiro Neto estão todas na pauta do Congresso Nacional e necessitam ser avaliadas com urgência. "Todos esses temas constam da Agenda Legislativa da Indústria, que é uma agenda não só do setor, mas do Brasil, e precisam ser solucionados rapidamente para continuarmos a crescer", afirmou.
Francisco Dornelles, senador pelo PP do Rio de Janeiro, salientou que a burocracia no Brasil é impeditiva à criação de empreendimentos. "Temos de aprovar a reforma tributária para diminuir essa burocracia e também os custos de se investir no Brasil. Acho que há condições para fazer isso este ano", disse.
Diploma
O Senado criou o Diploma José Ermírio de Moraes, que será entregue todos os anos a empresários ou empresas que tenham prestado relevante contribuição ao crescimento e desenvolvimento econômico e social do Brasil. O Grupo Votorantim, que se tornou um dos maiores conglomerados industriais na gestão de José Ermírio de Moraes, foi representado hoje pelo presidente do conselho de administração, Carlos Antonio de Moraes, neto de José Ermírio.



