por Mônica Pupo
Exemplo de como é possível agregar o conceito gourmet a um produto regional, e sazonal, vem de uma empresa de Itajaí (SC), que transforma as ovas da tainha – peixe abundante na região – em uma iguaria disputadíssima, principalmente no mercado estrangeiro. Fabricado a partir da ova de tainha salgada e desidratada, o produto permite diversas combinações culinárias e é muito apreciado na Europa, onde ficou conhecido como o caviar do mediterrâneo”.
“A nossa ova de tainha é considerada uma das mais saborosas do mundo, pois por aqui o peixe passa mais tempo no mar, o que garante menos gordura e mais sabor”, atesta Sérgio Arins, diretor de produção da Caviar Brasil Alimentos, pioneira na fabricação da iguaria no Brasil.
Capturada somente nos meses de maio e junho na costa catarinense, a tainha brasileira é considerada uma das melhores do mundo. “Aqui o peixe é encontrado no mar e não na água doce, como ocorre em outras partes do mundo. Assim, quando o capturamos em Santa Catarina, após ter saído da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, ele já teve tempo de perder bastante gordura , o que se reflete positivamente no sabor suave do pescado e das ovas”, completa o empresário. Além do sabor único, o alimento possui baixas calorias e excelentes propriedades nutritivas, com a presença de ômega 3, cálcio, ferro e proteínas.
A ideia de investir na iguaria surgiu em 2009, após a crise que abalou principalmente os Estados Unidos e a Europa, mas resvalou na economia de todo o planeta. “Estávamos em plena safra de tainha no Brasil e tínhamos produzido naquele ano em torno de 50 mil quilos de ovas frescas congeladas para exportação”, re-lembra Cassiano Fuck, sócio da empresa. Mas, com a queda brusca no preço do dó-lar, que passou de R$ 2,05 para R$ 1,68, a operação foi inviabilizada.
Com o estoque em mãos, a dupla de empresários decidiu iniciar a produção da bottarga, que desde então tem conquistado o público especializado, incluindo chefs de cozinha e consumidores gourmets.Atualmente, além de ser exportada para a Itália, França, Espanha, Grécia, Japão e China, a Bottarga Gold ainda pode ser encontrada em diversos empórios, delicatessen e restaurantes de norte a sul do Brasil. O ingrediente também marca presença no cardápio de renomados restaurantes, a exemplo do La Madonnina, Terraço Itália e Fasano, em São Paulo. Quem também não dispensa a iguaria é a chef Renata Sudbrack, do Rio de Janeiro, especialista em cozinha contemporânea.
Com um volume de processamento anual de mais de 3 toneladas de ovas de tainha, a Bottarga Gold apresenta em sua linha de produtos variedades de bottargas inteiras em embalagens de 100 e 200 gramas, bottarga em pedaços de 50 gramas – com ou sem cera de abelha –, além de versões raladas e granuladas do produto.
Disposta a inserir a iguaria no cardápio dos brasileiros, a empresa lança mão de diversas estratégias, incluindo o lançamento recente de uma embalagem de 50 gramas, quantia ideal para facilitar a experimentação e incentivar as diversas possibilidades culinárias da bottarga, que incluem desde o consumo fatiado como aperitivo com pão e azeite, incorporado como ingrediente nas tradicionais massas italianas, bem como complemento em risotos, peixes e saladas. As embalagens buscam comunicar os atributos ao consumidor, associando o produto à pesca e fornecendo receitas e explicações detalhadas sobre o ingrediente.
Para complementar as ações de comunicação, a empresa também investe na produção de um canal no YouTube, que reúne diversas videorreceitas elaboradas por chefs de Santa Catarina. “Nosso objetivo é posicionar o produto como uma autêntica iguaria brasileira, acessível a todo tipo de consumidor”, explica o diretor de marketing da empresa, Murilo Bristot. Com os investimentos em marketing e o crescimento do mercado gourmet, as expectativas da empresa incluem crescimento de 100% ao ano. “Identificamos o segmento mais com a máxima ‘ninguém retrocede no sabor’, pois quem já experimentou um produto de qualidade sempre vai em busca de mais qualidade e novidades”, reflete Cassiano.